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O que acontece com o seu corpo quando se vive em efeito sanfona?

Se você pensa que emagrecer é difícil, saiba que manter-se magro ou magra é um trabalho tão árduo quanto, não por acaso existe a expressão “efeito sanfona” para as mulheres e homens que vivem no “lenga-lenga” do engordar e emagrecer.

Há diversas definições para o efeito sanfona, uma delas, de acordo com estudo publicado na revista científica Diabetes Care, caracteriza o problema por vários ciclos de perda de peso, seguidos do ganho do mesmo peso reduzido. Estes ciclos são definidos com uma a seis variações de pelo menos cerca de 2,5 kg de peso corporal cada.

Ou seja, encontra-se em efeito sanfona pessoas que num período aproximado de seis meses a um ano ganham ou perdem peso corporal por repetidas vezes, levando ao desequilíbrio das funções fisiológicas, biológicas e até mesmo psicossociais.

As consequências para a saúde são severas, levando não somente à perpetuação da obesidade, mas de suas comorbidades, entres estas o diabetes, a hipertensão e a síndrome metabólica, e estados de ansiedade e depressão.

Além de serem ineficazes e não duradouras, dietas restritivas que resultam em efeito iô-iô podem causar danos psicológicos e físicos —sendo alguns deles permanentes. Veja como pode afetar seu organismo:

– Músculos

Como essas pessoas costumam perder muito peso e de forma rápida, normalmente perdem uma grande quantidade de músculos —mesmo quando realizam exercícios em conjunto com a estratégia adotada.

Adicionalmente, quando essas mesmas pessoas retomam a alimentação normal e começam a ganhar peso de volta, elas recuperam muito mais gordura.

Dessa forma, além de um físico aquém do ideal, da próxima vez que você tentar perder peso, provavelmente será muito mais difícil, já que seu corpo agora tem menos músculos —um dos grandes responsáveis pelo aumento da taxa metabólica basal (TMB)— e um estoque maior de gordura.

Assim, suas tentativas (que em um primeiro momento pareceram ser certeiras), tornam-se cada vez mais frustrantes. Para reforçar ainda mais esse ponto, um estudo de 2019 publicado na revista Obesity mostrou que as pessoas que fazem dietas que resultam em efeito iô-iô tendem a ter menos massa muscular e força do que aquelas que não fazem e seguem uma alimentação mais equilibrada.

– Sistema digestório e saúde intestinal

Nos períodos entre a restrição calórica, as pessoas tendem a comer muito mais e de forma compulsiva, causando problemas digestórios como refluxo, dores de estômago e até prisão de ventre intermitente ou diarreia, dependendo do que e quanto está comento.

Um estudo de 2013 publicado no Journal of Psychosomatic Research, mostra que os períodos de compulsão alimentar também estão fortemente associados a condições como doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e síndrome do intestino irritável (SII), que os pesquisadores dizem que podem levar a mais períodos de restrição alimentar para aliviar os sintomas dolorosos, alimentando cada vez mais um ciclo que não se encerra —de restrição e compulsão alimentar, resultando em mais problemas.

Além disso, esse tipo de dieta tende a deixá-lo mal-humorado, estressado, ansioso e até deprimido, e não é pelo efeito social e, sim, porque a dieta afeta o sistema de comunicação do humor que temos entre nosso sistema digestório e cérebro.

O efeito iô-iô pode contribuir para a inflamação crônica ao longo do tempo e é aí que vemos a saúde do cérebro e do intestino sendo afetada. Os pesquisadores sabem há anos que o microbioma intestinal desempenha um papel importante na produção de serotonina, um neurotransmissor responsável por regular o apetite, o humor, o comportamento e o sono, sendo que qualquer tipo de restrição alimentar pode desequilibrar o microbioma intestinal, comprometendo a produção de serotonina e de outros hormônios importantes.

A maioria das dietas da moda tendem a eliminar um ou mais grupos inteiros de alimentos. O intestino precisa de uma variedade de fontes de alimentos e, quando perde essa variedade, as bactérias boas não têm o alimento de que precisam para se sustentar e começam a morrer. Quando o microbioma intestinal está esgotado, você poderá ter prejuízos no seu organismo, incluindo o humor.

– Sistema cardiovascular

De acordo com uma pesquisa (2015) da Obesity Reviews, o efeito sanfona pode trazer prejuízos ao seu coração. O estudo mostra que a perda de peso afeta uma série de funções do corpo, incluindo frequência cardíaca, pressão arterial, glicemia e níveis de lipídios. Porém, alternar entre os períodos de perda e ganho de peso de forma abrupta e frequente pode fazer com que ocorra uma sobrecarrega do sistema cardiovascular.

Uma pesquisa (2019) da Epidemiology and Prevention da American Heart Association que correlacionou estilo de vida e saúde cardiometabólica, mostrou que mulheres que perderam pelo menos 5 quilos e recuperaram o peso novamente em um ano tinham mais fatores de risco para doenças cardíacas, incluindo IMC mais alto, colesterol alto, glicemia aumentada e pressão alta.

– Autoestima

As oscilações no peso e o efeito iô-iô são frequentemente associadas a sentimentos de fracasso e frustração (“mais uma vez não consegui!”). Uma grande parcela das pessoas não perdem peso a longo prazo devido às frequentes dietas io-iô e, quando o peso volta, a autoestima fica comprometida, gerando um efeito cascata de negatividade, que na verdade tem efeitos sobre a saúde geral do indivíduo —reduzindo a busca pela saúde, a saúde preventiva, tendo medo de fazer exames de rotina e até se pesar.

Por isso…

– Não perca o hábito de beber água

– Não perca o hábito de ingerir frutas e verduras

– Não perca o hábito de registrar o que ingere. Essa é uma grande “pegadinha” do processo, pois quando atingimos o peso ideal, não queremos mais registrar o que consumimos para não ver os deslizes que podemos cometer

– Não perca o hábito de se pesar semanalmente. O peso, mesmo sendo subjetivo, é uma grande medida avaliativa. Se, por exemplo, notou que saiu um pouco da linha em uma semana e ganhou peso na outra, segure mais nos dias seguintes, isso é importante para manter o peso e é mais fácil controlar. Lembre-se! Se está treinando musculação, ingerindo alimentos saudáveis, as medidas reduzirem e o peso aumentar, pode ser musculatura, então use a composição corporal como medida avaliativa.

– Não perca o hábito de mastigar lentamente

– Não perca o hábito de levar lanches saudáveis com você

– Não perca o hábito de se planejar com antecedência e de forma consciente

– Não deixe de fazer as refeições que está acostumado para não sobrecarregar as refeições seguintes

– Evite dietas malucas

– Não deixe a emoção falar mais alto

– Não deixe de realizar exercícios –principalmente musculação

– Não deixe de se observar

Referências:

Peat CM, Huang L, Thornton LM, et al. Binge eating, body mass index, and gastrointestinal symptoms. J Psychosom Res. 2013;75(5):456-461. doi:10.1016/j.jpsychores.2013.08.009

Montani JP, Schutz Y, Dulloo AG. Dieting and weight cycling as risk factors for cardiometabolic diseases: who is really at risk? Obes Rev. 2015 Feb;16 Suppl 1:7-18. doi: 10.1111/obr.12251. PMID: 25614199

Rossi A, Rubele S, Calugi S et al. Weight Cycling as a Risk Factor for Low Muscle Mass and Strength in a Population of Males and Females with Obesity. The Obesity Society. Volume 27, Issue 7. Pages 1068-1075. 2019

Heart.com. Yo-yo dieting may increase women’s heart disease risk. Disponível em: https://newsroom.heart.org/news/yo-yo-dieting-may-increase-womens-heart-disease-risk?preview=6bee

Delahanty, LM; et al. Effects of weight loss, weight cycling and weight loss maintenance on diabetes incidenceand change in cardiometabolic traits in the diabetes prevention program. Diabetes Care. 2014 OCT;37(10):2738-45. DOI: 10.2337/DC14-0018. EPUB 2014

Friedman, MA; et al. Differential relation of Psychological functioning with the history and experience of weight cycling. J CONSULT CLIN PSYCHOL. 1998 AUG;66 (4):646-50.

Harrington, M; et al. A review and meta-analysis of the effect of weight loss on all-cause mortality risk. NUTR RES REV. 2009 JUN;22(1):93-108. DOI: 10.1017/S0954422409990035

Por: Paola Machado

Fonte: Paola Machado, é formada em educação física, mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutora em ciências da saúde (foco em fisiopatologia da obesidade e fisiologia da nutrição) pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre exercícios, nutrição e saúde. CREF: 080213-G | SP

Transcrito: https://www.uol.com.br/vivabem/colunas/paola-machado/2021/12/07/o-que-acontece-com-o-corpo-quando-vive-em-efeito-sanfona.htm

 

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