Por que é difícil resistir a chocolate e batata frita?

Danilo Hits 4 de abril de 20233 de abril de 2023 0 Comments

Comer doces e alimentos gordurosos promove mudanças no cérebro: médico Luis Fernando Correia explica estudo sobre como a alimentação ativa região cerebral da motivação e recompensa

É quase impossível resistir às barras de chocolate, salgadinhos e batatas fritas. Levanta a mão quem não concorda! Mas sabe por quê? Pesquisadores do Instituto Max Planck para Pesquisa do Metabolismo, em Colônia, em colaboração com a Universidade de Yale, mostraram em um novo estudo, publicado neste mês de março, que alimentos com alto teor de gordura e açúcar mudam o cérebro. Com isso, se forem consumidos regularmente, mesmo em pequenas quantidades, o cérebro aprende a desejar esses alimentos no futuro.

Alimentos ricos em gordura e açúcar afetam o cérebro — Foto: Istock Getty Images

Mas como essa preferência se desenvolve no cérebro? Segundo os cientistas, a tendência de comer alimentos com alto teor de gordura e açúcar, a chamada dieta ocidental, pode ser inata ou se desenvolver como resultado do excesso de peso, e o cérebro aprende essa preferência.

Para testar a hipótese, o time de pesquisa ofereceu a um grupo de voluntários um pequeno pudim com muita gordura e açúcar, diariamente, durante oito semanas, além da dieta normal. O outro grupo recebeu o pudim com o mesmo número de calorias, mas menos gordura e açúcar. A atividade cerebral de cada voluntário foi medida antes e durante as oito semanas.

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A resposta do cérebro a alimentos com alto teor de gordura e de açúcar aumentou muito no grupo que comeu o pudim com mais açúcar e gordura após oito semanas. Isso ativou particularmente o sistema dopaminérgico, a região do cérebro responsável pela motivação e recompensa. As medições da atividade cerebral mostraram que o cérebro se reprogramou por meio do consumo desses alimentos. Um perigo, já que dietas ricas em gordura saturada podem afetar saúde cerebral.

Durante o período do estudo, as pessoas do teste não ganharam mais peso do que as do grupo de controle e seus valores sanguíneos, como açúcar no sangue ou colesterol, também não mudaram. No entanto, os pesquisadores acreditam que a preferência por alimentos açucarados continuará mesmo após o fim do estudo. Isso porque, segundo eles, as novas conexões que são feitas no cérebro não se dissolvem rapidamente. Afinal, o objetivo do aprendizado é que, uma vez que você aprende algo, não esquece rápido.

Resta saber se deixar de comer este tipo de alimento pode ajudar a “esquecer” que eles existem. Será? Já estou esperando uma pesquisa sobre o tema.

Por: Luis Fernando Correia – Washington, D.C.

Fonte: Luis Fernando Correia, Clínico e intensivista com certificado em Inovação pelo MIT, ex-chefe da emergência do Samaritano, o Doc hoje se dedica à divulgação de temas ligados à saúde