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Exercícios contra o câncer de mama: combine atividades aeróbicas e de força e resistência

Outubro Rosa: segundo estudo, o sedentarismo foi responsável por 12% das mortes por câncer de mama no Brasil entre 1990 e 2015

O sedentarismo foi responsável por 12% das mortes por câncer de mama no Brasil entre 1990 e 2015, segundo um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e americanos com o apoio do Ministério da Saúde e publicado em 2018 na revista científica Nature. Os pesquisadores levaram em consideração apenas as estimativas dos fatores de risco modificáveis para a doença definidos pelo Global Burden of Disease Study (GBD) 2015, que considera a inatividade física, uso de álcool, alto índice de massa corporal e dieta rica em bebidas com alto teor de açúcares. Esses outros fatores responderam por 6,5% dos óbitos pela doença em 2015. Mais recentemente, em julho deste ano, a Universidade de Alberta, do Canadá, publicou outro estudo afirmando que a combinação de atividades aeróbicas com exercícios de força e resistência melhora a qualidade de vida das pacientes já em tratamento e reduz os sintomas relacionados ao câncer. Este mês, em que a campanha Outubro Rosa promove ações para conscientização sobre a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de mama, cresce a urgência pelo incentivo à prática de atividades físicas como uma das mais importantes aliadas na luta contra a doença.

Afinal, o câncer de mama está entre os mais comuns e os que mais causam óbitos de mulheres no Brasil e no mundo. Só em 2017, segundo dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), criado pelo Datasus, cerca de 17 mil brasileiras morreram em decorrência da doença. Conforme estimativas do Instituto Nacional do Câncer, são estimados 59,7 mil novos casos em 2019. Além de fatores genéticos, os hábitos de vida também podem influenciar na ocorrência do câncer de mama.

Principais benefícios dos exercícios contra o câncer de mama:

Prevenção da ocorrência da doença pela primeira vez;

Redução das chances de reincidência;

Melhora do prognóstico de mulheres em tratamento;

Aumento da qualidade de vida daquelas com quadro de metástase.

Coautor do estudo, o médico epidemiologista Maximiliano Guerra comenta que o trabalho destaca a contribuição da prática de atividade física no controle da doença. Portanto, não se trata de uma questão de redução da mortalidade, apenas, mas também de prevenção. Professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), ele comenta que mulheres fisicamente ativas apresentam menor risco de desenvolver câncer da mama quando comparadas àquelas que não praticam exercícios, especialmente após a menopausa. Guerra acrescenta ainda que revisões científicas sistemáticas dão conta de que a atividade física pode contribuir para uma redução média de 12% a 14% no risco da doença.

– Nosso estudo reforça o papel da atividade física na prevenção e no manejo do câncer da mama na população brasileira, uma vez que pode contribuir tanto para a redução do risco da doença, o que leva a um menor número de casos novos e consequentemente a um menor número de óbitos relacionados, quanto para um melhor prognóstico após a confirmação do diagnóstico do câncer da mama – observa.

Médica da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e mestre em genética, Alessandra Borba explica que a maioria dos casos da doença ocorre pela exposição a fatores de risco, que contribuem para 80% a 90% das ocorrências, enquanto a transmissão genética é causa de 10% a 20%. O sedentarismo é um desses fatores, junto com a obesidade, o tabagismo e o consumo excessivo de álcool, entre outros. Portanto, a médica reforça a importância da prática de atividades físicas tanto para prevenção entre aquelas que nunca tiveram câncer de mama como para aquelas que já foram diagnosticadas, para evitar que a doença retorne.

– Sabemos de alguns fatores de risco, como sobrepeso e menopausa, e outros protetores, como a amamentação. A atividade física também é um fator de proteção. E o melhor é que não tem custo e influencia em toda a vida, uma vez que protege de outras causas de mortalidade importantes. No caso do caso do câncer de mama, as atividades protegem contra a ocorrência pela primeira vez, podem evitar a recidiva e, no caso de mulheres com metástase e, portanto, sem cura, ajudam a melhorar a qualidade de vida, a tolerância ao tratamento e o sono – explana Borba.

Fatores de risco:

Histórico de câncer, em geral, não apenas de mama, na família, incluindo entre parentes de terceiro grau: corresponde a de 10% a 20% dos casos;

Fatores ambientais e hormonais: correspondem a cerca de 80% dos casos. Entre eles, destacamos:

1. Sedentarismo;

2. Má alimentação;

3. Acúmulo de gordura corporal, sobrepeso e obesidade;

4. Consumo de álcool;

5. Não amamentação (sabe-se que amamentar é um dos fatores protetores);

6. Uso de anticoncepcionais;

7. Menopausa.

A prática de exercícios

Professor do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Diego Augusto Santos Silva é um dos autores do estudo que destacou a importância atividade física contra o câncer de mama. Ele afirma que essa prática é essencial para o controle da gordura corporal, aumento da qualidade de vida, redução da progressão ou recorrência do câncer de mama e uma maior probabilidade de sobrevivência. Segundo o professor de Educação Física, não precisa ser muito. Realizar 150 minutos de atividades aeróbicas moderadas a vigorosas semanalmente já é suficiente para ajudar nesses quadros.

– Isso dá mais ou menos 30 minutos por dia durante a semana, descansando no final de semana. Também é possível compensar no sábado e no domingo. Se a mulher está sedentária, pode ser uma caminhada diária de 30 minutos. A recomendação é praticar atividades aeróbicas por 150 minutos, mas se consegue conciliar isso a uma modalidade que exija força, seja musculação, pilates ou crossfit, os benefícios para a saúde dela serão ainda maiores – explica Silva.

A médica mastologista sugere às suas pacientes a prática de atividades por pelo menos 40 minutos diários, três vezes na semana. De acordo com Borba, é essencial que a atividade escolhida promova uma aceleração cardíaca, para que a mulher possa experimentar benefícios como controle hormonal e perda de peso, que são essenciais para a prevenção do câncer.

– Como muitas vezes essas mulheres estão acima dos 50 anos, podem ter dificuldade para corridas. Pode ser uma caminhada, mas desde que tenha uma aceleração cardíaca. É preciso encontrar aquela atividade de que gosta, porque é preciso manter. Não adianta fazer dois meses e parar. Pode ser uma natação, hidroginástica ou até uma dança – orienta.

Importante:

1. Pratique pelo menos 150 minutos de atividades moderadas a vigorosas por semana;

2. Combine exercícios aeróbicos com outros de força e resistência.

O papel dos exercícios na prevenção

Segundo a médica Déborah Carvalho Malta, uma das coautora do estudo que relaciona inatividade física a mortalidade e anos de vidas perdidos por conta do câncer de mama, ao manterem a prática por cerca de 150 minutos semanais, as mulheres contribuem para tornar o seu sistema imunológico mais resistente, fortalecer a musculatura e reduzir a gordura corporal e os riscos de obesidade. Os exercícios físicos são essenciais ainda para melhorar o metabolismo e a produção hormonal, especialmente a quantidade de estrogênio, que, quando em excesso, pode ter o efeito deletério de estimular as células cancerosas e causar o câncer de mama.

– Ao melhorar o metabolismo, é possível reduzir ainda as taxas glicêmicas. Tudo isso otimiza o funcionamento sistêmico, promove um efeito protetor e reduz as células cancerosas – completa Malta, que é doutora em Saúde Pública e professora da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A mastologista enfatiza que a principal causa do câncer de mama é hormonal. Borba comenta que o excesso de gordura corporal influencia diretamente no aumento da produção de estrogênio. Como as atividades físicas contribuem para reduzir a gordura corporal e regular a produção hormonal, sua prática é essencial para contribuir a prevenção da doença.

– No caso de uma paciente que teve câncer e toma a medicação bloqueadora de hormônios, não adiantará fazer uso do remédio se continuar aumentando o peso e a gordura corporal. Os medicamentos praticamente não terão efeito, pois ela continuará produzindo hormônios – emenda.

Como a atividade física atua contra o câncer de mama:

1. Regula os hormônios, especialmente a quantidade de estrogênio, que, quando em excesso, pode ter o efeito de estimular as células cancerosas e causar o câncer de mama. O desequilíbrio hormonal é uma das principais causas do câncer de mama;

2. Confere maior tolerância ao tratamento;

3. Colabora com a perda de peso e gordura corporal, que também são fatores de risco do câncer de mama;

4.Melhora do sistema imunológico;

5. Aumenta autoestima;

6. Promove, através da liberação de hormônios neurotransmissores, bem-estar, favorecendo inclusive o enfrentamento da doença;

7. Ameniza as dores;

8. Melhora do sono;

9. Aumenta a qualidade de vida;

10.Possibilita a diminuição das chances de óbito pela doença.

 

Estilo de vida saudável

Considerando que a maioria dos casos da doença é desencadeada por fatores de risco, e não por predisposição genética, a médica mastologista e mestre em genética recomenda excluir os hábitos que podem influenciar na ocorrência da doença. Não se trata apenas de evitar a inatividade física, mas também de reduzir o consumo de álcool e alimentos industrializados, por exemplo. A orientação vale para mulheres com ou sem predisposição genética para o câncer e até para aquelas que estão em tratamento contra a doença.

– É preciso fazer tudo o que pode ajudar a prevenir o câncer de mama e viver com mais qualidade. Lembrando que a medicina não é uma ciência exata. Muitas vezes a mulher pode ter todos os fatores de risco e não desenvolver a doença, enquanto outras que tenham todos os fatores protetores podem ter câncer. Mas, mesmos nesses casos, se a mulher tem hábitos e alimentação mais saudáveis tolerará e responderá melhor ao tratamento – pondera.

O profissional de Educação Física destaca que é importante ainda adotar um estilo de vida fisicamente ativo. Isso significa não apenas praticar atividades físicas regularmente, mas também deixar de lado as conveniências da vida moderna. Um exemplo é utilizar a escada em vez de elevador, sempre que possível.

– A vida moderna impacta fortemente na falta de atividades físicas. O estudo demonstrou que mulheres brasileiras das regiões com melhores condições econômicas, ou seja, Sul e Sudeste, precisam fazer mais atividades físicas. Nessas localidades há uma quantidade maior de mortalidade, mesmo no interior dos estados – observa Silva.

A seguir, listamos os hábitos que os profissionais consultados pelo EU Atleta recomendam incorporar ao dia a dia:

. Realize atividades físicas aeróbicas moderadas a vigorosas por 150 minutos semanais. Com o passar do tempo e o ganho de mais condicionamento, aumente a quantidade de minutos e/ou inclua outras modalidades que envolvam força para aumentar os benefícios para o corpo e a saúde;

. Adote uma alimentação saudável e balanceada. Fuja dos alimentos processados, que são ricos em açúcar, sódio, gorduras e conservantes e, portanto, nocivos ao organismo. Aposte no consumo de frutas, legumes, verduras e grãos. Mantenha ainda um equilíbrio no consumo de proteínas, evitando excessos daquelas de origem animal e preferindo as vegetais. Para orientações individualizadas, consulte nutricionista;

. Corte o consumo bebidas açucaradas industrializadas, como sucos de caixinha e refrigerantes, que são fator de risco para a doença, conforme apontado pelo estudo realizado pelos pesquisadores brasileiros. Quem gosta muito de tomar um suco, deve preferir aqueles feitos com a fruta. No mais, a recomendação é beber bastante água;

. Evite alguns hábitos vida moderna. Além de repensar o uso de elevador e o consumo de alimentos ultraprocessados, que parecem ser práticos mas são prejudiciais à saúde, procure se movimentar mais no dia a dia. Adote o hábito de ir à feira ou ao supermercado para comprar alimentos frescos para preparo em casa. Outra dica é deixar o carro em casa sempre que for possível, preferindo o uso de transportes públicos e caminhadas;

. Reduza o consumo de álcool. O ideal seria cortar de vez o uso dessas bebidas. Quando se trata de câncer, não há uma dose que seja segura. Sem contar que o consumo de álcool, conforme demonstrado pelo estudo, é um dos fatores de risco de mortalidade pela doença. Portanto, procure evitar ao máximo o consumo, jamais fazendo uso diário ou abusivo;

. Mantenha os índices de massa e gordura corporal em níveis adequados à sua estrutura e estatura. Para tanto, a adoção de uma dieta balanceada e a prática de atividades físicas serão essenciais;

. Elimine de vez o hábito de fumar. O tabagismo é fator de risco para a maioria dos casos de câncer e outras doenças. No caso de mulheres em tratamento e que passaram por cirurgia, pode atrapalhar a recuperação e reduzir sua capacidade pulmonar, influenciando ainda o sedentarismo. Além disso, deve-se evitar situações de fumo passivo. A legislação já proíbe o fumo em locais públicos fechados. Porém, se na casa da mulher há algum fumante, vale conversar para restringir o consumo de cigarro no ambiente domiciliar, beneficiando toda a família.

Atividades físicas durante o tratamento

Essa prática também contribui para a melhora do quadro de mulheres que já estão em tratamento contra o câncer de mama. Com a liberação e prescrição do médico que acompanha o caso, elas devem realizar exercícios regularmente. O profissional de Educação Física autor do estudo argumenta que essas mulheres não podem ficar sedentárias.

– A mensagem mais importante do nosso estudo é que a atividade física é um dos pilares para prevenir a mortalidade por câncer de mama. Uma caminhada de 30 minutos por dia já ajudará a melhorar o sistema imunológico e a autoestima da mulher que está em tratamento. Ela deve ter acompanhamento e seguir a prescrição do médico, mas também precisa incluir os comportamentos que pode controlar, como as atividades físicas, além daquilo que pode decidir dizer não, como para o consumo de álcool e para uma dieta rica em açúcar – afirma Diego Augusto Santos Silva.

Alessandra Borba comenta que a atividade física ajuda as pacientes a estarem mais preparadas para a quimioterapia e a recuperação pós-cirurgia. No caso de mulheres sedentárias, pode ser recomendado realizar exercícios com fisioterapeuta antes do procedimento, inclusive. Mesmo mulheres jovens que passam por cirurgia podem ter a movimentação comprometida, mas, ao praticarem atividades físicas, essa capacidade é melhorada. Por isso, cada caso deve ser avaliado individualmente, para um tratamento segmentado e multidisciplinar, envolvendo ainda nutricionista e profissional de Educação Física, por exemplo.

– A prótese causa uma limitação do movimento. Se a mulher faz atividade física, ela se recuperará melhor porque a musculatura estará melhor. A remoção de ínguas também tem efeitos adversos. Com exercícios físicos, é possível controlar melhor o edema. Falando em idosas, a medicação para tratamento do câncer de mama aumenta a incidência de osteoporose. Exercícios de musculação podem reduzir as chances de osteoporose e aumentar o reforço muscular – detalha a mastologista.

A médica Déborah Carvalho Malta lembra que, durante a prática de exercícios, hormônios neurotransmissores são liberados no organismo, promovendo sensação de bem-estar e prazer. Eles são aliados para redução de dores, melhora do sono e aumento da autoestima, entre outros benefícios.

– No caso especialmente de mulheres com câncer de mama que, se submetem a cirurgias, ter algo que melhore sua autoestima, aumente a disposição para enfrentamento da doença e promova alegria e prazer já é um benefício imenso – emenda.

Para ajudar mulheres com câncer de mama a incorporarem as atividades físicas ao seu dia a dia, as médicas apontam algumas dicas.

. Estabeleça metas e progrida gradativamente. Comece pelos 150 minutos semanais e aumente esse tempo aos poucos. É importante lembrar que a quimioterapia e a radioterapia promoverão alterações como náusea e mal-estar e, em alguns dias, pode ser difícil fazer atividades. Isso tudo precisa ser levado em conta. Sendo assim, especialmente no caso de mulheres sedentárias que estão em tratamento, pode-se começar com caminhadas leves ou até passeios com o cãozinho ou na companhia de algum familiar;

. Realize atividades que sejam prazerosas. Não adianta se forçar àquelas de que não gosta. Faça uma dança, que é uma atividade mais lúdica e até divertida, ou hidroginástica, que pode ser mais agradável e não promove tantos impactos para membros e articulações;

. Se for fazer uma caminhada, evite locais íngremes e acidentados, que dificultarão o exercício. Escolha ainda um tênis adequado para a atividade e que seja confortável;

. Não se descuide da hidratação durante a prática do exercício escolhido.

Importância do acompanhamento médico

Embora evitar os fatores de risco por meio de um estilo de vida mais saudável seja importante para a prevenção do câncer de mama, nada disso substitui o acompanhamento de médicos ginecologista e mastologista. Essa recomendação é individualizada para cada mulher, considerando critérios como predisposição genética, idade e comportamentos por ela adotados. Por isso, siga as orientações que preparamos com o apoio da médica mastologista:

. Tenha atenção aos seus seios. Mensalmente, faça um autoexame para conhecer a sua mama. Lembrando que esse exame não detecta lesões precocemente ou reduz mortalidade pela doença. Sua indicação tem o objetivo de proporcionar um autoconhecimento;

. Esteja sempre em dia com a consulta ao seu ginecologista ou mastologista. Algumas mulheres precisam realizar esse acompanhamento semestralmente, enquanto outras fazem um check-up anual. Siga a orientação do seu médico para a periodicidade indicada para você;

. Realize os exames para diagnóstico, como mamografia, ultrassonografia e ressonância magnética de mamas, conforme prescrito pelo seu médico. Mulheres que têm predisposição genética para câncer, por exemplo, precisam fazer essa verificação com uma frequência maior. Portanto, como a orientação leva em conta fatores individuais, é preciso seguir à risca a recomendação médica.

Por: Gabriela Bittencourt, para o EU Atleta — Aberystwyth, País de Gales

Fonte: Maximiliano Guerra,médico epidemiologista Coautor do estudo

Déborah Carvalho Malta,médica uma das coautora do estudo

Alessandra Borba,Médica da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e mestre em genética

Diego Augusto Santos Silva,Professor do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/noticia/exercicios-contra-o-cancer-de-mama-combine-atividades-aerobicas-e-de-forca-e-resistencia.ghtml

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