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Existe “correr certo”? Fisioterapeuta responde

Raquel Castanharo diz que dar números exatos para a corrida é muito difícil e sugere mais estudos com grande quantidade de corredores diferentes. Confira

Qual é o tamanho de passada normal na corrida? Quanto o tronco pode girar? Quantos graus de inclinação o corpo deve ter para frente? Enfim, quais são os valores para uma corrida “ideal”? Eu já recebi esse tipo de pergunta várias vezes, e a resposta é: não há resposta. Dar números exatos para a corrida é uma cilada por vários motivos, pelo menos por enquanto.

Para determinarmos um movimento como normal, ele deve ser o observado na maioria da população. Então, teríamos que analisar uma quantidade suficientemente grande de pessoas que representem a população. Isso até hoje não foi feito. Os estudos de biomecânica da corrida normalmente avaliam cerca de 20 pessoas por apenas algumas passadas. Esse tipo de análise já trouxe muito conhecimento para a área, mas é bastante complicado assumir que esses números servem para todo mundo.

Por exemplo, uma pesquisa como a citada acima mostrou que a inclinação do joelho em pessoas sem dor é aproximadamente 10 graus. Com base nesses dados, não podemos taxar os que inclinam o joelho 12 graus como “errados”. Esses números nos dão uma ideia muito pouco precisa.

Além disso, o gesto da corrida tem muito mais do que apenas mecânica. A personalidade da pessoa também está impressa em cada passada. Uma leve inclinação do tronco, um braço que se move mais que o outro. Tudo isso pode fazer parte do repertório motor adquirido desde a infância, o que eu não consigo classificar como errado.

Existe atualmente uma colaboração muito interessante de vários países para formarem um banco de dados com os movimentos de muitos corredores ao redor do mundo. Qualquer laboratório de pesquisa pode enviar seus resultados de avaliação biomecânica para compor essa grande coleta de informações. Quando tal banco de dados estiver grande o suficiente, aí sim poderemos conversar mais sobre valores normais na corrida. Ou chegar à conclusão de que o normal é tão variável que esse tipo de classificação deve ser deixado de lado de uma vez.

Por: Raquel Castanharo, Jundiaí, SP

Fonte: Fisioterapeuta formada e mestra em biomecânica da corrida na USP. Realizou pesquisa em biomecânica da coluna na Universidade de Waterloo, Canadá. Trabalha com fisioterapia e avaliação biomecânica em São Paulo e Jundiaí. www.raquelcastanharo.com.br (Foto: Eu Atleta)

Trancrito:https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/existe-correr-certo-fisioterapeuta-responde.ghtml

 

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