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O que acontece na menopausa? Veja benefícios dos exercícios

Endocrinologista explica os sintomas comuns nos anos finais da vida reprodutiva da mulher e lista melhorias que o esporte pode proporcionar nessa fase

O envelhecimento é um processo natural, complexo e predeterminado que está associado à senescência reprodutiva na maioria dos vertebrados, incluindo mamíferos de ambos os sexos. Nos anos finais da vida reprodutiva da mulher, acontece a perimenopausa ou a transição da menopausa, período relacionado a profundas mudanças reprodutivas e hormonais. É tanto endócrino por conta mudanças hormonais quanto neurológico, específico do sexo feminino na meia-idade, que culmina com a senescência reprodutiva, ou seja, declínio reprodutivo relacionados com a idade. Todas as mulheres passam pela menopausa ao longo da vida, seja por meio do processo natural de envelhecimento endócrino, seja por meio de intervenção médica.

Benefícios do esporte na menopausa — Foto: Internet

Além de ser um estado de transição reprodutiva, a menopausa é também uma transição neurológica. Muitos dos sintomas são de natureza neurológica, como ondas de calor, sono perturbado, alterações de humor e esquecimento.

Já foi demonstrado que o declínio do estrogênio (hormônio feminino) após a menopausa está associado a um risco aumentado de doenças cardiovasculares, osteoporose, câncer, diabetes, derrame, distúrbios do sono, Doença de Alzheimer e declínio cognitivo.

Perimenopausa x menopausa

A perimenopausa se refere ao período de tempo imediatamente antes do início da menopausa. Durante a perimenopausa, o corpo da mulher está iniciando a transição para a menopausa: a produção de hormônios pelos ovários começa a diminuir. O ciclo menstrual pode se tornar irregular, mas não cessará durante a fase da perimenopausa. Já a menopausa é quando não há nenhum ciclo mentrual por 12 meses consecutivos. 

Menopausa e o cérebro humano

Durante a transição da menopausa, os hormônios sexuais, especialmente o 17β-estradiol, um tipo de estrogênio, diminuem substancialmente no corpo e no cérebro. Novas evidências mostram que a perimenopausa é pró-inflamatória e perturba os sistemas neurológicos regulados pelo estrogênio, gerando um amplo impacto dos declínios de estrogênio nos sistemas neurais, como quantidade de neurônios, formação de sinapses neuronais, entre outros.

Além disso, a depleção de estrogênio foi associada ao acúmulo de placa beta-amilóide (Aβ), uma marca registrada da doença de Alzheimer (DA), em animais fêmeas.

Reposição hormonal

Ainda não está claro se a terapia de reposição hormonal na menopausa fornece proteção contra o envelhecimento cognitivo e a Doença de Alzheimer. Contudo, estudos encontraram efeitos positivos sobre a cognição em vários regimes de terapia hormonal, enquanto os ensaios clínicos de mulheres de 65 anos ou mais relataram um risco aumentado de demência quando iniciada a terapia hormonal com estrogênio + progesterona.

Acredita-se que a eficácia da terapia de reposição hormonal dependa do momento do início do tratamento em relação à idade na menopausa, com benefícios quando iniciada precocemente. Lembrando que é crucial a orientação e acompanhamento de um médico capacitado para realizar a terapia de reposição hormonal.

Exercícios e menopausa

Terapia hormonal na menopausa; entenda — Foto: Internet

Com número significativo de mulheres na menopausa, é imperativo planejar um programa de saúde abrangente a essas mulheres, incluindo modificações no estilo de vida. O exercício é parte integrante da estratégia. Os benefícios são muitos. O mais importante é a manutenção da massa muscular e, portanto, da massa óssea e da força.

O programa de exercícios para mulheres na pós-menopausa deve incluir exercícios de resistência (aeróbicos), exercícios de força e exercícios de equilíbrio. Aeróbicos e exercícios de resistência são eficazes para aumentar a densidade mineral óssea da coluna em mulheres na pós-menopausa.

Nunca é tarde para começar a se exercitar. O segredo é começar devagar e fazer as coisas que gosta, como caminhar, andar de bicicleta, trabalhar vigorosamente no quintal, nadar, fazer exercícios aeróbicos ou frequentar aulas de ginástica em grupo. O exercício regular pode ajudar a melhorar o bem-estar geral. Mesmo a atividade física moderada, como simplesmente mover o corpo o suficiente para fazer o coração bater, traz grandes benefícios à saúde, incluindo mais energia.

Benefícios do exercício na menopausa

1. Aumenta a função cardiorrespiratória. Se feito regularmente, reduz os riscos metabólicos associados ao declínio do estrogênio. Aumenta o HDL, reduz o LDL, triglicerídeos e fibrinogênio. Além disso, reduz do risco de hipertensão, ataques cardíacos e derrames.

2. Cria déficit calórico e minimiza o ganho de peso na meia-idade.

3. Aumenta a massa óssea. O treinamento de força e atividades de impacto (como caminhar ou correr) podem ajudar a compensar o declínio da densidade mineral óssea e prevenir a osteoporose.

4. Alivia a dor lombar.

5. Reduzi o estresse e melhora o humor.

6. Ajuda a reduzir as ondas de calor, minimizando assim o “efeito dominó”.

Cada mulher experimenta a menopausa de maneira diferente. Para algumas, os sintomas são leves e passam rapidamente. Para outras, é uma explosão de ondas de calor e mudanças de humor. A adoção de mudanças no estilo de vida, com a ajuda de profissionais capacitados, como médicos, nutricionistas e educadores físicos, podem ajudar drasticamente nas mudanças que ocorrem no corpo da mulher nesta fase normal durante o envelhecimento.

Referências

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Wang Y, Shang Y, Mishra A, Bacon E, Yin F, Brinton R (2020). Midlife Chronological and Endocrinological Transitions in Brain Metabolism: System Biology Basis for Increased Alzheimer’s Risk in Female Brain. Sci Rep

por: Guilherme Renke — Rio de Janeiro

Fonte: Guilherme Renke, Médico com Título de Especialista em Endocrinologia e Metabologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Título de Especialista em Medicina do Esporte pela Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), Pós Graduado em Cardiologia pelo Intituto Nacional de Cardiologia do Rio de Janeiro (INCL), Aprimoramento em Endocrinologia pela Harvard Medical School, Post Graduate Course Obesity Medicine (Boston, EUA) e pelo American Board of Obesity

Medicine (EUA). Pesquisador aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ (Inovações no esporte 2012). Pós Graduado em Endocrinologia e Metabologia pelo Instituto de Pós Graduação Médica (IPEMED) com experiência em pesquisa clínica e laboratorial nas áreas da cardiologia, endocrinologia & medicina do esporte, realizando palestras em diversos eventos científicos da área.

Transcrito: https://ge.globo.com/eu-atleta/saude/post/2021/08/05/o-que-acontece-na-menopausa-veja-beneficios-dos-exercicios.ghtml

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