Mitos e verdades da corrida
Quem tem hérnia de disco não pode ser corredor? Fisioterapeuta especialista em biomecânica do movimento, Raquel Castanharo desmascara três lendas da internet
Uma pessoa que fuma tem 40% mais risco de mortalidade do que alguém que não fuma, e todos sabem que fumar é fator de risco para várias doenças. Mas você sabia que uma pessoa com pouca capacidade aeróbica (baixo VO2 máximo) tem 400% mais risco de mortalidade do que alguém com alta capacidade aeróbica?
Sim! Condicionamento físico, além de trazer qualidade de vida, traz longevidade com mais saúde. E por isso são tão graves as lendas espalhadas pela internet, que colocam barreiras para pessoas sairem do sedentarismo. Hoje, meu objetivo é desmascarar algumas delas, principalmente as relacionadas à corrida, e te incentivar a sair mais do sofá.
1 – “Correr faz a pessoa envelhecer mais rapidamente”
Corrida não envelhece; ao contrário, ela diminui a degradação natural do colágeno da pele — (Foto:Reprodução/Internet)
O argumento aqui é que correr deixa a pele pior, mais flácida, o bumbum fica caído e toda uma sorte de problemas de ordem estética (e que, interessantemente, são levantados apenas para mulheres e não para homens. Mas esse é um assunto para uma outra coluna inteira).
Não há evidências científicas que mostrem esse efeito “envelhecedor” da corrida. Pelo contrário, a melhor evidência que eu encontrei correlaciona a prática da corrida com menor “degradação” (glicação) do colágeno da pele.
O que é bastante sabido é que o sol causa envelhecimento precoce da pele. Mas aí, problema resolvido com filtro solar e viseira, não é mesmo?
Essa história de assustar mulheres e desencorajá-las a praticar um esporte que irá trazer longevidade e qualidade de vida com um argumento estético sem embasamento é das lendas mais cruéis da internet, na minha opinião.
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2 – “Correr acaba com os joelhos”
Já ouvi tantas vezes pessoas aflitas com a possibilidade de um desgaste no joelho. Sabe qual o maior fator de risco para esse problema da artrose? Sedentarismo. Não corrida.
“Ah, mas um médico famoso disse isso em uma entrevista.” Um médico famoso na Babilônia dizia que doenças eram castigos dos deuses e que transtornos psiquiátricos eram possessões demoníacas. Ainda bem que o mundo evolui e a ciência vai nos aproximando mais da realidade. Na saúde, não devemos nos embasar na opinião de uma pessoa isoladamente, e sim no que foi testado com um método mais seguro.
3 – “Não posso correr porque tenho hérnia de disco. Ou bico de papagaio. Ou pé chato. Ou qualquer coisa que você queira colocar aqui”
(Foto:Reprodução/Internet)
Eu trabalho com corredores há15 anos. Nunca vi uma problema ortopédico que impedisse alguém de correr (as pessoas podem correr até mesmo após perder uma perna).
Há um período de tratamento, talvez uma redução permanente no volume e intensidade dos treinos, mas eu desconheço um problema que obrigue alguém capaz de se mover normalmente de sair da corrida.
Você não precisa necessariamente correr para ter boa capacidade aeróbica. Você pode fazer a atividade cardiorespiratória que goste mais, como ciclismo ou natação. Mas caso queira correr, minha sugestão é só ir. Começando devagar, fortalecendo direitinho, conversando com profissionais da saúde atualizado e, principalmente, ignorando empecilhos sem embasamento científico publicados na internet.
Vamos nos mexer? Vem comigo e tire mais dúvidas em @raquelcastanharo.
Por: Raquel Castanharo Colunista Globo Esporte — São Paulo
Fonte:Raquel Castanharo, Mestre Biomecânica – USP , Cuido de corredor e ensino a cuidar de corredor
Transcrito:https://boaforma.abril.com.br/alimentacao/protuberancia-abdominal/