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Exercícios físicos na infância promovem imunidade

O adequado desenvolvimento do sistema imune tem o seu ápice por volta dos 12 anos e depende da atividade física regular. Médicos explicam e dão oito dicas

O desenvolvimento do sistema imune, responsável por identificar agentes estranhos, como fungos, vírus e bactérias, e proteger o organismo começa ainda na gestação e, para a maioria das pessoas, alcança o seu ápice por volta dos 12 anos. Esse processo para finalização adequada da maturação imunológica, que torna o corpo capaz de atuar ante a esses agentes externos ao longo da vida, tem na prática de atividades físicas e esportes na infância e na adolescência um importante pilar. Para entender como se dá esse processo e a importância dos exercícios físicos nessa fase da vida, o EU Atleta conversou com o alergista e imunologista Emanuel Sarinho e o médico do esporte Fabrício Buzatto.

Presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), Emanuel Sarinho ressalta que o período que vai da gestação até o segundo ano de vida, envolvendo portanto fatores como a dieta materna, aleitamento materno e introdução de uma alimentação integral, natural e rica em fibras, é crucial para o desenvolvimento do sistema imune. Mas é por volta dos 12 anos, quando ocorre um marco endócrino e neuropsíquico na transição da infância para a adolescência, que acontece também a maturação da resposta do sistema imunológico aos estímulos internos de tolerância imune e externos, de forma a conter e eliminar os agressores com potencialidade plena.

Exercícios físicos e esportes na infância e adolescência garantem maturação do sistema imune, com benefícios até a velhice — Foto: Reprodução/Internet

Nesse contexto, de acordo com o médico, as atividades físicas moderadas e regulares ao longo da infância e a adolescência atuam para propiciar esse adequado desenvolvimento e maturação do sistema imune. Sarinho explica que essa prática estimula a imunidade inata e também adaptativa, favorecendo, por exemplo, o aumento dos linfócitos, as células de defesa.

– Nosso organismo foi estruturado há milhares de anos para ter atividade física leve a moderada. Se na infância e na adolescência o jovem faz atividades físicas regulares e moderadas, terá uma adequada maturação e modulação imunológicas que tendem a persistir por toda a vida. As células, em vez de morrerem por necrose, morrem por apoptose, que é a morte das células velhas de forma programada, sem o perigo de causar inflamação no organismo por liberação de substâncias nocivas e inflamatórias que podem desencadear o aparecimento de doenças neoplásicas e crônicas. É importante ressaltar que esse hábito nessa idade pode trazer benefícios para toda a vida, até a velhice. A pessoa terá o sistema imune mais eficiente e menos risco de doenças, como o câncer e alergias – discorre o médico alergista e imunologista.

O médico explica ainda que uma dieta natural e integral, ambientes arejados, contato com natureza e inclusão de mais movimento no dia a dia, com a redução do uso de telas eletrônicas e do sedentarismo, também contribuem para uma imunidade adequada.

Uma prova dos impactos positivos de uma vida ativa e dos exercícios físicos para o sistema imune é que, no início da pandemia de Covid-19 indivíduos sedentários e pessoas com excesso de peso apresentavam mais risco de agravamento da infecção causada pelo SARS-CoV-2. Apesar de a repercussão positiva das atividades físicas sobre o corpo ser conhecidas, o médico do esporte Fabrício Buzatto observa que a necessidade de se manter o distanciamento social para evitar a propagação do novo coronavírus acabou por estimular as pessoas a reforçarem os comportamentos sedentários, que são muito negativos para a saúde. E as crianças e adolescentes também incorporaram esse hábito, trocando as atividades físicas por tempo sentado usando celulares e videogame, por exemplo.

Buzatto reforça que os exercícios físicos regulares têm repercussões em todo o corpo, inclusive sobre o sistema imune.

– Criança precisa se movimentar. Hoje, muitas já apresentam glicose superior ao limite, colesterol alterado e obesidade. Tudo isso é fator de risco para o envelhecimento e mortes precoces e também prejudica o sistema imunológico. O exercício é uma situação de quebrar a homeostase, fazendo com que o corpo se adapte a uma situação um nível acima e isso o condiciona a atuar de forma melhor. O exercício contribui para a produção de células de defesa e para que a resposta celular seja mais rápida. Estudos recentes demonstram, por exemplo, que, a partir da contração muscular, há a liberação miocinas, substâncias que estimulam o sistema imunológico – detalha o médico do esporte.

preciso evitar também os comportamentos sedentários, que favorecem o ganho de peso e o comprometimento do sistema imune — Foto: Reprodução/Internet

8 dicas

Com o apoio dos médicos Emanuel Sarinho e Fabrício Buzatto, preparamos algumas dicas para ajudar os pais a adotarem as práticas que contribuirão para o desenvolvimento e fortalecimento adequados do sistema imune na infância e na adolescência.

1. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) segundo a entidade, são indicados pelo menos 60 minutos por dia de atividade moderada a forte, principalmente aeróbica, para crianças e adolescentes;

2. Para cada fase do desenvolvimento das crianças, alguns exercícios podem ser mais indicados. Pedalar, usando os devidos equipamentos de proteção, e nadar são indicados para qualquer idade. Contudo, até os cinco anos as crianças não têm total domínio do corpo. Por isso, as atividades devem ser mais lúdicas, como pular corda, balé e até brincadeiras de roda e pique-pega. Dá até para jogar bola. A partir dos seis anos os esportes coletivos, como futebol e tênis, passam a ser indicados, já que a criança reconhece mais os limites do seu corpo. Dos 12 anos em diante, meninos e meninas podem ter contato com lutas e até exercícios de força, como musculação e pilates, desde que orientados por profissional capacitado para prescrever essas atividades;

3. Faça exercícios físicos você também. A criança e o adolescente se espelham nos pais e precisam desse bom exemplo em casa;

4. Reduza o excesso de telas no dia a dia dos seus filhos. O desenvolvimento imune passa também pelo contato com a natureza e ambiente abertos, arejados e ventilados. Mas não adianta cobrar que essa atitude dos seus filhos se não reduzir também o seu tempo diante de celulares, computadores e televisão. Procure estimular um lazer mais ativo com seus filhos. Saia com eles para fazer uma atividade em um parque, como pedalar e jogar bola;

5. Lembre-se de que os exercícios também têm repercussão sobre as emoções. O fato de liberarem hormônios do bem-estar ajudará até a evitar problemas como depressão, que também pode afetar negativamente o sistema imune;

6. Tenha em mente que os exercícios físicos contribuem também para melhorar o sono. Afinal, depois de movimentar-se ao longo do dia, o corpo pedirá um descanso reparador;

7. Evite que seu filho exagere na dose. Crianças e adolescentes precisam de atividades moderadas. Nos casos em que criam gosto pelo esporte e adotam uma rotina intensa de treinos, inclusive para participar de competições, não há problemas desde que esses meninos e meninas tenham o suporte de uma equipe multidisciplinar para garantirem uma recuperação adequada. Caso contrário, os exercícios terão efeito reverso, causando um comprometimento do sistema imune;

8. Esteja atento à alimentação das crianças e adolescentes. Uma dieta rica em produtos industrializados e ultraprocessados contém ingredientes prejudiciais à saúde e que afetam negativamente o sistema imune. Por isso, aposte em uma alimentação mais integral, natural e rica em fibras, para contribuir para a maturação imunológica adequada.

Adultos e idosos, mexam-se também!

Embora a maturação imunológica atinja o seu ápice por volta dos 12 anos, não quer dizer que essa prática não terá impactos positivos sobre o sistema imune após a adolescência. Ao longo da vida adulta e até na terceira idade, os exercícios continuarão a ser importantes para garantir uma proteção contra doenças, conforme enfatiza Emanuel Sarinho, junto a hábitos saudáveis como sono de qualidade, dieta adequada natural e integral, redução de agressores químicos, como excesso de álcool e fumo; e medidas para reduzir o estresse, como caminhadas e meditação.

– Se após os 30 anos a pessoa não faz atividade física regularmente, seu sistema imune declinará até chegar ao envelhecimento, com alterações conhecidas como imunosenescência, aos 60 anos. Quando a pessoa faz exercícios, ocorre um estímulo das células que ajudam o organismo a se defender das viroses e o tornam mais resistente a doenças imunológicas e até câncer. Há trabalhos que mostram que, entre idosos que fazem atividade física moderada, o sistema imunológico age eliminado células anômalas e fazendo com que o organismo fique mais vigilante em relação às doenças – afirma Sarinho.

Nesse ponto, a introdução das atividades físicas ainda na infância também terá efeito positivo no longo prazo. Fabrício Buzatto argumenta que crianças e adolescentes que praticam esportes e fazem exercícios físicos tendem a ser adultos mais ativos.

– Muitas vezes as doenças crônicas e degenerativas não aparecerão na infância, embora os impactos dos hábitos sedentários surjam precocemente. O envelhecimento é inevitável. Mas é preciso envelhecer com qualidade. Para isso, a pessoa tem que se movimentar e cuidar do sono e da dieta. A pessoa que chega aos 50 anos se exercitando envelhecerá com mais qualidade de vida para o dia a dia e saúde – conclui o médico do esporte.

Por: Gabriela Bittencourt, para o EU Atleta — Rio de Janeiro

Fonte: Emanuel Sarinho é presidente Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai). O médico é supervisor do Programa de Residência Médica em Alergia e Imunologia, membro da pós-graduação em Saúde Translacional e coordenador do programa de pós-gradução em saúde da criança e do adolescente da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Fabrício Buzatto é médico do esporte e fisiatra. Membro da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), é formado pela Escola de Medicina da Santa Casa de Vitória/EMESCAM. Tem residência Médica em Medicina Física e Reabilitação (Fisiatria) e pós-graduação em Medicina Esportiva pela Universidade Federal de São Paulo (USP). É médico fisiatra do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Espírito Santo, palestrante no Congresso Brasileiro de Medicina Esportiva e promove curso em Medicina Esportiva no Rendimento, Emagrecimento e Hipertrofia Muscular.

Transcrito: https://ge.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/exercicios-fisicos-na-infancia-promovem-imunidade.ghtml

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