Menos estresse e mais fôlego: ganhos de quem passou a pedalar na pandemia
Todas as manhãs, Leandro Tavares, 37, veste seu capacete e segue rumo ao petshop onde trabalha, no Rio de Janeiro. O entregador, que chega a percorrer 50 km por dia, decidiu trocar o ônibus pela bicicleta para evitar a aglomeração do transporte público durante a pandemia.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a bike é uma das formas de deslocamento mais seguras para evitar a proliferação do coronavírus. Mas não foi só um risco mais baixo de contrair covid-19 ao ir e voltar do trabalho que Leandro obteve quando passou a se locomover sobre duas rodas: “Diminui o estresse, melhorou o humor e até minha autoestima aumentou”, afirma o carioca.
A médica cardiologista Danielle Resende, do Vera Cruz Hospital, de Campinas, confirma que logo nos primeiros dias de atividade física algumas pessoas já podem obter uma elevação na sensação de alegria e bem-estar e redução de estresse, já que pedalar estimula a produção de substâncias como epinefrina, noradrenalina e endorfina.
Nickolas Pereira de Arruda, 27, também colheu esses benefícios. O mecânico hidráulico de São Paulo relata que a redução do estresse e o aumento da disposição no dia a dia foram os primeiros efeitos que sentiu ao trocar o ônibus pela bike para ir trabalhar. Depois de alguns meses, veio a perda de peso e o paulistano, que tem asma, viu até sua respiração melhorar.
Por ser uma atividade aeróbica –exercício em que você faz movimentos constantes por tempo prologando e usa o oxigênio como principal fonte de energia para os músculos–, pedalar trabalha bastante o sistema cardiorrespiratório, melhorando a saúde do coração, dos pulmões e a circulação sanguínea. Para se ter ideia, segundo a cardiologista Amanda Gonzales Rodrigues, do Hospital Sírio-Libanês, uma única sessão do exercício já é capaz de reduzir os níveis da pressão arterial por até 24 horas.
“O exercício também proporciona grande gasto calórico e pode contribuir para a perda de peso, mas uma dieta equilibrada é fundamental nesse resultado. A pessoa não pode comer mais para compensar o que perdeu pedalando, né?”, alerta Rodrigues.
Para obter todos esses benefícios trazidos pela atividade física, a OMS recomenda a realização de ao menos 150 minutos semanais de exercícios moderados, que podem ser distribuídos ao longo do dia. Ou seja, mesmo quem mora perto da empresa e gasta 15 minutos para ir e 15 minutos para voltar do trabalho vai garantir melhorias à saúde.
Persistência é a chave
Principalmente no início, quem é sedentário pode sofrer com fadiga e dores musculares. Mas o segredo é manter a regularidade, pois com o tempo a capacidade do sistema cardiovascular aumenta, os músculos ficam mais fortes e o organismo se adapta ao exercício. Caso o desconforto no começo seja grande, procure intercalar os dias em que pedala, para dar tempo para o corpo se adaptar.
“Após algumas semanas, o organismo passa a funcionar de forma tão equilibrada que até mesmo a qualidade do sono melhora”, diz Raul Osiecki, professor do curso de educação física da UFPR (Universidade Federal do Paraná)
Todo cuidado é pouco
Antes de se lançar ao projeto de pedalar diariamente, é fundamental fazer uma avaliação médica para saber se você está apto para praticar exercícios regularmente.
O segundo passo é ter uma bike com tamanho adequado para sua altura, com o selim e o guidão ajustados corretamente. Também é importante que a bicicleta tenha os equipamentos de segurança necessários para pedalar no trânsito: farol dianteiro, luz traseira, buzina. Sem falar do capacete, que é essencial para a segurança.
Principalmente para quem é iniciante, Ericson Pereira, professor do curso de educação física da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), recomenda antes de sair de casa planejar bem o trajeto que irá fazer: “Opte por ruas mais planas no início”, diz.
Independentemente do seu nível no pedal, a recomendação é sempre transitar por ciclovias, ciclofaixas ou ruas pouco movimentadas, mesmo que isso faça com que o trajeto fique um pouco mais longo. Evite grandes avenidas (vá por vias paralelas) e nunca pedale no corredor de ônibus, nem na contramão —os ciclistas devem obedecer as mesmas regras de trânsito dos automóveis.
O professor Ericson alerta ainda que o ciclista precisa estar preparado para imprevistos: leve na mochila ferramentas para consertar um pneu furado ou problemas mecânicos.
Por: Lívia Inácio
Colaboração para o VivaBem
Fonte: OMS (Organização Mundial da Saúde)
Danielle Resende,médica cardiologista do Vera Cruz Hospital, de Campinas
Amanda Gonzales Rodrigues, cardiologista do Hospital Sírio-Libanês
Raul Osiecki, professor do curso de educação física da UFPR (Universidade Federal do Paraná)
Ericson Pereira, professor do curso de educação física da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná)
Transcrito: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2021/01/11/menos-estresse-e-mais-folego-ganhos-de-quem-passou-a-pedalar-na-pandemia.htm