O que acontece no corpo no calor intenso?
Médico Luis Fernando Correia explica e dá dicas para que o organismo não sofra na onda de altas temperaturas que já começou e segue nos próximos dias. Confira
Nos próximos dias, há a previsão de uma nova e intensa onda de calor fora de época, encerrando o inverno e abrindo a primavera, que começa na madrugada do próximo sábado (23/9), com temperaturas de verão escaldante, acima dos 40ºC, em boa parte do país. Isso vai acontecer porque as frentes frias comuns dessa época do ano serão barradas por um bloqueio atmosférico, com expectativa de recordes de calor em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. O organismo, no entanto, sofre com o aquecimento persistente, e o médico Luis Fernando Correia, o Doc, colunista do EU Atleta e da CBN, vai explicar abaixo o que acontece no corpo quando ele é submetido ao calor intenso.
No calor intenso, o organismo sofre como um todo — Foto: Reprodução/Internet
– Eu faço uma comparação com um carro: o nosso corpo tem um radiador, a pele, que usa a água, na forma de suor, para resfriá-lo. Se o corpo não estiver bem hidratado, o “motor” vai fundir. Você precisa de água no radiador do carro para que o motor seja resfriado e não quebre, e precisa de água no corpo para que ele sue e se resfrie – compara Luis Fernando.
O médico lembra ainda o impacto que o calor tem na saúde de cada pessoa e no sistema de saúde de um país quando não há estratégias para superá-lo. Em julho, o diretor geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, já havia alertado sobre as consequências das altas temperaturas em face ao verão no Hemisfério Norte.
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– O calor extremo tem maior impacto sobre aqueles que são menos capazes de aguentar as suas consequências, como os idosos, os bebês e as crianças, e os pobres e os sem-abrigo – disse Tedros. – Também aumenta a pressão sobre os sistemas de saúde. A exposição ao calor excessivo tem impactos abrangentes para a saúde, muitas vezes amplificando condições pré-existentes e resultando em morte prematura e incapacidade.
Pele
O suor é uma importante ferramenta de termorregulação corporal — Foto: Reprodução/Internet
Como explicam os fisiologistas Turibio Barros e Gerseli Angeli nesta coluna de 2019, “a temperatura corporal é o indicador mais importante do conforto térmico para preservar a saúde”. E o suor, produzido a partir da água que advém do plasma sanguíneo, sobre a pele é uma das formas mais importantes dissipação de calor pelo corpo humano, de refrigeração do corpo. Quando há altas temperaturas, há a necessidade de maior troca de calor do corpo para o ambiente e, consequentemente, maior produção de suor. Com ele, não é só água que sai, mas também eletrólitos, ou seja, sais minerais como sódio, potássio e magnésio. Por isso, se não houver reposição de água e eletrólitos, há risco de desidratação e hiponatremia.
– As pessoas se preocupam com quem está exposto ao sol no calor, o que é importante, porque essa pessoa ainda pode sofrer queimaduras. Mas é importante lembrar também de quem trabalha em ambientes fechados e mal ventilados, em condições insalubres, inclusive em locais com maquinário que aumenta o calor ambiente. É importante se preocupar com essas pessoas e com os idosos, que muitas vezes ficam em casa sozinhos, sem ter quem ofereça líquidos, e se esquecem de beber água – alerta Luis Fernando.
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Quando se faz exercício físico no calor, o risco é ainda maior, pois há ainda mais necessidade de evaporação do suor, o que promove um maior fluxo sanguíneo para a pele. Mas como durante o exercício físico, o músculo exige maior fluxo sanguíneo, o redirecionamento de parte do fluxo sanguíneo muscular para a pele gera piora do desempenho físico em ambientes quentes.
Risco de Intermação
Mantenha o corpo resfriado no calor — Foto: Reprodução/Internet
Quando se perde água e sais minerais em excesso, pelo suor, no calor, a pessoa começa a se sentir mole, apática, com tonturas e enjoo.
Beber água é fundamental para que o corpo siga dissipando calor. No entanto, se não houver reposição de sais minerais, o corpo seguirá perdendo os eletrólitos, e começará a ter câimbras.
– Mas é uma câimbra diferente, causada pelo calor, não por exercícios – explica Luis Fernando: – O problema maior é quando ela para de suar e entra em intermação. Nesse momento, ela não dissipa mais calor. Fica agitada, com confusão mental.
Intermação é uma hipertermia provocada por calor intenso, que gera uma resposta sistêmica inflamatória e atinge vários órgãos, podendo causar até mesmo a morte.
– Nesse momento, não adianta mais oferecer água. A pessoa precisa ter o corpo resfriado em banheira ou chuveiro frio e é preciso chamar a emergência – explica Luis.
Outros órgãos
– Cérebro – Há redução da irrigação cerebral, causando as sensações de letargia, tontura e dor de cabeça. Em situações mais graves, começa a haver confusão mental;
– Coração – Com o aumento da temperatura corporal e da consequente produção de suor, há a redução do volume sanguíneo, já que o corpo perde água e o fluxo é direcionado para a pele, para transferir calor e produzir suor. O coração fica menos irrigado. Na atividade física, isso fica ainda mais claro. Isso porque em em temperatura amena, durante os treinos o fluxo sanguíneo para a pele é de 3 a 5 litros por minuto. Já no calor, o fluxo é sanguíneo para a pele é de 7 a 8 litros por minuto.
– Rins – Eles sofrem com a falta de volume de água circulante. Com a falta de irrigação, pode haver até mesmo lesão renal aguda, já que os rins trabalham para filtrar ainda mais o plasma sanguíneo.
– Músculos – O calor aumenta o uso do glicogênio muscular como fonte de energia. No exercício, então, há um maior metabolismo anaeróbio, com maior produção de amônia, íons de hidrogênio (H+), fosfato inorgânico (Pi) dentre outras moléculas causadoras da fadiga muscular. Pode haver um quadro grave de rabdomiólise, uma doença que leva à destruição das fibras musculares.
O que fazer para proteger a saúde? 10 dicas simples
Água de coco hidrata e repõe sais minerais — Foto: Reprodução/Internet
1. Mantenha a hidratação. Beba água até se não estiver com muita sede. O ideal é beber pelo menos 40 ml de água por quilo diariamente (uma pessoa de 70 kg deve beber, portanto, 2,8 litros de água e outros líquidos por dia);
2. Se possível, alterne a água com bebidas isotônicas, como água de coco, para reposição de sais minerais;
3. Se for praticar esportes, use bebidas isotônicas esportivas, ainda mais cheias de eletrólitos;
4. Tente fazer exercícios em ambientes refrigerados. Se não for possível, opte por treinar de manhã bem cedo ou no fim do dia, quando o calor está menos intenso;
5. Monitore a cor da urina: esse é um bom indicador do nível de hidratação do corpo. Uma urina clara ou de cor amarelo claro indica que você está bem hidratado. Já se estiver muito concentrada e escura, é um sinal de que você precisa aumentar a ingestão de líquidos.;
6. Mantenha os ambientes ventilados, com janelas abertas e ventiladores, se possível.
7. Se tiver acesso a ar-condicionado, coloque um balde de água no ambiente, para umidificá-lo. E lembre de mantê-lo limpo, para evitar problemas respiratórios;
8. Opte por uma alimentação mais leve, com muitas frutas;
9. Se começar a se sentir tonto e confuso, resfrie o corpo com um banho frio e peça ajuda. Você pode precisar ser levado a uma emergência;
10. Fique atento às crianças e aos idosos, principalmente, grupos de risco mais suscetíveis à desidratação;
11. Use roupas leves;
12. Evite exposição ao sol. Se não tiver jeito, use protetor solar e um boné ou chapéu.
Por: EU Atleta — Rio de Janeiro
Fontes: Luis Fernando Correia, Médico colunista do EU Atleta e da CBN
Turibio Barros e Gerseli Angeli, fisiologistas
Tedros Adhanom Ghebreyesus. diretor geral da Organização Mundial da Saúde (OMS)
Transcrito: https://ge.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/2023/09/19/o-que-acontece-no-corpo-no-calor-intenso.ghtml