Síndrome metabólica: conjunto de doenças que inclui obesidade e resistência insulínica
Tratamento exige mudanças de hábitos, com reeducação alimentar, exercícios físicos, redução do estresse e cuidado com o sono
O sobrepeso é reconhecidamente um grande fator de risco para inúmeras doenças, em especial as cardiovasculares. As conseqüências do sobrepeso e da síndrome metabólica podem ser terríveis também para outros órgãos e tecidos: fígado (esteatose hepática), rim (nefropatia), olhos (retinopatia), gônadas (hipogonadismo), entre outros. Estudos recentes, como a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2018, mostram um cenário muito ruim no Brasil, onde a obesidade só aumenta.
Nos dados apresentados por esse estudo, houve aumento da prevalência da obesidade no Brasil de 67,8%, saindo de 11,8% em 2006 para 19,8% em 2018. Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil apresentava taxas estáveis da doença nos últimos três anos. Desde 2015, a prevalência de obesidade se manteve em 18,9%.
Junto da obesidade, normalmente faz-se o diagnóstico da síndrome metabólica (SM) que corresponde a um conjunto de doenças cuja base é definitivamente a resistência insulínica. Pela dificuldade de ação da insulina, decorrem as manifestações que podem fazer parte da síndrome. Os principais fatores de risco da SM são o sobrepeso, a obesidade e o sedentarismo. Por isso, o critério mais importante para o diagnóstico da SM é a cintura abdominal, que, segundo o novo guia da ABESO, deve ficar em no máximo 90 cm para os homens e 80 cm para as mulheres. Outros critérios também fazem parte da síndrome metabólica, sendo necessários dois para se fechar o diagnóstico. São eles: triglicérides ≥150 mg/dl ou tratamento; HDL <40mg/dl (homens) ou <50 mg/dl (mulheres); pressão arterial sistólica ≥130 ou pressão arterial diastólica ≥85mmHg ou tratamento; e glicemia de jejum ≥100 mg/dl ou diagnóstico prévio de diabetes.
Muitos profissionais da saúde ainda consideram o índice de massa corporal (IMC) fundamental para avaliação dos pacientes com sobrepeso. No entanto, outros métodos podem auxiliar o médico na individualização do paciente. Um exemplo é a bioimpedância ou impedanciometria elétrica, que baseia-se no fato de o corpo humano ser composto por água e íons condutores elétricos (o tecido adiposo impõe resistência à passagem da corrente elétrica ao passo que o tecido muscular esquelético, rico em água, é um bom condutor).
No exame de bioimpedância, uma corrente elétrica alternante de baixa intensidade é conduzida através do corpo. A impedância é calculada com base na composição de dois vetores: a resistência e a reatância. A resistência é a restrição ou a voltagem perdida na passagem da corrente elétrica através do corpo e depende da quantidade de água presente; já a reatância é outra força resistiva caracterizada pelo armazenamento da corrente durante a passagem pelas membranas e pelo meio intracelular. O exame deve ser realizado com jejum de pelo menos quatro horas, idealmente sem atividades físicas por 12 horas, com abstinência alcoólica por 24 horas, preferencialmente sem uso de diuréticos por 7 dias, e as mulheres devem realizar entre o 7º e 21°dia do ciclo menstrual. No entanto, para determinados grupos, outros métodos para avaliação corporal são preferíveis, como, por exemplo, o método de dobras e o ultrassom.
Como tratar a obesidade e o sobrepeso?
Primeiro, é fundamental entender que primeiro passo tratar o sobrepeso é procurar um médico, em especial o endocrinologista. Mudanças no estilo de vida, com alimentação balanceada e exercícios físicos, todos já sabemos que são as mais importantes. Mas outras mudanças podem trazer uma ajuda extra como, por exemplo, diminuir o estresse excessivo. O estresse causa hiperatividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, que leva a feedback negativo no núcleo paraventricular, levando a produção de endocanabinóides, que têm efeito no núcleo accumbens. Isso leva à busca de comida palatável (alimentos doces e calóricos), que tem propriedades de recompensa poderosas no sistema hedônico não homeostático, influenciando o comportamento e levando a maior acúmulo de gordura visceral.
Outro dado importante é ter um sono de qualidade, com mínimo de sete horas de sono. Privação do sono provoca diminuição da secreção de hormônios como leptina e TSH, aumento dos níveis de grelina e diminuição da tolerância à glicose em seres humanos, incluindo aumento da fome e do apetite. Estas mudanças são consistentes com a privação de sono crônica, levando ao aumento do risco de obesidade.
Vale lembrar que o tratamento da obesidade é multidisciplinar e a longo prazo. O médico pode receitar medicamentos, fitoterápicos e/ou suplementos para o tratamento do paciente em conjunto com uma dieta prescrita pelo nutricionista. Muitos tratamentos não têm sucesso pela baixa adesão dos pacientes, por isso, recomenda-se o tratamento acompanhado (consultas pelo menos mensais) para ajudar o paciente na sua trajetória. Muitas vezes também é necessário o acompanhamento do psicólogo ou psiquiatra, especialmente nos pacientes com transtorno alimentar. Lembrando que nem todo paciente obeso tem transtorno alimentar.
Porque o tratamento do sobrepeso deve ser individualizado?
O objetivo do tratamento é melhorar a saúde do paciente. Embora a perda de peso seja importante, não se deve ter o foco do tratamento na perda de peso corporal por si só. Reeducação alimentar, exercício físico e modificação comportamental (estresse e sono, por exemplo) devem ser incluídas em todo tratamento. Na presença de falência da intervenção na mudança de estilo de vida ou em pacientes com uma história prévia de falência com tentativas de dieta com restrição calórica e aumento de atividade física, o tratamento medicamentoso deve ser indicado na presença de sobrepeso associado a fatores de risco. Procure sempre o acompanhamento médico.
Por: Guilherme Renke
Fonte: Guilherme Renke,Endocrinologista Titular da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e Médico do Esporte Titular da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte
Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/post/2019/10/12/sindrome-metabolica-conjunto-de-doencas-que-inclui-obesidade-e-resistencia-insulinica.ghtml