Por que manter-se magro é mais difícil do que perder peso
Você inicia uma dieta com a motivação lá em cima e uma meta definida. Reduz as porções de comida, corta as guloseimas do dia a dia, maneira na cervejinha e nos petiscos do final de semana e pega firme na academia. Depois de um tempo, percebe o ponteiro da balança baixar e alcança seu objetivo. Mas o que acontece depois que chegou no peso desejado?
Bem, uma nova batalha se inicia nesse momento. Afinal, para grande parte das pessoas não voltar a engordar acaba sendo ainda mais desafiador. E há muitas razões para isso. Na parte biológica, por exemplo, o organismo busca maneiras de recuperar os quilos que se foram —pois entende que a reserva de gordura é um importante estoque de energia para nossa sobrevivência. Assim, hormônios responsáveis pela fome aumentam ao mesmo tempo em que o metabolismo passa a economizar energia para realizar as mesmas tarefas de antes.
“Para se ter ideia, a cada um quilo de peso emagrecido, o gasto metabólico reduz em 30 calorias, enquanto a fome aumenta em 100 calorias”, revela Bruno Halpern, médico doutor em endocrinologista e membro do Departamento de Epidemiologia e Prevenção da Abeso (Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica).
E os desafios para se manter magro são ainda maiores em se tratando da parte comportamental. Veja a seguir algumas razões dificultam a manutenção do peso e o que fazer para driblá-las.
O ‘projeto’ não tem fim ou resultado perceptível
Quando começa a fazer dieta, você sabe quantos quilos deseja perder e consegue acompanhar a evolução do resultado dia a dia. Porém, depois de emagrecer, não há objetivo ou mudanças visíveis. Apenas a meta de manter-se como está, o que vai exigir fazer do estilo de vida saudável e equilibrado um hábito para toda a vida.
O que fazer: Primeiro, entenda que manter o peso é motivo de comemoração, sim! Ainda mais se você é do time de pessoas que perderam muitos quilos —pense nos ganhos que você vai manter na saúde e disposição. Mesmo assim, vale criar novos objetivos para manter a motivação e o foco. “Você pode realizar um exame de composição corporal e definir como nova meta baixar o percentual de gordura e aumentar o de massa magra; começar a praticar uma modalidade diferente ou ainda se preparar para provas esportivas”, exemplifica Halpern.
Os benefícios se mantêm, mas são esquecidos
No começo, você ganha disposição, sente as roupas ficarem folgadas, vê os dígitos da balança diminuírem, recebe elogios por causa dos resultados… É uma felicidade sem fim atrás da outra. Depois, parece que tudo fica para trás.
O que fazer: Crie uma lista dos benefícios que surgiram durante o seu processo de perda de peso. Por exemplo: ganhei mais energia e disposição; parei de tomar remédio; diminuí o colesterol; voltei a vestir a calça que tanto gosto… Quando bater aquela sensação de que nada novo acontece, leia a lista para relembrar o que mudou com seu novo estilo de vida saudável.
A motivação diminui
O dia a dia de quem mantém o peso talvez pareça uma rotina sem grandes novidades e isso faz com que muitas pessoas fiquem desestimuladas. Logo, começa a faltar determinação para resistir ao hambúrguer na hora hora do almoço, à sobremesa depois do jantar ou ao chocolatinho naquele momento de estresse no trabalho.
O que fazer: Segundo a nutricionista e coach de bem-estar Lara Natacci, mestre e doutora em ciências pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e diretora da Dietnet, é importante buscar uma motivação intrínseca —algo que você faça para si mesmo, relacionado a valores ou a um grande “porquê”, como: “Quero emagrecer porque me sinto feliz com uma forma física melhor” ou “Porque quero ter disposição para brincar com meus filhos e netos”. Assim é possível ter realização e motivação constantes para resistir às tentações. “Relacionar a perda de peso a algo externo, como ficar magro para ir a uma festa de casamento ou para o verão, será algo pouco duradouro” coloca a nutricionista.
Grande parte das pessoas que consegue manter o peso pratica pelo menos 300 minutos de exercícios por semana
As pessoas “incentivam” você a sair da dieta
Durante o processo de emagrecimento, recebemos vários feedbacks positivos, que são como uma recompensa. Mas eles não duram muito tempo e depois o discurso das pessoas próximas muda. “Os amigos e familiares tendem a incentivar você a voltar a comer ‘besteiras’ e os elogios deixam de existir”, contextualiza Natacci. Então, torna-se comum ouvir frases do tipo: “Para com essa paranoia! Você está ótimo pode comer um docinho!”.
O que fazer: Quer uma boa razão para dizer não às tentações? Segundo Halpern, um estudo mostra que as pessoas que perderam muito peso e conseguem mantê-lo são aquelas que se restringem mesmo em festas. Ou seja, elas comem, mas com controle —e uma tática para conseguir comer com moderação em uma festinha é fazer um lanche saudável antes.
Natacci ainda sugere listar as pessoas que participam da rede de “boicote”, como aquela “tia” que vende bolo no trabalho, e criar soluções e respostas para não se deixar levar pelo impulso.
Você acha que nunca mais vai engordar
Quando emagrecemos, é comum achar que podemos abrir uma exceção aqui e outra ali para comer o que quiser. Porém, logo essa exceção vira regra e você está se alimentando mal novamente, ganhando peso e sem o controle da sua alimentação. O emagrecimento não deve ser encarado como algo momentâneo, mas uma oportunidade para mudar comportamentos e hábitos de vida para que o resultado se sustente.
O que fazer: “Mantenha-se vigilante em relação à balança e defina um limite de oscilação de peso para não deixar a situação fugir ao controle (cerca de dois ou três quilos do que considera ideal). E pese-se com frequência para acompanhar”, sugere Halpern.
Evite ainda restrições drásticas. “O consumo de alimentos é 100% comportamento e altamente sugestionado pelo nosso humor, pois é no sistema límbico onde está registrada uma série de sabores relacionados a momentos da nossa vida. Como sempre estamos acessando essas memórias, fica insustentável fazer dietas restritivas”, coloca Antonio Herbert Lancha Junior, coordenador do Laboratório de Nutrição e Metabolismo da Escola de Educação Física e Esporte da USP (Universidade de São Paulo)
Também faça atividade física regularmente. Grande parte das pessoas que consegue manter o peso pratica pelo menos 300 minutos de exercício por semana, segundo Halpern. Isso porque o treino gera um compromisso com a boa alimentação e também libera endorfinas que ajudam a controlar o estresse (muito associado ao desejo por guloseimas)
E planeje seu dia a dia. Isso inclui as refeições, as horas de sono e o tempo dedicado aos exercícios. “Dormir cinco horas ou menos por noite aumenta o risco de descontrole por consumo de carboidratos por conta do aumento de hormônios relacionados ao estresse”, alerta Natacci, que reforça ainda a importância de incluir atividades de lazer e até meditação diária por cerca de 10 minutos para ajudar a equilibrar a mente.
Por: Diana Cortez
Colaboração para o VivaBem
Fonte: Antonio Herbert Lancha Junior, coordenador do Laboratório de Nutrição e Metabolismo da Escola de Educação Física e Esporte da USP (Universidade de São Paulo)
Lara Natacci, mestre e doutora em ciências pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e diretora da Dietnet
Bruno Halpern, médico doutor em endocrinologista e membro do Departamento de Epidemiologia e Prevenção da Abeso (Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica)
Transcrito: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2019/12/11/por-que-manter-o-peso-perdido-e-mais-dificil-do-que-emagrecer.htm