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Temperos alterados: estudo revela fraudes em páprica, cúrcuma e colorífico

Você não iria temperar sua comida favorita com insetos e milho, não é mesmo? Mas possivelmente já tenha feito isso, principalmente se compra temperos em São Paulo. Pesquisas conduzidas pelo Instituto Adolfo Lutz, o IAL, apontaram a presença de ingredientes não listados e fragmentos de insetos em diversas especiarias, o que caracteriza fraude e falha nas boas práticas.

Entre alguns dos temperos analisados estão páprica, cúrcuma, noz-moscada e colorífico, que foram recolhidos em cidades paulistas.

Entre as análises das amostras recolhidas pela vigilância sanitária em anos distintos entre 2017 e 2019 e enviadas para estudo, o ingrediente mais encontrado na cúrcuma e na noz-moscada foi o milho e o amido de milho, principais elementos não rotulados e que caracterizam fraudes nos temperos. A páprica apontou ter o mesmo padrão de adulteração, constatado em outro estudo.

Páprica apresentou milho na composição e ingrediente não estava listado no rótulo – Foto:( Reprodução/Internet )

“Um orégano que possui outros tipos de folhas não pode ser vendido como orégano, e sim como condimento à base de orégano. O consumidor tem direito de saber o que está comprando. Uma canela que contém 30% de amido não pode ser considerada canela”, afirma Alexandre Novachi, diretor de assuntos científicos e regulatórios da Abia (Associação Brasileira de Indústria de Alimentos).

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Veja abaixo as principais adulterações e corpos estranhos encontrados nos temperos:

– Páprica: 30% das amostras estavam adulteradas. Amido de milho estava presente em 85% da quantia fraudada e em 46% delas havia urucum e milho.

– Cúrcuma: 81% das amostras continham fragmentos de insetos e 30,3% das amostras estavam adulteradas com vegetais não informados nos ingredientes.

– Noz-moscada: 10% das amostras tinham vegetais não relacionados ao produto e não listados no rótulo, 11 amostras tinham quantidade acima da permitida de fragmentos de insetos, com 168 “pedaços” por amostra.

– Colorífico: único produto sem adulteração, mas com grande variação do corante bixina, substância derivada do urucuzeiro e que dá a cor ao tempero.

Fonte: Instituto Adolfo Lutz – IAL

Por que fraudar?

Fraudar esses temperos não é exatamente uma novidade. No passado, quando esses condimentos atravessavam o Atlântico e eram comercializados a preço de ouro, a adulteração já estava presente.

“A importância das especiarias é histórica, desde o Império Romano. As fraudes em especiarias também acompanham essa trajetória, são históricas e, infelizmente, estão cada vez mais ocorrentes, sempre motivadas por ganho econômico”, diz Maria Marciano, diretora técnica e pesquisadora científica do Núcleo de Morfologia e Microscopia do Centro de Alimentos – Instituto Adolfo Lutz…
Os primeiros estudos sobre fraudes em especiarias no Brasil datam 1920, sendo o Adolfo Lutz, um dos pioneiros nesse tipo de análise.

Amido de milho e urucum identificados em análise de temperos Imagem: Núcleo de Morfologia e Microscopia/Centro de Alimentos/IAL

De acordo com Marciano, as especiarias são alvos de fraudes devido ao seu alto valor econômico, complexidade, limitação da sua produção e disponibilidade. A maior parte das especiarias é importada, originárias da China e da Índia.

As fraudes mais comuns ocorrem com a adição ou substituição parcial da matéria-prima principal por outros de menor valor, sendo amido de milho e mandioca os mais usados associados ao urucum, que confere cor aos alimentos. Não se pode afirmar onde ocorrem as fraudes, na origem ou no processamento e comércio.

Maria Marciano, diretora técnica e pesquisadora científica do Núcleo de Morfologia e Microscopia do Centro de Alimentos – Instituto Adolfo Lutz.

Mas “engrossar o caldo do tempero com milho” não fica impune, de acordo com Marciano. A prática é contra o Código de Defesa do Consumidor e as empresas recebem punições. “O lote é recolhido pela Vigilância Sanitária Municipal e os produtos são descartados. Há um prazo para se adequar e a Anvisa é notificada em caso de circulação nacional”, explica.

Fragmentos de insetos

Fragmentos de insetos encontrados em amostra de temperos Imagem: Núcleo de Morfologia e Microscopia/Centro de Alimentos/IAL

Quando se fala em matéria estranha, a maior incidência entre os temperos foram os fragmentos de insetos. Eles estavam presentes em 81% das amostras de cúrcuma e 93% das de noz-moscada. Em uma das alíquotas de cúrcuma, 380 fragmentos foram identificados —mais que o dobro do que é permitido.

Os números dessa “permissividade” variam, de acordo com o alimento analisado. Apesar de parecer nojento, no caso da noz-moscada é tolerado que se contenha até 80 fragmentos a cada 10 gramas analisados —acima disso é considerado falha de boas práticas. Se os fragmentos forem de insetos como baratas ou formiga, representa risco à saúde.

Quem determina este limite é o RDC, um conjunto de leis criado em 2014, e atualizado em 2022. Insetos inteiros ou que podem ser vetores de doenças, como baratas, podem caracterizar o produto como impróprio ao consumo. Mas vale dizer que boa parte encontrada nos temperados são de pragas do campo, que atacam as lavouras, e que se dentro do limite, não comprometem o alimento.

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Riscos para saúde do tempero adulterado

O risco para a saúde de se consumir um produto com excesso de insetos é um pouco maior, claro, por serem vetores de doenças. Quando a quantidade encontrada é considerada como arriscada à saúde humana, os lotes são recolhidos e a empresa responsável é punida.

No entanto, consumir produtos com ingredientes não listados no rótulo também traz riscos, com atenção especial para reações alérgicas.

“Em relação ao risco relacionado ao consumo de alimentos fraudados, não se pode medir, sendo intrínseco a cada indivíduo, dependendo do grau de sensibilidade e de fatores imunológicos. A doença celíaca e a sensibilidade ao glúten são preocupações relevantes, podendo provocar transtornos digestivos funcionais altamente desafiadores e, dependendo da sensibilidade, levar o indivíduo a óbito”, comenta Marciano.

Ruth Silva, nutricionista clínica da Hapvida NotreDame Intermédica, mestre em nutrição e saúde pela UECE (Universidade Estadual do Ceará), lembra que as especiarias podem ir além da cor e do sabor, sendo usadas por suas propriedades nutricionais e funcionais ao organismo.

“Porém, quando o produto está adulterado, a sua composição fica comprometida, não oferecendo as propriedades funcionais iguais a de um produto puro”, diz Silva.

Como identificar e evitar a compra de um tempero adulterado?

De acordo com os especialistas ouvidos, não há como identificar ou ter garantia de prevenção da fraude apenas olhando as especiarias a olho nu, mas eles deixam dicas que podem ajudar:

– Evite a compra de temperos moídos e vendidos a granel, pois, há risco maior de adulteração e contaminação;

– Desconfie de preços muito atrativos e abaixo da média do mercado;

– Preferira comprar produtos de marcas conhecidas

Por: Giacomo VicenzoDe VivaBem, em São Paulo

Fonte: Alexandre Novachi, diretor de assuntos científicos e regulatórios da Abia (Associação Brasileira de Indústria de Alimentos)

Maria Marciano, diretora técnica e pesquisadora científica do Núcleo de Morfologia e Microscopia do Centro de Alimentos – Instituto Adolfo Lutz…

Ruth Silva, nutricionista clínica da Hapvida NotreDame Intermédica, mestre em nutrição e saúde pela UECE (Universidade Estadual do Ceará)

Transcrito: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2023/12/20/pesquisa-revela-que-mais-de-30-de-temperos-que-compramos-sao-adulterados.htm

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