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Quais os efeitos de fazer exercícios em ambientes poluídos?

Quais os efeitos de fazer exercícios em ambientes poluídos?

Médico do esporte e pneumologista explicam que há redução na oxigenação de músculos, cérebro e outros órgãos, afetando a performance esportiva e causando problemas pulmonares. Entenda por que isso acontece e aprenda três dicas para minimizar o risco

De acordo com o estudo da Universidade do Colorado em Boulder, publicado no ano passado, o aumento das concentrações de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera afetará nossa cognição no futuro. Isso pode ser explicado pelo fato de que, quando respiramos ar com altos níveis de CO2, aumentamos os níveis desse gás no sangue, reduzindo a quantidade de oxigênio no cérebro. Como consequência, ficamos mais sonolentos e ansiosos, prejudicando a função cognitiva. Para além da questão cognitiva, os efeitos da poluição atmosférica podem ser sentidos também no desempenho esportivo. De acordo com pesquisas científicas, além de outros poluentes presentes no ar, como CO2, nitrogênio e ozônio, o monóxido de carbono (CO) é o principal fator que gera um prejuízo imediato para o organismo. Segundo o médico do esporte Diogo Vilar, o CO tem um efeito degradante mensurável na habilidade da pessoa transportar oxigênio através do seu corpo, pois afeta a função das hemácias.

Necessidade de oxigênio para os músculos chega a ser até 20 vezes maior durante o exercício intenso — Foto : Internet

E as perspectivas são desanimadoras: segundo os pesquisadores, até o final do século 21, as pessoas podem estar expostas a níveis internos de CO2 até três vezes maiores do que os níveis externos atuais, atingindo uma marca que os humanos jamais experimentaram.

– O monóxido de carbono entra no sangue através dos pulmões e ocupa os locais onde as hemácias carregam o oxigênio; assim, à medida que a quantidade de monóxido de carbono no sangue aumenta, a performance atlética diminui linearmente, pois o sangue transporta menos oxigênio para músculos, cérebro e todos os órgãos envolvidos. Além de afetar a performance esportiva, a combinação entre exercícios e poluição pode levar a problemas pulmonares como asma e ainda baixar a imunidade, o que se torna um mau negócio nessa equação, principalmente em tempos de covid-19 – explica o médico.

Ainda segundo Diogo, a atividade física regular ao ar livre tem comprovadamente muitos benefícios à saúde; entretanto, também aumenta o risco de exposição à poluição, o que pode levar a um dilema. Pensando nisso, como forma de minimizar os efeitos da poluição no exercício físico, o médico do esporte listou três medidas que podem ser úteis:

1. Prefira correr nas primeiras horas da manhã ou à noite, quando geralmente há menor concentração de gases poluentes;

2. Evite correr em ruas de maior tráfego, nas quais os gases poluentes estão em maior concentração;

3. Quando não for possível evitar a poluição, prefira ambientes fechados com bons sistemas de purificação do ar.

Segundo o estudo da universidade do Colorado em Boulder, a melhor maneira de evitar alcançar níveis perigosos de CO2 é reduzir as emissões de combustíveis fósseis. Para isso, é necessário adotar estratégias globais de mitigação, como as estabelecidas na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, as quais têm o objetivo de estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera.

Impacto no desempenho esportivo

Quando o ar está poluído, o pulmão tem dificuldade para fazer a absorção completa de oxigênio — Foto: Internet

Como já foi dito, a poluição atmosférica afeta negativamente no desempenho físico. Com a diminuição da oxigenação dos músculos, a produção de energia também é reduzida, fazendo com que a capacidade de realizar exercícios fique prejudicada. Portanto, de acordo com o pneumologista David Luniere, é preciso ter em mente que a prática de atividade física, seja ela em nível profissional ou amador, em ambientes com uma grande quantidade de poluentes no ar distancia a pessoa do objetivo de melhorar a performance esportiva.

– Isso ocorre porque, ao respirar, as partículas dos poluentes que estão no ar (monóxido de carbono e outras substâncias) são inaladas, fazendo com que esse ar, ao chegar ao nível mais interno do pulmão, ocupe o espaço do oxigênio que não foi absorvido puro. Ou seja, as partículas contaminadas irão atrapalhar a capacidade de absorção completa de oxigênio, prejudicando o atleta, que necessita inalar ainda mais oxigênio durante a realização de atividades físicas – explica o médico.

Diante disso, podemos explicar a importância da saturação de oxigênio, que corresponde à porcentagem de O2 que o sangue está transportando comparada com o máximo da sua capacidade de transporte. Segundo Luniere, a absorção de partículas poluídas afeta a quantidade de oxigênio que chega a nível alveolar, o qual pode ser absorvido pelo sangue.

– Quando isso acontece, a saturação de oxigênio cai, e na atividade física isso pode ser ainda mais sentido, pois o rendimento na captação de oxigênio tem que ser maior, justamente por conta de fatores como a aceleração da circulação sanguínea e o aumento da frequência cardíaca. Ou seja, a pessoa está precisando de uma demanda maior de oxigênio e, quando a quantidade da substância a ser captada no pulmão é pequena, o desempenho do atleta é diretamente afetado – esclarece o pneumologista.

De acordo com o médico, em uma pessoa saudável, a saturação de oxigênio deve girar em torno de 96%. Já em um atleta, a capacidade de saturação pode chegar a 98% apenas estando em repouso. Essa diferença pode ser percebida porque o nível de saturação tende a aumentar quando se pratica atividade física.

– Afinal, o atleta está captando uma quantidade maior de oxigênio, fazendo vasodilatação periférica para que o sangue chegue aos músculos em maior quantidade, então essa saturação tem que subir – afirma Luniere.

Cuidados para pneumopatas

As doenças nomeadas de pneumopatia afetam o pulmão e, consequentemente, o sistema respiratório — Foto: Pixabay

Vale destacar que muitos pacientes pneumopatas, ou seja, acometidos de doenças pulmonares, se beneficiam das atividades físicas, como os que têm asma, bronquite crônica ou tuberculose. Segundo David Luniere, a atividade física aeróbia estimula e desenvolve a capacidade respiratória, sendo positiva para quadros de pneumopatia.

– Associada ao uso de medicação para os pulmões, a prática de exercícios físicos tende a diminuir o quadro de infecções respiratórias recorrentes e de descompensação da doença de base, levando a pessoa a procurar menos vezes a assistência hospitalar – aponta o médico.

Contudo, esses pacientes que apresentam alguma doença pulmonar devem tomar alguns cuidados. Segundo o pneumologista, caso as atividades físicas sejam praticadas em ambientes com muita poluição atmosférica, há o risco de se ter quadros de exacerbação da doença de base ou até mesmo pneumonias de repetição.

Luniere recomenda que as pessoas acometidas de doenças pulmonares evitem fazer exercícios em locais:

– Poluídos;

– Expostos ao ar frio e seco;

– Onde haja muitas substâncias ativas inalantes, como tintas ou perfumes intensos.

– É importante frisar que, ao menor ao maior indício de sintomas como falta de ar, tosse e cansaço, deve-se interromper os exercícios e consultar um médico. Esses alarmes não devem ser ignorados; afinal, podem causar uma sobrecarga cardiovascular – alerta o pneumologista.

Por: Marina Borges, para o Eu Atleta — Bauru, São Paulo

Fonte: David Luniere, pneumologista

Universidade do Colorado em Boulder

Diogo Vilar, médico do esporte

Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/quais-os-efeitos-de-fazer-exercicios-em-ambientes-poluidos.ghtml

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