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Janeiro Branco: saúde mental para além da prevenção

Precisamos dar um novo significado para o cuidado da mente e atuar de maneira coletiva e contínua para lidarmos com os desafios atuais e do futuro

Nos últimos anos, o tema da saúde mental tem ganhado cada vez mais destaque. O Janeiro Branco é um período em que a conscientização sobre a importância do assunto se intensifica, promovendo discussões essenciais.

Embora as campanhas desempenhem um papel fundamental ao iniciar o diálogo, a promoção do bem-estar mental da população exige um despertar coletivo que vá além das ações pontuais, abrangendo questões mais amplas de forma contínua.

O primeiro passo para que isso aconteça é desconstruir a visão restrita que limita a saúde mental ao diagnóstico e aos tratamentos de transtornos.

Saúde mental não é sinônimo de doença. Ao mesmo tempo, não é uma expressão para designar uma vida perfeita ou de um estado constante de bem-estar. Tampouco, deve ser associada a uma positividade tóxica, que ignora sofrimentos reais, romantiza crises ou individualiza problemas estruturais.

Se continuarmos a observar a saúde mental apenas por essas duas lentes — a da patologia ou a do otimismo irrealista —, não estaremos preparados para enfrentar os desafios que o presente e o futuro nos impõem.

Janeiro Branco deve ser apenas o ponto de partida – Foto: (Reprodução/Internet)

Ela é essencial para que as pessoas possam lidar com os desafios, desenvolver suas habilidades e resiliência, aprender, trabalhar e contribuir para suas comunidades. Está no cerne da nossa capacidade de tomar decisões, construir relações e moldar o mundo ao nosso redor.

Mais do que uma questão individual, a saúde mental é coletiva. Resulta de uma interação complexa entre fatores biológicos, psíquicos e as condições de vida dos indivíduos. Além disso, é transversal a outras questões sociais cruciais, como educação, violência, desigualdade, desemprego, meio ambiente e tantas outras. Tratá-la de maneira isolada seria insistir em um erro.

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Os efeitos dessa abordagem limitada já são visíveis. A cada dia, somos confrontados por notícias e estudos que apontam para a deterioração das condições de saúde mental, tanto no Brasil quanto no mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que quase 1 bilhão de pessoas convivam com algum tipo de transtorno mental globalmente e que estamos diante de um cenário de aceleração desse quadro.

Diante desse panorama, surgem algumas perguntas: uma abordagem diferente poderia ter outros resultados? Como lidar com um tema ainda cercado de tantos estigmas? Como trazer mais recursos para uma área que historicamente carece de investimentos privados e públicos? E, o mais importante, como colocar as pessoas no centro dessas iniciativas?

Cuidado com a saúde mental amplia a qualidade de vida – Foto: (Reprodução/Internet)

A criação do Instituto Cactus, em 2020, foi fundamentada em todas essas reflexões. Mas, como diz o ditado, não se pode esperar resultados diferentes fazendo sempre o mesmo. Por isso, adotamos uma abordagem que busca cuidar da saúde mental antes mesmo de os sintomas aparecerem, focando na prevenção e na promoção da saúde mental.

Visando alcançar o maior impacto possível, direcionamos nossos projetos para as engrenagens existentes no contexto brasileiro que precisam ser endereçadas para que uma mudança estrutural em todos os âmbitos relacionados à saúde mental de fato aconteça – geração de dados, produção de conhecimento, desenvolvimento de recursos humanos, intervenções no território e políticas públicas.

Do setor público ao privado

Entretanto, apesar da importância e do impacto que uma filantropia estratégica pode ter para um determinado tema, a multicausalidade e intersetorialidade, que perpassam a saúde mental, demandam a a participação dos mais diferentes segmentos da sociedade. Os tomadores de decisão, seja no setor público ou no setor privado, raramente consideram o impacto que suas iniciativas têm sobre a saúde mental da população.

Como a construção de um parque pode afetar a mente dos moradores de uma comunidade? Quais os efeitos da construção de uma rodovia para o emocional da população de uma determinada região? Qual o impacto do acompanhamento pré-natal de uma gestante no bem-estar mental da sua criança? O tempo de deslocamento até o trabalho tem efeitos deletérios ao trabalhador?

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Essas são questões que nem sempre são consideradas durante o desenho das políticas públicas ou na tomada de decisões corporativas, mas que são imprescindíveis para nos prepararmos melhor para os desafios do futuro.

Não podemos falar em transformação estrutural sem falar do setor público, especialmente em um país onde a maior e mais vulnerável parcela da população depende de serviços públicos de saúde, educação e assistência social. O Estado tem um papel fundamental como indutor de mudanças estruturantes, como responsável pela formulação, implementação e avaliação de políticas públicas de saúde mental.

Para além de gerir os equipamentos de tratamento, cabe ao Estado desenvolver programas que foquem na prevenção de doenças. A criação de campanhas de conscientização e o combate ao estigma são também funções essenciais das governanças, promovendo uma cultura de diálogo e apoio. Essa tarefa não pode ser restrita apenas aos órgãos de saúde, mas deve envolver todas as áreas do governo.

O setor privado também tem um papel fundamental na promoção da saúde mental, podendo contribuir de diversas maneiras. Empresas podem implementar políticas de bem-estar e apoio psicológico para seus funcionários, promovendo ambientes de trabalho mais saudáveis e produtivos.

Da porta para fora, ao financiar iniciativas de saúde mental, o setor privado pode ampliar o alcance dessas ações para os territórios onde estão inseridas populações mais vulneráveis.

Também é essencial que as empresas considerem o impacto de seus produtos e serviços para o bem-estar, promovendo práticas éticas de marketing e relações de consumo.

Ação coletiva

A missão de colocar a saúde mental como fio condutor do desenvolvimento social e econômico precisa ser ainda mais coletiva.

O primeiro passo é mais simples do que parece. Não se trata de reinventar a roda, mas de adicionar uma lente de saúde mental às atividades que já realizamos.

Isso pode significar incorporar essa perspectiva no planejamento de projetos, na execução de ações, na criação de indicadores de monitoramento, ou até nas práticas internas de sua organização. Também pode ser refletido no dia a dia, no relacionamento com a família e amigos.

O meu convite é para somarmos forças para, juntos, construirmos um novo paradigma para a saúde mental. O Janeiro Branco pode ser o nosso ponto de partida, mas certamente não deve ser considerado nossa linha de chegada.

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Por: Maria Fernanda Resende Quartiero, fundadora e diretora-presidente do Instituto Cactus*

Fonte: *Maria Fernanda Resende Quartiero é fundadora e diretora-presidente do Instituto Cactus e investidora social com mais de 20 anos de experiência em filantropia e impacto social.

Transcrito: https://saude.abril.com.br/coluna/com-a-palavra/janeiro-branco-saude-mental-para-alem-da-prevencao/

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