Março sem álcool: 10 benefícios de passar um mês sem beber
“Janeiro Seco” pode até dar certo em alguns países, mas no Brasil pode ser difícil se abster de bebidas alcoólicas completamente até o fim do Carnaval. Veja as vantagens do “março seco”
Março seco? Por que não? Passadas as festas e confraternizações de fim de ano e Carnaval, apostar em um março sem álcool pode ser uma boa estratégia para ajudar o fígado e o corpo a se recuperarem dos excessos. Bebidas alcoólicas, afinal, podem provocar desde depressão do sistema nervoso central e arritmias até o desenvolvimento de doenças crônicas e câncer. O médico endocrinologista André Camara de Oliveira e a médica cardiologista Tatiana Rocha Fernandes destacam os benefícios do se optar por passar um mês inteiro sem beber e fazem alguns alertas. Confira!
10 benefícios de um mês sem álcool
Um mês depois de parar de beber, já se sente importantes benefícios na saúde do corpo e da mente — Foto: Reprodução/Internet
1. Redução dos riscos de desidratação no curto prazo. O álcool inibe o hormônio antidiurético, a vasopressina, aumentando a vontade de ir ao banheiro, sobrecarregando os rins e aumentando a absorção de toxinas;
2. Prevenção do quadro de esteatose hepática, o chamado fígado gorduroso, e cirrose. O consumo de etanol ainda pode causar gastrite, esofagite e pancreatite;
3. Diminuição dos riscos de desenvolvimento de diversas doenças crônicas e câncer. Seu consumo pode levar a comprometimentos do sistema cardiovascular e aumentar o risco de infarto, por exemplo. Mesmo no curto prazo, é possível desenvolver arritmias ao consumir bebidas alcoólicas. E segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), não existe dose segura para consumir álcool sem aumentar os riscos de desenvolver essa doença;
4. Melhora do desempenho esportivo. O álcool facilita a formação de lactato, resultando em cãibras e cansaço, e afeta a capacidade de recuperação muscular. Também causa alterações hormonais que levam ao aumento dos níveis de cortisol, que estimula a degradação das proteínas musculares, e reduz os níveis de testosterona, comprometendo o anabolismo muscular;
5. Maior facilidade de emagrecimento, pois há uma redução da inflamação celular e uma otimização da queima de gordura;
6. Menos dificuldade em ganhar massa magra;
7. Aumento da qualidade do sono, já que o metabolismo do álcool atrapalha a produção de hormônios, incluindo a melatonina, conhecida como hormônio do sono;
8. Mais energia e disposição para o dia a dia, já que o corpo não precisa gastar energia metabolizando o álcool;
9. Menor retenção líquida pelo melhor equilíbrio do ADH (hormônio anti diurético), responsável pelo controle da reabsorção de água pelo organismo.
10. Redução dos índices glicêmicos em cerca de 15%, com uma diminuição da quantidade de açúcar no sangue, o que implica em menos possibilidade de desenvolvimento do diabetes do tipo 2.
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Médico da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (Sbem-SP), André Camara de Oliveira afirma que é preciso estimular a abstinência alcoólica não apenas de forma momentânea. Mas passar o mês de março todo sem beber já pode ser uma estratégia interessante, especialmente se a pessoa está consumindo álcool desde as festas de fim de ano, seguindo por verão e Carnaval.
– O álcool não deve ser o motivo de uma comemoração. O etanol pode causar diversos riscos à saúde. Quando a pessoa para de beber, primeiramente, o seu rendimento físico para tudo melhora. Ela terá mais disposição para o dia a dia e atividades físicas. Até o seu sono, que também pode ser impactado com o consumo de álcool, melhora – alerta o endocrinologista.
A cardiologista Tatiana Rocha Fernandes ressalta que álcool pode causar doenças crônicas e influenciar nos casos de câncer. Bebidas alcoólicas também não combinam com a prática de esportes e exercícios físicos.
– Consumir álcool atrapalha a recuperação muscular e a hipertrofia. Para pessoas que querem ganhar massa muscular não é legal fazer consumo de álcool, que reduz os níveis de testosterona, comprometendo o anabolismo muscular – alerta a cardiologista.
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Fernandes, que tem certificação internacional em Medicina do Estilo de Vida pelo International Board of Lifestyle Medicine, comenta que o março seco pode oferecer benefícios ao corpo e por isso é uma prática válida. No entanto é preciso atenção. Segundo a cardiologista, não adianta fazer consumo de bebidas alcoólicas por 11 meses, adotar esse intervalo de abstenção de um mês e em seguida retomar pelos 11 meses seguintes.
– Consumir álcool quase todos os dias por um período e ficar o mês seguinte sem tomar nada vai ajudar a ficar tudo bem? Não, não vai. Ao fazer um uso crônico, passar um mês sem beber e depois voltar a consumir, há um acúmulo dos efeitos deletérios do álcool de qualquer forma. Nesses casos, também há o risco de desenvolver doenças crônicas e câncer. Cuidado. Não dá para fazer detox de um mês e nos outros meses continuar a se intoxicar. Os hábitos de vida saudáveis beneficiam o nosso corpo quando há constância neles – discorre Tatiana Rocha Fernandes.
É difícil ficar sem beber? Pode ser alcoolismo?
Celebrações não devem ter a bebida como foco, mesmo que seja o vinho tinto, que conta com resveratrol mas também favorece o aumento da pressão arterial — Foto: Reprodução/Internet
A pessoa deve observar como está a sua relação com o álcool. Para o endocrinologista André Camara de Oliveira, como beber não combina com a prática de esportes e exercícios físicos, é de se esperar que atletas, mesmo amadores, não consumam bebida alcoólica no dia a dia para não afetarem a sua disposição e desempenho esportivo. Porém, se a pessoa encontra dificuldade para passar alguns dias sem beber e passar um mês inteiro chega a parecer algo impossível, é preciso buscar apoio especializado.
– Quando a pessoa tem muita dificuldade, é preciso avaliar a questão psicológica. Assim, ela descobre o problema de base. Às vezes, bebe porque está ansiosa e busca alegria no álcool. É preciso procurar um terapeuta para a resolução do problema de base que faz com que a pessoa beba – orienta o endocrinologista.
A cardiologista argumenta que a maioria das pessoas que consome álcool de forma abusiva não se dá conta desse comportamento. Para ajudar nesses casos, a médica recomenda considerar as questões da escala Cage. Esse é um índice desenvolvido para que profissionais de saúde consigam realizar a triagem dos pacientes que consomem bebidas alcoólicas de forma excessiva ou apresentam um quadro de alcoolismo. Quando responde a duas ou mais questões a seguir é preciso buscar apoio especializado para conversar sobre o seu consumo de álcool.
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1. Alguma vez sentiu que deveria diminuir a quantidade de bebida ou parar de beber?
2. As pessoas o(a) aborrecem porque criticam o seu modo de beber?
3. Se sente culpado(a) pela maneira com que costuma beber?
4. Costuma beber pela manhã (ao acordar), para diminuir o nervosismo ou a ressaca?
– Ao identificar o consumo de álcool no seu dia a dia dá para saber se você está abusando ou não – afirma Tatiana Rocha Fernandes, reiterando que mesmo o consumo de vinho, muitas vezes defendido como benéfico para o coração, por causa do resveratrol, não deve ser encorajado. – O vinho aumenta a pressão (arterial), que se opõe a esse benefício. A pessoa também aumentando os riscos de câncer. E pode ter o resveratrol nas frutas, como a uva. As populações mais longevas que faziam consumo de vinho tinto produziam esse vinho, que não era industrializado, se alimentavam bem, movimentavam-se diariamente e dormiam de sete a oito horas por noite, não ficavam horas em frente ao computador, como hoje. Tudo isso influencia de forma benéfica a nossa saúde.
Por: Gabriela Bittencourt, para o EU Atleta — Rio de Janeiro
Fonte: André Camara de Oliveira é médico endocrinologista com residência de Clínica Médica e Endocrinologia e Metabologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Tem título de especialista em Endocrinologia e Metabologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), é ex-professor da Faculdade de Medicina de Presidente Prudente (Unoeste) e membro da atual chapa da diretoria da Sbem-SP.
Tatiana Rocha Fernandes é médica cardiologista graduada em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Fez residência em Clínica Médica pelo Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, em Cardiologia e Ecocardiografia pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Possui título de especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e em Ecocardiografia pelo Departamento de Imagem Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia, além de certificação internacional em Medicina do Estilo de Vida pelo International Board of Lifestyle Medicine. Tem formação em coaching de saúde e bem-estar e em fundamentos do Ayurveda.
Transcrito: https://ge.globo.com/eu-atleta/nutricao/reportagem/2023/03/01/c-marco-sem-alcool-10-beneficios-de-passar-um-mes-sem-beber.ghtml