Flora intestinal e obesidade
O aumento da oferta no setor de alimentos e a redução na qualidade nutricional do que encontramos nas prateleiras dos mercados são alguns dos fatores que determinam as mudanças nos hábitos alimentares e estilo de vida da maioria das pessoas.
Diante de tais fatos, nosso organismo, como uma “máquina” inteligente e que busca o equilíbrio, precisou acompanhar essa “evolução”. Portanto, passou a seremexigidas quantidades maiores de nutrientes para lidar com os desequilíbrios gerados pelas situações adversas (poluição, estresse tanto físico quanto mental, aumento do consumo de alimentos anti-nutricionais – industrializados, antibióticos, fertilizantes, agrotóxicos, etc).
DESSA FORMA, É NECESSÁRIO NUTRIR O ORGANISMO EFETIVAMENTE, UMA VEZ QUE ELE FOI IMPOSTO AOS AVANÇOS TECNOLÓGICOS E HÁBITOS DE VIDA POUCO SAUDÁVEIS, LEVANDO AO SURGIMENTO DE DOENÇAS IMUNOLÓGICAS, NEUROLÓGICAS, DIGESTIVAS E DEGENERATIVAS.
Mais do que nutrir as células, há um mundo a parte que precisa de mais cuidados, porém, por não enxergarmos, não damos muita importância. Trata-se da MICROBIOTA INTESTINAL. As bactérias ali presentes vivem exercendo funções importantes como digestão dos alimentos, síntese de vitaminas essenciais e proteção da mucosa intestinal, para que o organismo possa funcionar de forma adequada.
UMA MICROBIOTA SAUDÁVEL É CHAMADA DE PROBIOTICOS (A FAVOR DA VIDA). JÁ OS NUTRIENTES NECESSÁRIOS PARA O BOM DESENVOLVIMENTO DELA SÃO DETERMINADOS PELOS PROBIÓTICOS.
Portanto, a DISBIOSE intestinal é o desequilíbrio entre esses micro-organismos patogênicos (causadores de doenças) e benéficos presentes no trato gastrointestinal, gerando situações desfavoráveis à saúde humana. Na ocorrênciada disbiose, é gerada uma desarmonização no corpo humano devido ao fato das vitaminas não conseguirem ser absorvidas e pela inativação de enzimas digestivas, levando a prejuízos na digestão dos alimentos, induzindo uma fermentação, comprometimento na digestão e absorção de gorduras e promoção de células tumorais, desencadeando em quadros de hipermeabilidade, o que ativa o sistema imunológico. Ou seja, ocorre um “DESASTRE ECOLÓGICO” DENTRO DO NOSSO CORPO.
Finalmente a medicina começa a se debruçar sobre os papéis da flora intestinal no metabolismo do organismo. A publicação de “O CÉREBRO DESCONHECIDO”, onde o autor – Prof. Helion Póvoa Filho – descreve diversas ações muito importantes do intestino, além de absorção e excreção, captou esse momento especial quando se começa a perceber a relação desse órgão com homeostase, regulação endócrina, eficiência imunológica e manutenção neurotransmissora. O mesmo autor, há anos, vinha propondo uma relação especial da permeabilidade intestinal com obesidade, que não foi, na época, considerada mais profundamente.
Agora, dezenas de artigos publicados, mostram que o papel da flora intestinal na obesidade é bem mais importante do que se imaginava. Aliás, do que não se imaginava. Artigos da Nature mostraram que uma microbiota mais pobre em espécies é compatível com acúmulo de peso. Por outro lado, diferentes pesquisas mostram que algumas das centenas de espécies que constituem os bilhões de bactérias e fungos que habitam o intestino humano podem gerar uma reabsorção não esperada de amido e açúcar no cólon. Isso é quase uma bomba, já que durante décadas não se supunha que além do intestino delgado (jejuno, duodeno e íleo) pudesse ocorrer absorção de nutrientes.
As bactérias metanógenas (produtoras de metano) e outras produtoras de hidrogênio (H2) podem interagir e aumentar consideravelmente a absorção de açúcar, inclusive conseguindo digerir polissacarídeos não digeríveis pelo nosso trato gastrintestinal. Um exemplo: as glucanas, que normalmente não produzem glicose nos humanos.
Methanobrevibactersmithii e Bacillustethaiotaomicron aumentam sobremaneira a absorção de açúcares calóricos pelo organismo humano, levando a uma maior tendência de acúmulo de peso. Floras intestinais desequilibradas, com predomínio dessas bactérias podem estar relacionadas com obesidade.
Uma família bacteriana denominada Prevotella também mostra relação com aumento de peso em humanos. Outras bactérias do gênero Archae também podem estar associadas com obesidade.
Enfim, após décadas de estagnação, o interesse pela flora intestinal está aumentando vertiginosamente. Afinal, dos bilhões ou quase trilhão de bactérias intestinais apenas um pequeno grupo – lactobacilos – mereceu interesse médico nos últimos 50 anos. Essas bactérias simbióticas sempre demonstraram ser benéficas ao hospedeiro, por isso passaram a ser chamadas de PROBIÓTICOS. São muitas espécies conhecidas, L. acidophilus, L. rhamnosus, L. bulgaricus, L.delbruekii, L. casei e muitas outras. Entretanto, uma espécie de Lactobacillus descoberta em 1980 no leite humano está mostrando nas pesquisas poderes surpreendentes.
Trata-se do Lactobacillusreuteri, o mais poderoso probiótico até agora investigado. Produzindo substâncias que eliminam a concorrência de outras bactérias (as nocivas), tais como reuterina, reutericlina e reutericina, L. reuteri simplesmente arrasa as demais bactérias.
Um dos mais surpreendentes estudos foi publicado, tendo avaliado a capacidade de L. reuteri em eliminar o temível Helicobacterpylori. Foram estudados 100 portadores do H. pylori e os resultados mostraram que o probiótico foi capaz de erradicar o causador da gastrite e úlcera estomacal na maioria dos portadores testados.
Em outro campo de estudos, L. reuteri reduziu o ganho de peso em animais testados (camundongos), de forma impressionante. Mesmo quando os animais foram submetidos a dietas fortemente calóricas (fastfood). Em se confirmando esses resultados em humanos, um gigantesco passo será dado em mais uma forma de combater a obesidade no mundo.
Referências:
– Célio Mendes – Farmacêutico e Bioquímico pela UFRJ, Especialização em Toxicologia.
– J ClinGastroenterol. 2014 May-Jun; Lactobacillusreuteri combinação estirpe da infecção por Helicobacterpylori: um estudo duplo-cego, randomizado, controlado por placebo.http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24296423
– PLoSOne 2013 Jul 10; Reprogramação microbiana inibe a obesidade associada à dieta ocidental.http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23874682
Por: Patrícia Lemos
Bagé/RS
Patrícia Lemos/CRN 11375
Pós-Graduada em Nutrição Pediátrica pelo IPGS/Porto Alegre
Pós-Graduanda em Nutrição Clínica pela Universidade Cândido Mendes/RJ