O que acontece no seu corpo quando você come comida apimentada
Frescas, desidratadas, inteiras, em pó ou em conserva, sozinhas e até acompanhadas, as pimentas vão da mesa aos perfumes e ainda podem ser encontradas nas prateleiras das farmácias mais próximas da sua casa.
O sucesso dessa família de frutos se deve a um de seus gêneros, o Capsicum, cujo principal princípio ativo é a capsaicina. Essa substância garante a típica picância, e ainda se mantém íntegra mesmo em contato com o álcool, o vinagre ou o óleo. Daí a multiplicidade de seus usos.
– Existem mais de 20 espécies desse gênero
– ¼ da população do globo consome esse tipo de pimenta
– 500 mg é o consumo diário desse item entre os brasileiros
– Os maiores consumidores são coreanos, tailandeses, indianos e mexicanos
Ardência que tem valor
Você sabe quais são os efeitos da pimenta no seu organismo? Foto: Reprodução/Internet
As pimentas do gênero Capsicum são definidas como hortículas para diferenciar das pimentas do reino, preta, etc., que pertencem a outra família, a Piperaceae. Este texto considera apenas as primeiras.
Ao incluí-las na dieta, você investe em nutrientes como a capsaicina e outros compostos como a dihidrocapsaicina e a homocapsaicina, e também colabora para atender às recomendações dos nutricionistas de colocar mais cor no seu prato.
– Dada a presença de pigmentos vermelho, alaranjado e amarelo, as pimentas são ricas em carotenoides –considerados ativadores das vitaminas A e C;
– As vitaminas B6 e K1 também estão presentes. A primeira tem papel no metabolismo; e a segunda é essencial para a saúde dos ossos, rins e atua na coagulação sanguínea;
– Minerais como potássio e cobre garantem o efeito protetor da saúde do coração e dos neurônios, respectivamente;
– De quebra, você capricha na ingestão de flavonoides, uma classe de ácidos fenólicos que possuem ação antioxidante e anti-inflamatória.
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O que mais você ganha com isso
Há 7.000 anos esses vegetais já eram conhecidos e usados para fins medicinais, provavelmente para combater picadas de insetos ou de cobras. Hoje, os cientistas têm observado a influência dos componentes das pimentas na saúde, em especial a capsaicina. Entre as suas propriedades já comprovadas e as potenciais, destacam-se:
– Ação analgésica
– Antiobesidade
– Melhora das defesas do corpo
– Redução do risco de doenças do coração e outras doenças
– Equilíbrio da microbiota
Você potencializa o controle da dor
Foto: Reprodução/Internet
Ao incluir na dieta alguma dessas pimentas, você colabora para o controle de vários tipos de dor. A capsaicina compõe a fórmula de alguns implastros que você compra na farmácia para dores musculares, e também é ingrediente de várias medicações de uso tópico ou oral indicadas para o alívio de vários incômodos:
– Dor neuropática diabética
– Neuralgia pós-herpética
– Osteoartrite
– Dor crônica musculoesquelética
– Dor pós-operatória
Você pode até perder peso
Os cientistas são claros: investir no consumo de pimenta está longe de ser uma receita mágica para alcançar sua meta de peso.
Os resultados das pesquisas, até o momento, mostram que ela colabora para o maior consumo de energia, a queima de gordura (inclusive abdominal) e ainda reduz o apetite.
– Essas características, porém, devem ser consideradas em conjunto com um plano de reeducação alimentar e atividade física. O que tem o potencial de acelerar o processo é a sinergia desses elementos.
– A pimenta, isoladamente, pouco faz nesse sentido. Os dados foram publicados na revista acadêmica Appetite.
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Você toma shots de antioxidantes
Ricas em fitoquímicos, incluindo fenóis e flavonoides, importantes antioxidantes, as pimentas vão além dos benefícios nutritivos.
– Elas ajudam a eliminar as toxinas do organismo que contaminam o seu ambiente, ou seja, o terreno biológico
– Em pessoas predispostas geneticamente, o acúmulo dessas toxinas abre as portas para doenças
Ao prevenir ou atrasar a oxidação de células, proteínas e gorduras, os antioxidantes que compõem as pimentas funcionam como shots protetores dos sistemas fisiológicos, em especial o imunológico –e você se blinda contra doenças.
Você protege o coração (e vive mais)
Foto: Reprodução/Internet
Um estudo preliminar apresentado no congresso anual da Sociedade Americana do Coração, em 2020, observou 570 mil indivíduos dos Estados Unidos, China e Itália para analisar a influência da capsaicina nas causas e na mortalidade de todas as doenças do coração. Os resultados até agora revelados são promissores:
– Mais pimenta na dieta pode reduzir a mortalidade por doenças cardiovasculares em 26%.
– Quando comparadas pessoas que nunca ou raramente comem pimentas às que usualmente o fazem, consumi-las resultou em 26% a redução de morte por todas as causas, e 23% menos câncer.
– Para além desses achados, quem aprecia pimentas acrescenta sabor ao prato e reduz o uso do sal, inimigo da pressão arterial. Faça um mix de suas ervas e pimentas preferidas para ter à mão na hora das refeições. A relação é de ganha-ganha.
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Você turbina a microbiota
Aqui as evidências científicas ainda estão tomando corpo. Estudos com animais (portanto, ainda precisam ser repetidos com humanos) sugerem que os capsaicinoides promovem benefícios na microbiota intestinal, afastando, principalmente, doenças inflamatórias e metabólicas —como as do coração, o diabetes, a obesidade e a síndrome metabólica.
– Essas conclusões ratificam a relação entre o consumo de comidas apimentadas e redução do risco de morte por doenças crônicas
– Os pesquisadores afirmam que o mecanismo por trás disso é complexo, mas a hipótese é a de que propriedades antimicrobianas da capsaicina levariam a esse efeito
– Ainda não se sabe quais seriam as doses terapêuticas e nem o tempo necessário de exposição às pimentas em humanos nesses casos.
Use e abuse, se não for sensível
Consideradas saudáveis e seguras, as pimentas devem compor um cardápio equilibrado porque não possuem contraindicações absolutas.
Apesar disso, elas devem ser evitadas em algumas circunstâncias:
– Embora não causem úlcera nem hemorroidas, podem aumentar a sensação de dor e ardor nesses quadros
– Quem come pimentas mais de 10 vezes na semana, aumenta em mais de 90% o risco de ter síndrome do intestino irritável
– Para quem é mais suscetível, elas podem desencadear sintomas como a diarreia
– O mesmo vale para inflamações intestinais, como a colite ulcerativa, por exemplo
– Desconforto estomacal (dispepsia)
– Pessoas com asma apresentam maior sensibilidade à capsaicina
Exagerou na dose e a boca está queimando? Tome leite. A água pode espalhar a capsaicina pelas mucosas e causar ainda maior ardor.
Quanto mais quente, melhor!
A família Capsicum é composta por pimentões, tomates, berinjela e até batata. Embora as pimentas sejam as irmãs nesse grupo, elas variarão em ardência, a depender da concentração de substâncias alcaloides, em especial 2 capsaicinoides: a capsaicina e a dihidrocapsaicina.
– O teor de pungência é medido por uma escala chamada UCS (Unidades de Calor Scoville)
– Os valores podem variar de zero (pimentas doces, como a cambuci e biquinho) a 300 mil (pimentas extremamente apimentadas, como a malagueta e cumari-do-Pará)
As mais consumidas no Brasil são: pimenta doce, jalapeño, cayenne, serrana, dedo-de-moça, cambuci (chapéu-de-frade), de cheiro, de bode, cumari-do-Pará, murupi, habanero, biquinho, malagueta e tabasco.
Posologia, veja aqui!
Todo mundo sabe que a diferença entre veneno e remédio é a dose. No caso das pimentas, mesmo que você seja um apreciador, é preciso respeitar alguns limites.
– As pimentas frescas, em geral, são bem toleradas pelas pessoas. Mesmo assim, para aqueles que tenham distúrbios gástricos ou maior sensibilidade, a dose diária recomendada é de 1 colher (chá) ao dia;
– Cada pimenta tem seu “sabor” que combina mais ou menos com cada prato. A dedo-de-moça vai bem com molhos picantes e saladas; a cayenne, é melhor para conservas; já a malagueta acompanha carnes, peixes e até omeletes.
Posso usar suplemento de capsaicina?
Antes de se “automedicar”, saiba que a suplementação é útil quando bem indicada pelo médico, nutricionista ou nutrólogo. Geralmente ela integra um plano dietético elaborado após cuidadosa investigação das possíveis deficiências nutricionais de cada pessoa.
– Nesses casos, os limites de consumo são de 10 mg diárias.
– Na maioria das vezes a capsaicina é associada a outros suplementos, e manipulada em farmácia magistral.
Por: Cristina Almeida
Colaboração para VivaBem
Fontes: Ana Kátia Moura, nutricionista especialista em fitoterapia do HUWC/UFC (Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares)
Audrey C. Rodrigues Cruz, nutricionista especializada em alimentos funcionais e nutrigenômica voltados à atividade física e doenças crônicas pelo Centro Universitário São Camilo; atua como nutricionista orientadora voluntária na Liga de Diabetes Mellitus do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo)
Eliane Petean Arena, nutricionista clínica e farmacêutica do HRAC/USP e HC Bauru/USP (Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo e do Hospital das Clínicas de Bauru, da mesma instituição)
Revisão técnica: Eliane Petean Arena
Referências:
– Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)
– Whiting S, Derbyshire E, Tiwari BK. Capsaicinoids and capsinoids. A potential role for weight management? A systematic review of the evidence. Appetite. 2012 Oct;59(2):341-8. doi: 10.1016/j.appet.2012.05.015. Epub 2012 May 22. PMID: 22634197.
– Esmaillzadeh A, Keshteli AH, Hajishafiee M, Feizi A, Feinle-Bisset C, Adibi P. Consumption of spicy foods and the prevalence of irritable bowel syndrome. World J Gastroenterol. 2013 Oct 14;19(38):6465-71. doi: 10.3748/wjg.v19.i38.6465. PMID: 24151366; PMCID: PMC3801318.
– Rosca AE, Iesanu MI, Zahiu CDM, Voiculescu SE, Paslaru AC, Zagrean A-M. Capsaicin and Gut Microbiota in Health and Disease. Molecules. 2020; 25(23):5681. https://doi.org/10.3390/molecules25235681.
– Azlan A, Sultana S, Huei CS, Razman MR. Antioxidant, Anti-Obesity, Nutritional and Other Beneficial Effects of Different Chili Pepper: A Review. Molecules. 2022; 27(3):898. https://doi.org/10.3390/molecules27030898.
Transcrito: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2023/02/28/o-que-acontece-no-seu-corpo-quando-voce-come-comida-apimentada.htm