Risco de obesidade infantil aumenta durante quarentena, saiba o que fazer
As mudanças bruscas na rotina afetaram a saúde dos pequenos, e podem levar a consequências de longo prazo no desenvolvimento infantil.
Apesar de ainda não haverem grandes estudos sobre o tema, é consenso entre os especialistas que a quarentena, apesar de necessária para conter a Covid-19, pode elevar o risco de sobrepeso e obesidade nas crianças. Mudanças na rotina e o impacto psicológico do confinamento são apontadas como as principais causas do problema.
Uma das primeiras pesquisas a avaliar o assunto na prática, publicada no periódico Obesity, acompanhou 41 crianças italianas com obesidade durante cerca de um mês.
Ao comparar o comportamento do grupo em relação ao mesmo período do ano passado, os cientistas descobriram que elas comiam em média uma refeição a mais por dia e aumentaram “dramaticamente” o consumo de bebidas açucaradas e alimentos ultraprocessados, como bolachas, salgadinhos e outros.
A endocrinologista pediátrica Luciana Cristante Izar, do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo/SP, enxerga cenário semelhante no Brasil e destaca alguns motivos para isso. “Os horários para a refeição estão mais confusos, aumentando as chances de beliscar entre as refeições”, comenta a médica.
Fora que, com os pais mais sobrecarregados do que nunca, é natural que não haja tempo para planejar as refeições. “Assim, muitas vezes os adultos deixam de cozinhar e optam por pratos práticos, como congelados, fast-foods e petiscos que são ricos em sódio, açúcar e gordura”, continua Luciana.
Ainda nesta seara, como as idas ao supermercado ficaram mais escassas, itens frescos e naturais, como frutas, legumes e verduras, tendem a acabar mais cedo em casa.
Prejuízos na saúde
Se antes havia uma impressão de que o isolamento era algo temporário, onde regras poderiam ser quebradas, hoje, no terceiro mês em casa, está mais claro que tantas “exceções” têm potencial efeito negativo na saúde infantil.
“O ganho de peso infantil pode não ser tão facilmente revertido depois, e contribuir com o risco de obesidade na vida adulta”, destacou em comunicado à imprensa Myles Faith, psicólogo da Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos, co-autor da pesquisa com as crianças italianas. Neste cenário, há maior probabilidade de desenvolver no futuro doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e males cardiovasculares.
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Fatores emocionais e comportamentais podem favorecer ganho de peso
Estresse, tédio, medo e ansiedade, sentimentos tão comuns durante esse período, influenciam nos hábitos alimentares. “A criança, assim como os adultos, pode usar a comida como válvula de escape, para preencher o vazio deixado pela escola, pelo convívio com os amigos e a família”, comenta Gabriela Kapim, nutricionista e autora do livro Socorro! Meu filho come mal (Editora Leya, 2014).
Por fim, o aumento do uso de telas tem dois efeitos no ganho do peso. O primeiro é direto, pois a tendência é passar mais tempo sentado do que se mexendo. “O sedentarismo reduz o metabolismo e o gasto energético, o que contribui para o ganho de peso”, destaca Luciana. O segundo, mais indireto, é que elas podem bagunçar o sono dos pequenos.
“Esse sono prejudicado aumenta o apetite e contribui para o ganho excessivo de peso”, completa Luciana.
Como saber se o ganho de peso é excessivo?
Por se tratar de uma situação super atípica, é natural que hajam flutuações no peso de crianças e adultos. Mas vale acompanhar a situação para detectar cedo aumentos relevantes, que ameacem a saúde infantil. Um jeito de fazer isso é monitorando o índice de massa corpórea (IMC) dos pequenos, que leva em conta peso e altura.
“Em caso de sobrepeso e, principalmente de obesidade, é importante que a criança seja avaliada pelo pediatra, endocrinologista ou nutricionista para realizar ajustes na alimentação, mesmo que com o auxílio da telemedicina”, destaca Luciana. O site do Hospital Sabará oferece uma calculadora de IMC infantil que facilita o cálculo, basta ter balança e fita métrica em casa.
Dicas para prevenir a obesidade infantil durante a quarentena
Como qualquer hábito alimentar estabelecido na primeira infância tende a se perpetuar, o ideal é agir logo e garantir, desde cedo, uma relação equilibrada com o prato. Veja algumas estratégias para melhorar esse relacionamento:
Seja exemplo. “Não dá para esperar que o filho não queira tomar refrigerante e goste de vegetais se esse não é o comportamento dos adultos”, sentencia Gabriela.
Tente manter horários regulares de alimentação e não pular refeições, em especial as principais – almoço, janta e café da manhã.
Reduza a oferta de doces, salgadinhos, sucos industrializados e companhia. A melhor maneira de fazer isso é não tendo esses alimentos em casa. Bons substitutos para os lanchinhos: pipoca, salada de frutas, castanhas, biscoitos sem recheio e sanduíches.
Quando a criança disser que está com fome no meio do dia, tente avaliar se é fome mesmo ou vontade de comer. Se as refeições estão sendo realizadas com regularidade e há o desejo por um item específico (geralmente, um snack), provavelmente não estamos diante de uma necessidade física.
Realize refeições principais completas, com todos os grupos de nutrientes: carboidratos, proteínas e gorduras. “Não adianta comer apenas macarrão com molho, a criança precisa de um prato completo, se não logo ficará com fome de novo”, destaca Gabriela. Tente privilegiar carboidratos integrais, legumes e verduras, que são fontes de fibras, nutriente que prolonga a sensação de saciedade.
Inclua a criança no preparo das refeições, do planejamento do cardápio à hora de cozinhar.
Se os maus hábitos alimentares já se instalaram, explique de maneira simples e direta, respeitando a idade da criança, que certos tipos de alimento podem fazer mal para a saúde e só devem ser consumidos eventualmente. “Mas a criança só entende isso se a regra for válida para toda a família”, pontua a nutricionista. A partir daí, realize reduções graduais, para evitar que o assunto vire outra fonte de estresse.
Estabeleça, com a participação do filho, limites e dias para o consumo de itens ultraprocessados. Por exemplo, no sábado o refrigerante pode estar liberado no jantar ou no almoço.
Por: Chloé Pinheiro
Fonte: Luciana Cristante Izar,endocrinologista pediátrica do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo/SP
Myles Faith, psicólogo da Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos
Transcrito: https://bebe.abril.com.br/alimentacao-infantil/risco-de-obesidade-infantil-aumenta-durante-quarentena-saiba-o-que-fazer/