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Queijos e vinhos: consumo tem efeito protetor sobre o cérebro

Dia Nacional do Queijo: estudo aponta que a ingestão do alimento e de vinho tinto pode ajudar a minimizar o declínio cognitivo, reduzindo a incidência de doenças como o Alzheimer

Uma boa noite de queijos e vinhos pode não ser sinônimo apenas de prazeres à mesa, mas também saúde do cérebro. Um estudo americano da Iowa State University publicado recentemente no Journal Alzheimer’s Disease afirma que a dieta de cada um tem relação direta com o declínio cognitivo e que a ingestão de queijos e vinho tinto tem efeito protetor em relação a esse aspecto. A pesquisa se trata de uma análise em larga escala inédita que conecta alimentos específicos à capacidade cognitiva na fase posterior da vida. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os processos neurodegenerativos têm evidenciado o aparecimento cada vez maior do declínio cognitivo relacionado à perda de memória em adultos, idosos e, principalmente, nos jovens e nas crianças. Portanto, o declínio cognitivo não é mais típico da terceira idade e, atualmente, os distúrbios mentais são mais comuns no adulto jovem do que no adulto mais velho. E não custa lembrar: o resveratrol, antioxidante natural encontrado em algumas frutas, nozes e justamente no vinho tinto, afeta positivamente o desempenho físico e as funções cardíacas.

De acordo com o médico neurocirurgião Emerson Sena, o cérebro contém aproximadamente 100 bilhões de neurônios interconectados, que assimilam informações recebidas dos nervos por todo o corpo e estímulos externos. Mas, afinal, qual a relação da alimentação com os processos mentais? Segundo o especialista, uma boa alimentação favorece as principais funções cognitivas, tais quais: percepção, atenção, memória, linguagem e funções executivas.

– É a partir da relação entre todas essas funções que entendemos a grande maioria dos comportamentos, desde o mais simples até as situações de maior complexidade, que exigem atividades cerebrais mais elaboradas. Novos estudos investigatórios, tanto de neurogênese como de nutrientes neuroprotetores responsáveis pela preservação da capacidade cognitiva e estimulantes das conexões entre as sinapses neuronais, têm descoberto que, por meio de intervenções nutricionais, é possível otimizar a regeneração das células cerebrais a partir da ingestão de compostos bioativos, fitoquímicos e substâncias antioxidantes que melhorem o funcionamento do sistema nervoso e aumentem a liberação de neurotransmissores cerebrais responsáveis pela preservação da memória – explica o médico.

O neurocirurgião ainda destaca que a associação das concentrações dos neurotransmissores no cérebro é influenciada pela dieta, melhorando os quadros de comprometimento da memória. Os neurotransmissores são substâncias encontradas nos neurônios que, quando liberados, transmitem sinais por meio das sinapses para outros neurônios no cérebro.

O estudo

Estudo da Iowa State University publicado no Journal of Alzheimer’s Disease relaciona dieta à melhora cognitiva — Foto: Internet

O estudo conclui que modificar os planos de refeições pode ajudar a minimizar o declínio cognitivo. Na pesquisa, também foi observado que os sais adicionados podem colocar os indivíduos em maior risco. As observações sugerem ainda, em maneiras dependentes do status de risco, que adicionar queijo e vinho tinto à dieta diariamente e cordeiro semanalmente pode melhorar os resultados cognitivos a longo prazo.

Para pessoas acima dos 46 anos, a ingestão de queijo e vinho tinto pode melhorar da função cognitiva, reduzindo a chance de incidência de doenças que afetam a parte cognitiva relacionada à idade, como o Alzheimer. Contudo, ensaios clínicos randomizados são necessários para determinar se fazer mudanças fáceis em nossa dieta poderia ajudar nossos cérebros de maneira significativa.

As quatro descobertas mais significativas do estudo:

1. O queijo, de longe, mostrou ser o alimento mais protetor contra problemas cognitivos relacionados à idade, mesmo em idade avançada;

2. O consumo diário moderado de álcool, principalmente vinho tinto, foi relacionado a melhorias na função cognitiva;

3. O consumo semanal de cordeiro, mas não de outras carnes vermelhas, mostrou melhorar a capacidade cognitiva a longo prazo;

4. A ingestão excessivo de sal é ruim, mas apenas os indivíduos já em risco para a doença de Alzheimer podem precisar controlar sua ingestão para evitar problemas cognitivos ao longo do tempo.

Vinho tinto: benefícios e perigos do excesso

(Crédito: Reprodução/Pexels)

De acordo com a nutricionista Renata Buzzini, o vinho tinto contém uma mistura complexa e concentrada de substâncias químicas saudáveis, ​​chamadas polifenóis, como o resveratrol, que podem afetar positivamente muitas funções do nosso organismo. Ele inibe a formação de placas de gordura, reduzindo a inflamação, ajudando a diminuir a pressão arterial, minimizando a oxidação de lipídios e aumentando a capacidade dos vasos sanguíneos de se dilatar.

– O vinho ainda ativa a produção de proteínas que previnem a morte celular e tem um efeito benéfico sobre o açúcar no sangue e a função da insulina. Assim, há a redução da formação de placas de entupimento das artérias, aumento do colesterol bom, diminuição da inflamação e inibição da coagulação do sangue, o que diminui o risco de aterosclerose – explica a profissional.

Em contrapartida, de acordo com Emerson Sena, o consumo excessivo de vinho pode levar ao alcoolismo, que é um dos fatores que mais afetam a memória, especialmente a memória de curta duração, o que prejudica a habilidade de reter novas informações.

– As ações fisiológicas exercidas pelos polifenóis, neuroprotetores presentes no vinho, foram relacionadas à prevenção de doenças neurodegenerativas. Quanto mais intensa a coloração da uva, maior o conteúdo de compostos fenólicos e mais capacidade antioxidante ela apresenta. Em relação às discussões acerca do consumo moderado de vinho e da inibição da incidência de doenças cardiovasculares, estudos mostram que a bebida favorece o funcionamento do cérebro, beneficia os aparelhos digestivos e respiratórios, estimula a produção de insulina, atua como agente anti-infeccioso e imunoestimulante, diminui os riscos de câncer e ainda retarda o envelhecimento, sendo considerado favorável ao organismo – aponta o neurocirurgião.

Diversos estudos mostram a ação positiva advinda do consumo moderado de vinho, o qual contribui para:

– Prevenção da doença de Alzheimer;

– Prevenção da demência senil;

– Redução de sintomas de depressão;

– Retardo no crescimento celular de tumores malignos;

– Melhora na circulação sanguínea;

– Retardo no envelhecimento.

– Não é recomendado que as pessoas que não ingerem bebida alcoólica passem a ingerir, mas sim que aquelas já bebem passe a consumir corretamente o volume e a frequência, pois já é determinado pelos estudos científicos que o excesso do álcool no organismo traz muitos prejuízos graves à saúde. Todos esses benefícios perdem sua ação quando as doses fogem do recomendado; ou seja, o excesso no consumo de álcool é extremamente prejudicial – indica a nutricionista Renata Buzzini.

Tipos de vinho e frequência ideal de consumo

– Uma (para mulheres) a duas (para homens) doses (taças) de vinho tinto seco de três a quatro dias na semana

O açúcar presente no vinho puro é resultado do processo de fermentação da bebida e se trata principalmente dos açúcares da própria uva, frutose e glicose (alguns vinhos são adoçados com açúcar para baratear e tornar mais rápido o processo de produção). Segundo Renata, os vinhos com adição de açúcar devem ser eliminados do nosso consumo. Por isso, a recomendação é que se opte pelos vinhos secos devido ao menor teor natural de açúcar.

– O consumo excessivo de álcool (mais de três doses por dia) pode levar a muitas doenças. O recomendado é de uma a duas doses de vinho no dia, três ou quatro vezes por semana. As quantidades clinicamente saudáveis indicadas para colher os benefícios do vinho são de uma taça (aproximadamente 200 ml) para as mulheres e duas taças (entre 300 a 400 ml) para os homens. Isso devido à metabolização do álcool contido na bebida depender de fatores como: peso corporal, gênero (mulheres tendem a ser mais vulneráveis), quantidade de enzimas no organismo para a metabolização da substância e o uso de medicamentos. Dados combinados de 51 estudos epidemiológicos mostraram que, em adultos saudáveis, o consumo moderado (até duas doses) de vinho tinto pode reduzir o risco de doenças cardíacas em aproximadamente 20% – aponta a nutricionista.

Queijos: benefícios e perigos do excesso

As propriedades nutricionais se diferem de acordo com cada tipo de queijo — Foto: Internet

Segundo Renata Buzzini, os queijos são ricos em proteínas, vitamina A e cálcio e ainda são fontes de vitamina B12. Entretanto, além do conteúdo elevado de gorduras saturadas próprio do leite, eles são produtos com alta densidade de energia (em função da perda de água durante o processamento) e com alta concentração de sódio (devido à adição de sal).

– O cálcio é importante para a manutenção de ossos e dentes; as proteínas são necessárias para o desenvolvimento do organismo, a contração muscular, inclusive cardíaca e vascular, a transmissão do impulso nervoso e a secreção glandular; a vitamina A é importante para a visão e a vitamina B12 é imprescindível para a função neurológica normal. Em relação à quantidade, é recomendado que os adultos ingiram três porções de lácteos de 50 gramas cada por dia e que crianças consumam três porções de 30 gramas cada diariamente – aponta a nutricionista.

Além disso, segundo Emerson Sena, os queijos são ricos em proteínas que ajudam a sintetizar neurotransmissores, como o chamado acetilcolina, o qual é muito importante para a função cognitiva. Afinal, a doença de Alzheimer tem incidência quando há um quadro de deficiência desse neurotransmissor. Vale destacar, ainda, que certos nutrientes presentes nos queijos são responsáveis pela concentração, pelo aprendizado e pela memória.

Lembrando que quem tem alergia à proteína do leite não deve consumir queijos, e que quem tem intolerância à lactose deve evitá-los.

Tipos de queijo e suas propriedades nutricionais

Existem diversos tipos de queijos e, para saber qual é o mais adequado, o ideal é consultar a tabela nutricional e a lista de ingredientes para escolher os menos calóricos e com menores teores de gordura e sódio. Segundo Renata Buzzini, os queijos que fazem parte de uma alimentação saudável são compostos por leite, sal e micro-organismos usados para fermentar o leite, como fermento lácteo e coalho. Ela destaca que é importante atentar-se para a lista de ingredientes: quando aparecer mais itens, como corantes e saborizantes, quer dizer que não é um tipo de queijo tão indicado para o consumo. Atualmente, até farinha e lecitina de soja estão sendo adicionadas às preparações.

– O queijo faz parte do grupo de alimentos processados, feitos pela soma de um alimento in natura ou minimamente processado (no caso o leite) com um ingrediente culinário (o sal). Porém, há também um grupo de queijos ultraprocessados, que têm em sua composição diversos aditivos químicos, como acidulantes, estabilizantes e conservantes, pertencendo, por isso, ao grupo vermelho. Portanto, o ideal é evitá-los por estarem associados a uma piora da qualidade nutricional da alimentação e maior risco de ocorrência de doenças crônicas como obesidade, hipertensão e doenças cardiovasculares – explica a nutricionista.

As informações nutricionais são importantes na hora de avaliar quais os melhores tipos de queijo — Foto: Manual Alimentação Cardioprotetora

Na imagem acima, em vermelho, estão destacadas a quantidade de aditivos. Percebe-se que os queijos processados UHT se diferem muito dos queijos mais saudáveis. Renata explica que esses queijos têm muitos conservantes para poder ter uma vida longa fora da geladeira (até meses nas prateleiras do mercado) e até mesmo sua versão light tem uma grande concentração de sódio, o que causa uma retenção hídrica no corpo, provocando inchaço e até mesmo aumento de peso.

– Quanto mais brancos os queijos, mais saudáveis e menos gordurosos eles são; afinal, contêm maior quantidade de cálcio e proteína. O queijo cottage, a ricota, o queijo minas e a muçarela de búfala são bons exemplos. Eles têm menos corantes, são ricos em proteína e pobres em gorduras. Os queijos amarelos, em geral, contêm uma quantidade maior de gordura saturada, de colesterol e de sódio, podendo contribuir para o surgimento de problemas como pressão alta e doenças cardiovasculares. Apesar de não serem propriamente amarelos, o brie, o gouda e o gorgonzola são ricos em gordura, calorias e colesterol, então demandam atenção – indica a profissional.

Em suma, o grande segredo para os queijos é ler o rótulo nutricional e comer a porção recomendada. Já em relação ao vinho, o que torna seu consumo não benéfico é a presença do açúcar que não se transforma em álcool durante a fermentação (chamado de açúcar residual) e a ingestão além das doses recomendadas. De acordo com a nutricionista, os vinhos de sobremesa são os que apresentam maior teor de açúcar, seguido por alguns espumantes. Além deles, alguns vinhos secos entram na lista porque há tipos que produzem mais açúcar e álcool.

Por: Marina Borges — Bauru, São Paulo

Fonte: Organização Mundial da Saúde (OMS)

Emerson Sena, médico neurocirurgião

Renata Buzzini, nutricionista

Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/nutricao/noticia/queijos-e-vinhos-consumo-tem-efeito-protetor-sobre-o-cerebro.ghtml

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