Pandemia mudou a sua relação com a comida? Saiba fazer uma autoanálise
É fato que o nosso padrão alimentar mudou durante a pandemia. Você consegue perceber isso? Tenho a certeza de que muitos dos seus hábitos antigos foram se readequando à nova realidade. De um lado, o agravamento da fome, desigualdade social e falta de assistência básica para grande parte da população e, por outro, um aumento de ansiedade, distorções alimentares, depressão ou tristeza e uma enorme relação de compensação do isolamento sobre o alimento.
Olhando por uma boa perspectiva, algumas pessoas passaram a comer em casa, preparando o seu próprio alimento e olhando mais atentamente para as suas escolhas, porém, para a grande maioria, a pandemia causou muitas transformações, e com elas veio um cenário de imediatismo e prazer que modificou a forma com que muitos se relacionavam com os alimentos.
Em tempos de estresse prolongado, e a consequente elevação nos níveis de cortisol no corpo, é certo que ocorrerá um disparo na sensação de fome (às vezes física, outras emocional), que enaltece quase em sua totalidade o prazer em comer —valorizando o consumo de alimentos reconfortantes e com muito açúcar ou gordura.
As bebidas com álcool também provocam sensação de bem-estar imediata, mas junto com os drinques vêm a sobrecarga hepática (dependendo do quanto é consumido), e o alto valor calórico. Sabemos que com a pandemia a maior parte das pessoas apresentou um aumento no consumo diário de bebida alcoólica.
Aquele desejo por comida fica cada vez mais forte e complexo de ser compreendido, já que permeia os eixos emocional (desejo intenso de comer), comportamental (buscar comida), cognitivo (pensamentos sobre comida) e fisiológico (salivação)
Em meio a todo este turbilhão de emoções e incertezas acabamos por manifestar comportamentos que podem sinalizar que algo não vai bem, e portanto precisamos de ajuda profissional.
A nutricionista e pesquisadora Lara Natacci utilizou em sua pós-graduação um questionário importante para a identificação da alimentação emocional e do descontrole emocional, e nos baseamos nesse instrumento para formular algumas perguntas que servem como pistas sobre se você está mantendo uma boa relação com a sua alimentação em tempos de pandemia.
Você pensa em comida a maior parte do seu tempo?
Acorda pensando naquilo que vai comer e durante o dia, entre uma reunião e outra ou uma atividade e outra não interrompe o pensamento em comida? Tudo gira ao redor dos alimentos que farão parte da sua rotina de alimentação.
Perceba que existe uma grande diferença entre programar a sua rotina alimentar, o que é ótimo, e viver em função do alimento.
Sente-se preocupada com os alimentos?
Faz um planejamento alimentar do seu dia e, caso algo saia do controle e você precise adaptar, fica tensa, perde o controle ou sente que não é capaz?
Evita particularmente carboidratos
Adora rotular os alimentos, classificados em bons ou maus, saudáveis ou prejudiciais e a partir desta categorização você retira os carboidratos para buscar resultados mais rápidos?
Sente-se culpada depois de comer
Sempre que você finaliza uma refeição se culpa por aquilo que comeu e acredita que vai engordar ou que colocou tudo a perder?
Gosta de sentir o estômago vazio
Sabe aquela sensação de que você tem um buraco enorme no estômago? Sentir isso te agrada e faz você sentir que está no controle?
Quando se sente triste ou nervoso, come mais?
Depois daquele dia cheio, cansativo e que suga a sua energia, você sente uma vontade enorme de comer, sem necessariamente estar com fome? E a medida que come sente-se mais tranquilo e relaxado?
Está sempre com fome o bastante para comer a qualquer hora
Se pudesse, você comeria o dia inteiro, ficaria beliscando ou comendo aleatoriamente?
Caso você tenha se identificado com uma ou mais destas questões, sugiro que converse com um nutricionista para uma avaliação mais específica. Talvez você precise restaurar a sua relação com os alimentos, tornando-a mais amigável. Essa atitude será muito positiva e transformadora.
Não cultive escolhas que podem te transformar num escravo do alimento, mas, sim, um parceiro que compreende a verdadeira função que ele tem, e consegue reconhecer o melhor caminho a percorrer.
*Colaboração da nutricionista comportamental Samantha Rhein (Unifesp)
Referências
NATACCI, Lara Cristiane; FERREIRA JUNIOR, Mario. The three factor eating questionnaire – R21: tradução para o português e aplicação em mulheres brasileiras. Rev. Nutr., Campinas, v. 24, n. 3, p. 383-394, June 2011.
Appolinario e cols., Instrumentos para a avaliação dos Instrumentos para a avaliação dos transtornos alimentares transtornos alimentares. Rev Bras Psiquiatr 2002;24(Supl III):34-8.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do saudevitalidade.com
Por: Paola Machado Colunista do UOL
Fonte: Paola Machado é formada em educação física, mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutora em ciências da saúde (foco em fisiopatologia da obesidade e fisiologia da nutrição) pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre exercícios, nutrição e saúde. CREF: 080213-G | SP
Transcrito: https://www.uol.com.br/vivabem/colunas/paola-machado/2021/04/09/atitudes-alimentares-na-pandemia.htm