Refrigerante zero faz mal ou dá celulite? Veja mitos e verdades
Especialistas respondem os principais mitos e verdades sobre a bebida “zero caloria”
Os refrigerantes zero surgiram originalmente para atender pessoas com condições que restringem o consumo de açúcar, como os diabéticos, e também como uma resposta à crescente preocupação com os impactos negativos do consumo excessivo de açúcar. Esses produtos são de baixo ou nenhum teor de calorias e açúcar, recorrendo a adoçantes artificiais, como aspartame ou sucralose, para substituição.
Bebida versão zero é alternativa pouco calórica nas dietas de perda ou manutenção de peso – Foto:(Reprodução/Internet)
Seu consumo tem aumentado, especialmente pela promessa de “zero calorias”. No Brasil, o mercado de bebidas dietéticas e de baixas calorias registrou um crescimento de 20,6% entre janeiro e setembro de 2023, em comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (Abiad).
Diante da popularização da bebida, muitas dúvidas surgiram acerca de seus efeitos. Com isso, o EU Atleta separou uma lista com os principais mitos e verdades sobre o refrigerante zero.
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1) Faz mal?
Depende. Se o consumo for ocasional e dentro de uma alimentação equilibrada, o refrigerante zero não é prejudicial. Eles oferecem a vantagem de não conter açúcar e terem menos calorias, mas não fornecem nutrientes essenciais e podem conter componentes que, em demasiado, fazem mal à saúde.
De acordo com o endocrinologista Roberto Zagury, os alimentos não devem ser totalmente eliminados, pois dependem da quantidade e da forma que são inseridos na dieta exceto em casos graves ou específicos de saúde. Para ele, é o excesso da bebida que pode fazer mal.
O estudo de 2024 publicado na revista Circulation: Arrhythmia and Electrophysiology, da Associação Americana do Coração, associou o consumo de bebidas adoçadas artificialmente com um risco 20% maior de desenvolver ritmo cardíaco irregular, conhecido como fibrilação atrial. A análise foi realizada entre pessoas de 37 a 73 anos que bebiam dois litros ou mais por semana.
A nutricionista Thais Ferreira cita os acidulantes, corantes, aromatizantes sintéticos ou naturais, conservantes, sódio e edulcorantes presentes na composição de refrigerantes zero como substâncias nocivas em potencial quando ingeridas em grandes quantidades.
2) Dá celulite?
Mito. O refrigerante não é o causador do acúmulo de gordura nas coxas, nos quadris, nas nádegas e na barriga. A celulite é desencadeada por uma série de fatores, como flacidez, problemas na circulação sanguínea, ingestão de alguns tipos de medicamentos e, sobretudo, pelo sobrepeso.
A bebida “zero caloria” não está associada ao surgimento de celulites por si só. O que realmente contribui para o surgimento das celulites é a combinação de hábitos alimentares desequilibrados e a falta de atividade física, além de outras questões específicas de saúde. O gás do refrigerante zero também não é o causador dos “furinhos”.
3) Tem açúcar?
Mito. Embora não contenham açúcar refinado das versões originais, os refrigerantes zero são adoçados com os edulcorantes, como aspartame ou sucralose. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) define os edulcorantes como “uma classe funcional de aditivos alimentares 1 que abarca as substâncias diferentes dos açúcares e que conferem sabor doce ao alimento”.
O consumo deve ser feito com moderação, mesmo não contendo açúcar. A Anvisa estabelece limites de ingestão diária aceitável (ADI) para cada tipo de edulcorante, garantindo que, se consumidos dentro desses parâmetros, não representam riscos à saúde.
A sacarina, por exemplo, é limitada a 5 mg por quilo de peso corporal, enquanto a sucralose tem o limite de 15 mg por quilo de peso corporal. A lista completa com os edulcorantes e suas quantidades máximas está disponível no site da Anvisa.
4) Tem muito sódio?
Verdade. Muitos refrigerantes zero contêm níveis mais altos de sódio em comparação com suas versões tradicionais para realçar o sabor adocicado e equilibrar a acidez da bebida.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), em suas diretrizes, recomenda que a ingestão de sódio seja inferior a dois gramas por dia (g/dia), o equivalente a cinco gramas de sal por dia. Geralmente, as bebidas “zero calorias” estão acima desse valor. Por exemplo, um dos principais refrigerantes consumidos mundialmente possui 49 mg de sódio em uma lata de 350 ml. Os dados nutricionais estão disponíveis no rótulo das bebidas.
5) Pode ser usado no emagrecimento?
Verdade. A principal vantagem da bebida é a ausência de açúcar, o que torna mais simples satisfazer o desejo sem adicionar calorias.
Especialistas afirmam que o refrigerante zero não é uma opção saudável – Foto:(Reprodução/Internet)
Entretanto, um estudo publicado na revista Jama em 2021, aponta que a sucralose poderia estimular o apetite. Esse é um dos edulcorantes presentes em alguns refrigerantes zero. O resultado mostrou que mulheres e pessoas obesas tiveram maior responsividade neural relacionada ao apetite após o consumo de bebidas com o composto.
Para a nutricionista Patricia Axer, é preciso ter cuidado ao adicionar os refrigerantes zero em uma dieta com o objetivo de emagrecer devido à teoria do “efeito compensatório”.
— Quando consumimos alimentos ou bebidas adoçados artificialmente, receptores de paladar doce são ativados, sinalizando ao cérebro a percepção de calorias, mesmo que o produto em questão não contenha calorias. Isso pode enganar o sistema, levando o corpo a esperar um aumento de energia que não acontece. Nesse cenário, o organismo pode reagir com um aumento do apetite por alimentos ricos em calorias — alerta Axer.
6) Pode ser usado para hipertrofia?
Mito. A bebida não tem valor nutricional significativo, ou seja, não vai interferir no ganho muscular de forma direta. A hipertrofia depende, principalmente, de treinamento adequado, nutrição balanceada e boa saúde hormonal.
O nutrólogo Matheus Azevedo afirma que a bebida não fornece nenhum tipo de macronutriente e micronutriente essencial, carboidrato, tampouco proteína e, com isso, não gera nenhum impacto desde que consumido dentro de uma dieta bem estruturada.
7) Atrapalha a absorção de nutrientes?
Depende. Os componentes dos refrigerantes zero têm sido associados a possíveis efeitos adversos na flora intestinal, o que pode interferir no funcionamento adequado do organismo. No entanto, esse impacto depende da quantidade, já que o consumo excessivo pode aumentar os efeitos.
O nutrólogo Matheus Azevedo cita o ácido fosfórico e os adoçantes artificiais como substâncias que interferem na absorção de nutrientes.
— Existem alguns componentes químicos, como o ácido fosfórico, que interferem na absorção do cálcio, na absorção do magnésio e que podem impactar a longo prazo na saúde óssea, a depender da quantidade que é ingerida. O alto consumo de adoçantes artificiais, com certeza, pode alterar a microbiota intestinal, que também vai prejudicar a absorção de nutrientes porque vai impactar no sistema gastrointestinal. Tudo depende da quantidade que é consumida dos refrigerantes. Se for uma alta quantidade, por um longo período de tempo, com certeza vai ter um impacto nutricional na pessoa adverte o profissional.
A pesquisa publicada na revista Cell em 2022 mostra que os adoçantes artificiais provocaram alterações na microbiota intestinal e oral e nos níveis de glicose.
8) É opção melhor que suco natural?
Mito. Ao comparar as bebidas, o suco 100% natural, sem açúcar adicionado, contém vitaminas, antioxidantes e minerais, enquanto os refrigerantes zero não geram os mesmos benefícios e contém aditivos químicos.
Segundo Patricia Axer, os sucos, mesmo naturais, podem conter alta concentração de açúcar, especialmente o açúcar natural da fruta. Quando consumido em excesso, os níveis de glicose no sangue podem aumentar.
A pesquisa publicada na revista JAMA Pediatrics em 2024 associa o consumo do suco totalmente in natura com o pequeno aumento de peso em crianças e adultos. Essas bebidas contêm pouca ou nenhuma fibra em comparação com a forma de fruta.
Quando consumida em seu estado natural, a fruta mantém uma maior quantidade de fibras e nutrientes essenciais, tornando-se uma opção em relação ao suco. Contudo, quando comparado aos refrigerantes, o suco natural oferece benefícios nutricionais significativamente superiores.
O endocrinologista Roberto Zagury aponta que o refrigerante zero pode ser utilizado de forma interessante em alguns cenários, mas o suco natural, via de regra, é a melhor opção. É preciso pensar no metabolismo como um todo e nos objetivos estabelecidos dentro de uma dieta com acompanhamento.
A principal recomendação dos profissionais, em termos de hidratação e saúde geral, é a água.
9) Pode causar diabetes?
Depende. A diabetes é uma doença multifatorial. Diabetes tipo 2, por exemplo, está relacionada à obesidade, sedentarismo, alimentação, tabagismo e análise do histórico familiar. O endocrinologista Roberto Zagury não menciona o refrigerante zero como causador direto de diabetes.
Em 2023, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou uma diretriz sugerindo que os adoçantes sem açúcar não sejam utilizados com a finalidade de controle de peso ou redução do risco de doenças crônicas, como diabetes mellitus (DM) e doenças cardiovasculares. A orientação não se aplica aos indivíduos com diabetes preexistente.
A lista inclui aspartame, sacarina, sucralose, stevia e derivados. Muitos destes são usados para realçar o sabor dos refrigerantes zero.
A publicação gerou uma série de debates. A Sociedade Brasileira de Diabetes, Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) se posicionaram e afirmaram que é uma recomendação condicional, ou seja, não tem fortes evidências e a própria OMS sugere que haja uma ampla discussão antes de sua implementação como medida de saúde pública.
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Zagury afirma que, em alguns estudos, o consumo de adoçantes artificiais está associado a um risco aumentado de desenvolvimento de diabetes tipo 2. No entanto, a questão se refere à associação e não à causalidade.
— Se você puder não usar nem açúcar, nem adoçante, ótimo. Se você precisar incorporar algum dos dois, a recomendação é que se faça uso de adoçantes artificiais, sempre respeitando o uso saudável, sem exagero, respeitando as doses máximas da OMS e das sociedades outras que não a OMS reitera o médico.
10) Causa câncer?
Depende. Componentes presentes em determinados refrigerantes podem estar associados ao crescimento desordenado das células. No entanto, o câncer não tem uma causa única; existem fatores externos e internos que desencadeiam a doença.
— O consumo em doses muito elevadas, em geral em doses muito maiores do que se consome no dia a dia da sociedade ocidental, é associado a alguns tipos de câncer. A gente não pode dizer que eles são a causa do câncer. A associação é diferente da causalidade afirma Zagury.
Em 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou os resultados da avaliação de perigo e risco do aspartame, um dos edulcorantes mais usados e conhecidos. Os especialistas classificaram o adoçante como possivelmente carcinogênico para humanos, mas consideram aceitável o limite atual de ingestão diária (40 mg/kg de peso corporal).
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) aconselha evitar o consumo de qualquer tipo de adoçante artificial e incentiva a alimentação saudável, ou seja, baseada em alimentos in natura e minimamente processados e limitada em alimentos ultra processados.
O ciclamato de sódio é outro composto que gera debates em relação aos seus possíveis efeitos adversos. Diferentes dúvidas surgiram em relação ao edulcorante e, por isso, a Anvisa emitiu uma nota de esclarecimento. Estudos sugeriram que o seu consumo teria relação ao aumento do risco de câncer de bexiga pois sua metabolização poderia gerar um produto tóxico, caracterizado como uma substância cancerígena.
O órgão nacional informa que a taxa de metabolização varia de pessoa para pessoa e depende, entre outros fatores, da flora intestinal. Ou seja, nem todos os indivíduos metabolizam o ciclamato de sódio da mesma forma, o que reforça a importância de monitorar os efeitos individuais do consumo ao longo do tempo. Atualmente, Anvisa autoriza o uso de ciclamato no Brasil, desde que respeitados os limites estabelecidos.
Para a nutricionista Cristiane Oliveira, os efeitos do refrigerante zero na saúde são variados e, por vezes, apresentam resultados conflitantes.
— Alguns estudos sugerem que o consumo moderado de refrigerante zero não está associado a problemas de saúde significativos, enquanto outros indicam possíveis associações com riscos aumentados. São necessárias mais pesquisas para confirmar esses resultados e entender completamente os efeitos a longo prazo do consumo de refrigerantes zero. pondera Oliveira
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Por: Bruna Lima, para o EU Atleta — Rio de Janeiro
Fonte: Roberto Zagury é médico endocrinologista, especialista em Endocrinologia Esportiva. Coordenador do Departamento de Atividade Física da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Thaís Ferreira é nutricionista clínica e esportiva, especialista em saúde da Mulher, Integrante da equipe da nutricionista Mariana Domício, na Clínica Del, em Recife .
Patricia Axer é nutricionista da Clínica de Medicina do Esporte da Rede Mater Dei de Saúde, graduada em Educação Física, professora da Pós-graduação de Medicina do Esporte de Mater Dei.
Cristiana Oliveira é nutricionista integrativa, esportiva e funcional. Possui Graduação em Nutrição pela Universidade Unigranrio; pós-graduação em Metabolismo do emagrecimento e Clínica Funcional (UNIGUAÇU); Pós-graduação em Nutrição clínica Esportiva (UNIGUAÇU); Pós graduação em Oncologia Clínica Integrativa (FAPES) e Pós graduação em Fitoterapia (UNIGUAÇU).
Matheus Azevedo é médico formado pela Faculdade ITPAC, pós-graduado em Medicina do envelhecimento saudável (anti-aging), Nutrologia, Neurociências e medicina estética.
Transcrito: https://ge.globo.com/eu-atleta/nutricao/reportagem/2025/03/20/c-refrigerante-zero-faz-mal-ou-da-celulite-veja-mitos-e-verdades.ghtml