Por que não podemos nos exercitar após comer? Fisiologista explica a congestão estomacal
Processo digestivo compete por oxigenação e perfusão sanguínea com os músculos envolvidos na atividade física
É muito comum ouvirmos considerações sobre não fazer exercícios logo após as refeições. O termo “congestão” é muitas vezes usado para descrever perturbações que ocorrem relacionadas às situações nas quais o período digestivo é associado a atividades físicas, banho quente etc. O que existe de verdade em relação a estas situações certamente pode ser explicado pelo entendimento da fisiologia do processo digestivo.
Quando ingerimos um alimento, imediatamente ele é acumulado no estômago, que inicia o processo digestivo, misturando o conteúdo com o chamado suco gástrico, que é composto de enzimas digestivas e ácido clorídrico. Durante a permanência do alimento no estômago não existe absorção, ou seja, o alimento ainda não passa para a corrente sanguínea.
Em seguida, uma pequena amostra do conteúdo do estômago passa para o início do intestino delgado, chamado duodeno devido a contrações da parede do estômago. Assim que esta amostra chega no duodeno, as células de revestimento desse segmento do tubo digestivo “analisam” sua composição.
Se a amostra de alimento não apresenta concentração elevada de nutrientes, ou seja, se for um conteúdo de fácil digestão, o processo de esvaziamento do estômago continua e o estômago fica vazio, passando seu conteúdo para o duodeno em um curto intervalo de tempo.
Se, por outro lado, o estômago mandar a primeira amostra com concentração elevada de nutrientes, o que caracteriza o momento logo após uma refeição, as células do duodeno detectam esta concentração elevada e secretam uma substância chamada enterogastrona, que vai inibir as contrações do estômago e retardar seu esvaziamento.
Esta é a situação durante a qual devemos evitar fazer atividade física mais intensa, devido a duas razões. Primeiro, quando o estômago está cheio, qualquer atividade vai ser acompanhada de um desconforto, podendo ocorrer vômitos, cefaleias etc. Também existe uma grande probabilidade de aparecer a temida dor no flanco, fruto da compressão do diafragma contra o estômago cheio. Em segundo lugar, este processo digestivo mais intenso requer um desvio de fluxo sanguíneo para o tubo digestivo, competindo com os músculos por perfusão sanguínea e oxigenação.
Este é o processo que explica a contraindicação de atividades físicas e que conhecemos pela denominação de “congestão” ou perturbação digestiva.
Por: Turibio Barros (com Gerseli Angeli)
Fonte: Turibio Barros,Mestre e Doutor em Fisiologia do Exercício pela EPM, fisiologista do São Paulo FC e membro do American College of Sports Medicine
Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/post/2019/11/12/por-que-nao-podemos-nos-exercitar-apos-comer-fisiologista-explica-a-congestao-estomacal.ghtml