Gordura trans é tão ruim quanto dizem? Entenda perigos do consumo elevado
A gordura trans é uma das maiores inimigas de um estilo de vida saudável. Ao mesmo tempo que traz malefícios à saúde, ela também está presente em boa parte das guloseimas que tanto agradam o paladar da população em geral.
Esse tipo de gordura pode existir naturalmente —é possível encontrá-la, por exemplo, em pequenas quantidades em leites e carnes de origem animal. Mas sua principal produção é artificial, com a hidrogenação parcial de óleos vegetais submetidos a altas temperaturas, mudando suas características físicas e os tornando sólidos, ou seja, mais fáceis de serem usados.
Na forma artificial, ela é usada para aumentar o prazo de validade e melhorar a textura dos alimentos, como salgadinhos, biscoitos recheados, sorvetes, produtos congelados prontos para consumo, pipoca pronta de micro-ondas, entre outros, segundo Cláudia Chang, pós-doutora em endocrinologia e metabologia pela USP (Universidade de São Paulo)
Foto: Reprodução/Internet
De acordo com um levantamento de 2018 da OMS (Organização Mundial da Saúde), o consumo da gordura trans está relacionado a mais de 500 mil mortes por ano por doenças cardiovasculares.
“O quadro chamado de angina (causada pela obstrução das artérias coronárias), infarto e acidentes vasculares cerebrais estão entre as doenças mais significativas e que têm relação com um perfil alimentar de alta ingestão dessa gordura”, explica Ricardo Casalino, doutor em cardiologia pela USP.
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Por que a gordura trans é ruim?
Diferente da gordura insaturada, que é considerada boa e está presente em alimentos de origem vegetal, ou até da gordura saturada, que, em certa quantidade, é uma importante fonte de energia, a trans não tem benefícios e em longo prazo causa grandes impactos à saúde.
Todo esse temor não é à toa: ela tem o poder de afetar o perfil lipídico de cada indivíduo, aumentando os níveis do LDL, que é o colesterol “ruim”, e abaixando o HDL, que é conhecido como colesterol “bom”
O aumento do LDL leva ao entupimento das artérias, podendo causar maiores complicações, como o infarto agudo no miocárdio e o derrame. Segundo Chang, isso também está relacionado a outras doenças metabólicas, como a esteatose hepática, que é o acúmulo de gordura no fígado.
Uma pessoa que já tem os vasos sanguíneos comprometidos precisa usar uma série de medicações. “Além dos remédios para controlar o colesterol, existem outras medidas que vão de acordo com o histórico de cada um, como o controle da pressão e do diabetes”, diz Casalino.
O especialista ainda recomenda que, no tratamento e na evitação dessas doenças, seja evitado o tabagismo, o sedentarismo e ainda haja uma revisão profunda do cardápio ao lado de um nutricionista ou nutrólogo.
Há indicação de consumo?
Foto: Reprodução/Internet
Não há segredo quanto a isso: a gordura trans não é recomendada de nenhuma forma. Mas, como é difícil fugir completamente do seu consumo, existem algumas diretrizes para que ela não comprometa a saúde.
Segundo Laryssa Carvalho, nutricionista do Hospital São Domingos, no Maranhão, a recomendação é para que, em uma dieta de 2.000 calorias diárias, somente 1% seja proveniente dessa substância —segundo a OMS, são, no máximo, 2 gramas a cada 100 g de óleos e gorduras.
A especialista ainda recomenda algumas substituições: um sorvete industrializado pode ser trocado por frutas congeladas batidas no liquidificador, dando densidade e cremosidade. É importante ter uma dieta rica em alimentos naturais, pensando sempre em “descascar mais e desembalar menos”
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Combate à gordura trans nos alimentos
A OMS tem a missão de eliminar a gordura trans de todos os alimentos industrializados ao redor do mundo até o fim de 2023. Isso está sendo feito com medidas de regulamentação e conscientização em diversos países.
Algumas providências já estão sendo tomadas no Brasil. Em 2003, foi estabelecido que os rótulos devem, obrigatoriamente, declarar a quantidade de gorduras trans presentes nos produtos. Mas existe uma “pegadinha”: a resolução permite que alimentos que tenham quantidade menor ou igual a 0,2 g por porção possam se declarar como isentos dessa gordura.
Essa iniciativa causou preocupação, já que pode acarretar no aumento do consumo desse tipo e gordura pela alta ingestão desses produtos. Uma dica é checar os ingredientes: se estiver escrito que há “gordura parcialmente hidrogenada”, significa que ele não é completamente livre de trans.
Em 2019, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou regras para que essa substância seja completamente banida dos produtos até o próximo ano (2023). Todos os óleos vegetais e alimentos industrializados do supermercado deverão adotar um limite de até 2% de trans, eliminando, aos poucos, a sua venda e consumo.
Por: Luiza Ferraz
Colaboração para o VivaBem
Fonte: Cláudia Chang, pós-doutora em endocrinologia e metabologia pela USP (Universidade de São Paulo)
OMS (Organização Mundial da Saúde)
Ricardo Casalino, doutor em cardiologia pela USP
Laryssa Carvalho, nutricionista do Hospital São Domingos, no Maranhão
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
Transcrito: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2022/05/18/gordura-trans-e-tao-ruim-quanto-dizem-entenda-perigos-do-consumo-elevado.htm