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Incêndios florestais afetam a saúde e o treino ao ar livre

Médico Luis Fernando Correia explica estudo que revela que poluição atmosférica causada por florestas incendiadas leva mais de 47 mil brasileiros para hospitais anualmente e alerta atletas sobre o aumento de risco cardíaco em treinamentos aeróbicos em locais atingidos pela fumaça

Mais de 47 mil brasileiros são internados, todo ano, com problemas de saúde causados pela poluição atmosférica advinda de incêndios florestais. Esta é a conclusão de um estudo inédito conduzido por pesquisadores da Escola de Saúde Pública e Preventiva da Monash University, em Melbourne, na Austrália. Eles levantaram dados sobre o efeito das queimadas na saúde dos brasileiros. Os resultados foram publicados no The Lancet Planetary Health.

Segundo os cientistas, só em 2020, os incêndios florestais no Brasil aumentaram 12,7%. Este ano, 260 grandes incêndios foram detectados na Amazônia, devastando mais de 105 mil hectares (260 mil acres), área do tamanho de Los Angeles, na Califórnia. Mais de 75% deles ocorreram na Amazônia brasileira, em áreas onde as árvores foram cortadas para dar espaço à agricultura, apesar da proibição do governo brasileiro de queimadas ao ar livre.

Corrida é uma atividade cardioprotetora, mas em área poluídas isso pode ter o efeito inverso Foto: Intenet

A pesquisa analisou mais de 143 milhões de hospitalizações, de 1.814 municípios, cobrindo 80% da população brasileira, durante 16 anos. A exposição ao material particulado da fumaça dos incêndios, mesmo que por pouco tempo, pode desencadear asma, ataque cardíaco, derrame, diminuição da função pulmonar e morte. As regiões mais afetadas são a Norte, Sul e Centro-Oeste. O Nordeste apresenta as taxas mais baixas.

Apesar de a maioria dos incêndios florestais ocorrer em áreas remotas do Brasil, a fumaça tóxica das queimadas na região amazônica pode subir de 2.000 a 2.500 km na atmosfera e viajar grandes distâncias, ameaçando pessoas a milhares de quilômetros.

E como isso impacta quem faz exercícios? Segundo artigo do European Heart Journal de julho desse ano, os benefícios conseguidos com a prática de exercícios em termos de redução de mortalidade por doenças cardiovasculares podem se transformar em aumento de risco se os treinamentos forem feitos em regiões com muita poluição atmosférica.

O artigo chama a atenção para a necessidade de que os atletas tenham sempre informação sobre as condições do ar, para que não sofram os efeitos nocivos da poluição e aumentem seu risco cardíaco.

Os autores conseguiram determinar que praticar exercícios em regiões onde o teor de material particulado no ar é elevado, mesmo em doses baixas, pode trazer aumento de risco cardiovascular. Portanto, quem pratica exercícios ao ar livre, além da temperatura, umidade e nível de radiação ultravioleta deve também estar ligado na qualidade do ar em sua região antes de sair para treinar.

Outra referência:

Running in polluted air is a two-edged sword — physical exercise in low air pollution areas is cardioprotective but detrimental for the heart in high air pollution areas.

Por: Luis Fernando Correia

Fonte: Luis Fernando Correia, Clínico e intensivista com certificado em Inovação pelo MIT, ex-chefe da emergência do Samaritano, o Doc hoje se dedica à divulgação de temas ligados à saúde

Transcrito: https://ge.globo.com/eu-atleta/saude/post/2021/09/08/incendios-florestais-afetam-a-saude-e-o-treino-ao-ar-livre.ghtml

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