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Qual o efeito das dietas da moda na saúde? Saiba o que diz a ciência

Veja avaliação de dietas como a do Paleolítico, Atkins e Mediterrânea.
Elas prometem desde perda de peso rápida até vida mais natural.

Aderir a uma dieta da moda pode significar comer como um homem das cavernas, servir-se de ovo com presunto todos os dias no café da manhã ou riscar do cardápio todo e qualquer tipo de pão. Elas prometem desde a perda de peso rápida até a mudança para um estilo de vida mais natural.

Mas o que a ciência e os especialistas têm a dizer sobre esses hábitos alimentares? O G1 consultou médicos e estudos científicos que avaliaram os efeitos das dietas da moda na saúde.

Dieta do Paleolítico

Em 2014, esta foi a dieta mais procurada no Google, segundo relatório do sistema de busca. Para segui-la, limite-se a comer como um homem das cavernas, eliminando alimentos industrializados, laticínios, legumes e grãos (que só passaram a ser cultivados em uma época posterior ao Paleolítico).

Os defensores acreditam que ela proporciona um estilo de vida mais saudável. Segundo eles, nosso corpo não evoluiu de forma tão rápida quanto as mudanças que ocorreram em nossa alimentação. Por isso, o organismo deveria reagir melhor à dieta adotada por nossos ancestrais há mais de 10 mil anos: rica em carnes, verduras, frutas e castanhas.

Por um lado, há estudos que demonstram um efeito positivo da dieta das cavernas para a saúde. Uma pesquisa publicada em 2009 na revista “Cardiovascular Diabetology” concluiu que ela foi bem-sucedida em proporcionar controle glicêmico e combater riscos cardiovasculares em pacientes com diabete.

Por outro lado, a ciência não corrobora a tese de que nosso organismo não é feito para digerir os alimentos modernos. O pesquisador Daniel Lieberman, diretor do Departamento de Biologia Evolutiva Humana da Universidade Harvard, é um dos críticos dessa teoria.

Tivemos evolução desde que a agricultura surgiu, o que levou a muitos de nós digerir leite, então por que não deveríamos tomar leite? Em segundo lugar, só porque os homens da caverna comiam, não significa que é necessariamente saudável”, disse Lieberman, em visita ao Brasil no ano passado.

É a mesma opinião do médico Bruno Halpern, endocrinologista do Hospital 9 de Julho e coordenador do Centro de Controle de Peso da instituição. “Não é porque se comia assim no Paleolítico que significa que é bom. A expectativa de vida na época era de 30 anos”, observa

Outro problema apontado pelo médico é o fato de a dieta não ser sustentável para a maioria das pessoas, pois seria muito difícil e caro obter 100% dos alimentos de origem natural, sem qualquer processo de industrialização.

Dietas de restrição de carboidrato: Atkins e Dukan

Tanto a dieta Atkins, criada pelo cardiologista americano Robert Atkins, como a dieta Dukan, desenvolvida pelo médico e nutrólogo francês Pierre Dukan, baseiam-se em uma alimentação com pouco carboidrato e quantidades quase ilimitadas de proteína.

A Atkins apareceu em segundo lugar entre as dietas mais buscadas no Google em 2014 e a Dukan aparece entre as 10 dietas mais populares em pesquisa divulgada em 2013 pelo instituto Euromonitor International.

De acordo com uma revisão sistemática de 17 estudos publicada pela revista “Plos One” em 2013, dietas de baixo consumo de carboidrato foram associadas com um risco “significantemente maior” de mortalidade por todas as causas. Os pesquisadores observam que esse tipo de dieta tende a resultar em um consumo menor de fibras e frutas e um consumo maior de proteína animal e gordura saturada, o que contribui para o aumento do risco cardiovascular.

Halpern observa que há mais de 30 anos existem evidências de que esse tipo de dieta promove um emagrecimento mais rápido. Mas, quando se avalia a perda de peso em longo prazo, o efeito é o mesmo de outras dietas. Quem adota essa alimentação, segundo o médico, deve ter acompanhamento médico e fazer exames regulares para avaliar possíveis alterações devido ao excesso de proteína, como nos níveis de colesterol e ácido úrico.

O médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), lembra que outro possível efeito colateral é o mau humor. Isso porque a falta de carboidrato afeta a produção de serotonina, que promove bem-estar e tranquilidade.

O fato de as dietas terem regras muito específicas a serem seguidas também é um problema, segundo especialistas. “O grande problema de dietas muito restritivas ou que obrigam a seguir um plano alimentar muito específico é que não se aprende com elas. Quando termina, a pessoa volta a fazer o que fazia antes e engorda de novo”, diz Halpern.

Dieta mediterrânea

Uma das dietas mais bem cotadas entre os médicos é a mediterrânea. Isso porque ela tem benefícios cardiovasculares cientificamente comprovados. Um estudo publicado em 2013 pela revista “New England Journal of Medicine” concluiu que, entre pessoas com risco cardiovascular alto, a adoção da alimentação mediterrânea pode reduzir em até 30% o risco de infarto, AVC e morte por doenças cardíacas.

Essa dieta é baseada no consumo de frutas, vegetais, grãos integrais, castanhas, legumes e azeite. “É uma dieta com pouco açúcar refinado e uma alta ingesta de peixe. Tudo regado a azeite de oliva, que é praticamente o único óleo que utilizam, que favorece o aumento do colesterol bom. É uma dieta muito recomendada”, diz o nutrólogo Ribas Filho

Segundo Halpern, a dieta mediterrânea pode ser considerada uma reeducação alimentar propriamente dita, que não tem como foco o emagrecimento, mas o consumo de alimentos que fazem bem para a saúde. No ranking das dietas mais buscadas no Google pelos internautas em 2014, ela aparece em quarto lugar.

Dieta sem glúten

A dieta sem glúten tem se tornado cada vez mais popular entre pessoas que querem emagrecer. No ano passado, foi a terceira dieta mais buscada no Google. Apesar de os defensores dessa dieta considerarem o glúten um vilão, especialistas dizem que só quem deve eliminá-lo do cardápio é quem tem a doença celíaca.

Nessas pessoas, alimentos com glúten – tudo que é feito com farinha de trigo, aveia, centeio e cevada – provocam uma inflamação no intestino delgado que leva a dores abdominais e diarreia, entre outras consequências nocivas.

Especialistas dizem que não há evidências científicas de que eliminar o glúten possa trazer qualquer benefício a quem não tem intolerância ou sensibilidade ao glúten. E o fato de que muitas pessoas emagrecem ao adotar esse regime deve-se ao fato de que a maioria dos alimentos cotidianos tem glúten. Por isso, a pessoa acaba fazendo uma dieta com menos calorias.

Por:Mariana Lenharo
Do G1, em São Paulo

Foto: Reprodução/TV Globo)

Fonte: Daniel Lieberman, pesquisador diretor do Departamento de Biologia Evolutiva Humana da Universidade Harvard

Bruno Halpern,médico endocrinologista do Hospital 9 de Julho e coordenador do Centro de Controle de Peso da instituição

Durval Ribas Filho,médico nutrólogo presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran)

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