Vitamina D e coronavírus: entenda em quais casos o suplemento é indicado
A vitamina possui papel importante na imunidade, mas não previne a doença. Entenda que cuidados devem ser tomados com o suplemento e com a exposição ao sol.
Enquanto a vacina para o novo coronavírus segue sendo estudada e testada em pequena escala, pesquisadores investigam formas de prevenir e ajudar no tratamento da doença. Um dos achados recentes foi divulgado por cientistas da Universidade de Turim, na Itália. O estudo, publicado na quarta-feira (25), avalia os efeitos da vitamina D no combate ao vírus.
Bastou o estudo circular um pouco para que muitos pais corressem para as farmácias atrás deste suplemento, mas é necessário cautela. Vamos explicar.
A investigação italiana em questão, conduzida pelos professores de geriatria Giancarlo Isaia e de histologia Enzo Medico, aponta a vitamina D não como cura, mas como uma ferramenta útil para reduzir o agravamento da infecção. “Com base em inúmeras evidências científicas e considerações epidemiológicas, parece que a obtenção de níveis plasmáticos adequados de vitamina D é necessária antes de tudo para prevenir as inúmeras patologias crônicas que podem reduzir a expectativa de vida em idosos, mas também para determinar uma maior resistência à infecção Covid-19 que, embora com menos evidências científicas, pode ser considerada plausível”, diz o artigo.
Os autores sugerem aos médicos que, além das conhecidas medidas de prevenção, sejam garantidos níveis adequados de vitamina D na população – sempre sob supervisão de especialistas. O documento afirma que a recomendação é “particularmente significativa para aqueles que já estão infectados, seus familiares, profissionais de saúde, idosos frágeis, hóspedes de casas de repouso, mulheres grávidas, pessoas em regime de isolamento e todos aqueles que, por várias razões, não se expõem adequadamente à luz solar”.
Outro estudo, “Evidências de que a suplementação de vitamina D poderia reduzir o risco de infecções e mortes por influenza e Covid-19”, revisado na segunda-feira (30), reafirma o papel significativo da vitamina D no sistema imunológico. Ele traz exemplos de como o suplemento ajudou no tratamento de outras doenças anteriores, como a causada pelo vírus da gripe. “A vitamina D possui muitos mecanismos pelos quais reduz o risco de infecção e morte microbiana”, confirma a publicação, de autoria de William B. Grant, diretor do Sunlight, Nutrition, and Health Research Center, e colaboradores.
Apesar dos achados acadêmicos, muitas evidências ainda estão em investigação. A maioria diz respeito à resposta positiva da vitamina D para reduzir o risco de infecções em pacientes diagnosticados com o novo coronavírus. Portanto, suas contribuições são muito mais significativas para evitar que os quadros se agravem. Mas e para as famílias que procuram fortalecer a imunidade dos pequenos diante da pandemia? A suplementação com vitamina é indicada?
A Vitamina D e as crianças
O primeiro ponto a ser destacado é que: sim, a vitamina D possui papel importante no sistema imunológico, mas ela não previne que a pessoa contraia o vírus. Nas próprias diretrizes sanitárias do Ministério da Saúde, atualizadas em 13 de março, este ponto é destacado. “Não existe vitamina, terapia alternativa ou remédio licenciado capaz de evitar o contágio ou tratar a doença”, diz o tópico.
Se ainda sim os pais optarem pelo suplemento, a administração exige alguns cuidados. De acordo com Adriana Garófolo, coordenadora de Nutrição do GRAACC, “estudos apontam que em torno de 15% das crianças possuem deficiência de vitamina D – dados que podem variar dependendo do país”. No entanto, a suplementação vitamínica só deve ser feita nos pequenos que de fato comprovem a carência. E isso só é detectado por meio de exames laboratoriais solicitados por um médico ou nutricionista, junto com uma avaliação individual do histórico do paciente.
“Sem saber se a criança possui deficiência ou não, o uso de suplementos não é indicado. Porque o excesso de vitamina D no sangue pode levar à toxicidade, dependendo da dosagem”, afirma a nutricionista. “Na realidade, qualquer suplementação sem necessidade pode gerar toxicidade, o que acarreta no aumento do risco de outras doenças e complicações, por sobrecarregar outras áreas do organismo”, complementa ela.
Dra. Flávia Oliveira, pediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria, concorda que uma avaliação global deve ser priorizada. “A reposição de vitamina D deve ser pensada como um todo na infância. Dependendo da faixa etária, da história individual e da família – de onde moram e em que frequência se expõem ao sol, por exemplo – o pediatra irá tomar a decisão individual”, afirma. Porém, tranquiliza os pais sobre as fórmulas vendidas em farmácias. “O composto será perigoso apenas se ingerido em uma dose alta. A hipervitaminose acontece mais em casos de manipulação da vitamina D”, acrescenta.
Melhor apostar na alimentação balanceada
No geral, para cuidar da imunidade das crianças nesta época, Adriana recomenda que os pais invistam em uma alimentação saudável para os filhos e, se tiverem alguma dúvida sobre as concentrações de vitamina D, realizem uma consulta de rotina com o profissional da área. “Existem alguns alimentos mais ricos em vitamina D, como a gema do ovo, alguns peixes mais gordurosos e alguns derivados de leite” explica ela. Flávia acrescenta que os adultos devem ficar atentos também ao consumo aumentado de sódio, de alimentos ultraprocessados e de açúcar, por exemplo, que são prejudiciais ao sistema imunológico.
Junto com a dieta balanceada, a nutricionista ainda ressalta o papel das fibras no combate a algumas doenças. “Dados na literatura mostram resultados positivos nas infecções do trato respiratório quando melhoramos os microrganismos da flora intestinal. Alimentos como aveia, iogurte, frutas e fibras de forma geral irão “alimentar” os bichinhos da flora intestinal. Estando equilibrada com os probióticos, eles terão uma ação protetora contra infecções de forma geral, em especial as virais”, acrescenta.
É indicado tomar sol?
Neste período de isolamento social, em que os baixinhos ficam a maior parte do tempo em casa, uma das preocupações que pode surgir nos adultos é sobre a pouca exposição ao sol – frequentemente associada aos níveis de vitamina D.
Antes de tudo, é importante saber que muitas variáveis estão envolvidas, inclusive o lugar onde a família mora .“Em relação aos índices da vitamina no organismo, a maioria da população está no limite inferior ou abaixo, principalmente nas grandes metrópoles. Devido à quantidade de poluição no ar, há uma incidência diferente do raio solar, o que prejudica a conversão em vitamina D”, esclarece Flávia.
Ainda segundo a pediatra, “o filtro solar diminui a conversão cutânea da vitamina D”. Assim, para que haja a síntese da vitamina de forma mais protegida – mesmo que sem o protetor solar -, “o ideal é que a exposição aconteça antes das 10h e depois das 16h, horários seguros do ponto de vista da pele. E por pouco tempo: de 10 a 15 minutos, dependendo da área exposta, ou até extendendo um pouco, se não for em horário de pico”, acrescenta a especialista.
Por: Flávia Antunes
Fonte: cientistas da Universidade de Turim, na Itália
Giancarlo Isaia, professores de geriatria
Enzo, Medico de histologia
William B. Grant, diretor do Sunlight, Nutrition, and Health Research Center, e colaboradores
Adriana Garófolo, coordenadora de Nutrição do GRAACC
Transcrito: https://bebe.abril.com.br/familia/vitamina-d-e-coronavirus-entenda-em-quais-casos-o-suplemento-e-indicado/