Entenda a ligação entre a dopamina e maus hábitos alimentares
Estudo mostra que o neurotransmissor ligado ao prazer afeta o costume de beliscar e comer em excesso, levando à obesidade. Veja como evitar essa relação entre comida e recompensa
Um estudo do The National Institute of General Medical Sciences e da University of Virginia Brain Institute, publicado no início deste ano, afirma que o centro de prazer do cérebro e relógio biológico que regula a alimentação estão ligados, e que os alimentos com alto teor calórico, que geram prazer, interrompem os horários normais de alimentação, resultando em consumo excessivo. Com isso, começa-se a beliscar entre as refeições, e esse hábito é um dos grandes responsáveis pela epidemia de obesidade, que leva a uma série de doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão e diabetes. O nutrólogo Leonardo Paiva explica que o centro de prazer do cérebro produz a dopamina química, neurotransmissor que dá a sensação de prazer e que está ligado ao relógio biológico que regula os ritmos fisiológicos diários. Ou seja, a comida passa a ser relacionada mais a uma recompensa prazerosa para o organismo do que com a fome em si. Para evitar que isso se torne um círculo vicioso, o ideal é que se mantenha horários mais rígidos de alimentação. Nada de beliscar entre as refeições. Além disso, escolher alimentos nutricionalmente ricos é fundamental.
– A sinalização de dopamina no cérebro governa a biologia circadiana e leva ao consumo de alimentos com muita energia entre as refeições e em horários estranhos – explica Paiva.
A hora de comer é regulada, segundo a pesquisa e os especialistas, pela dopamina — Foto: Internet
Dopamina é um neurotransmissor que causa prazer, entre eles a sensação gostosa que se tem ao comer um doce ou tomar um sorvete. Essa sensação, segundo o nutrólogo, pode ser viciante, e levar a pessoa a sempre procurar por alimentos calóricos, gordurosos, doces e prazerosos. Muitos deles, ultraprocessados, que não oferecem nenhuma vantagem nutricional.
– Além de muitos desses alimentos conterem várias substâncias químicas como conservantes e realçadores de sabor, eles também são tidos como alimentos com calorias vazias, pois não apresentam vitaminas e minerais. Com o passar do tempo, a pessoa começa a beliscar e a deixar as refeições importantes de lado. Isso pode levar à obesidade que já é sabido que causa câncer e leva também a diabetes, fome oculta (quando a pessoa tem deficiência nutricional devido a alimentação rica em calorias vazias) e até doenças como Alzheimer – alerta.
Os alimentos ultraprocessados desregulam os horários de comer, levam ao superconsumo alimentar e à obesidade, com o aumento das doenças do coração, diabetes, câncer e hipertensão. Para evitar o problema, o ideal é:
1. Manter horários fixos para as refeições;
2. Não beliscar entre uma refeição e outra;
3. Evitar alimentos ultraprocessados, ricos em gorduras, açúcares e aditivos;
4. Apostar em uma alimentação nutricionalmente rica, com pratos coloridos e equilibrados.
Doenças causadas pela má alimentação
O consumo de alimentos fora do horário e de alto teor calórico pode levar a diversas doenças graves — Foto: Internet
– Obesidade e suas consequências, como diabetes, síndrome metabólica e câncer;
– Gastrite;
– Colesterol elevado;
– Hipertensão arterial;
– Doenças generativas;
– Prisão de ventre;
– Anemia nutricional.
Professor titular de nutrição da USP e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, Antonio Herbert Lancha Junior explica que alimentos mais calóricos, na prática, os mais ricos em gordura, teriam uma ação importante sobre a secreção de dopamina, e com isso fariam com que as pessoas perdessem o horário de ingerir alimentos.
– Por exemplo, eu tomo café da manhã, almoço, lancho à tarde, janto e vou dormir. Mas se eu consumo esses alimentos mais densamente calóricos, eu passo a ter esse sinal de recompensa mais forte do que a minha necessidade nutricional. E isso poderia estimular o overfeeding – completa.
Segundo ele, quando você dispara esse sinal de recompensa, ele sobrepõe-se ao sinal de fome, então a pessoa busca mais alimentos com característica hedônica (relacionado ou definido pelo prazer) do que necessariamente a ingestão de alimentos quando sente fome. Com isso, o indivíduo passa a fazer consumo compulsivo, onde se faz ingestão não só pela necessidade nutricional, mas por uma necessidade de recompensa.
– Consequentemente, a pessoa busca isso sistematicamente. E com isso aumenta o consumo de alimentos ricos em gordura, essa gordura se deposita numa região visceral. E essa região, por sua vez, aumenta o quadro de resistência periférica insulina, fazendo crescer o processo inflamatório crônico. Por conseguinte, você passa a ter como se fosse o disparo de todas as doenças crônicas degenerativas não transmissíveis – afirmou.
De acordo com o especialista, o modelo apontado na pesquisa é uma tentativa de explicar a mudança de comportamento de ingestão de alimento porque se tem fome para um consumo de alimento hedônico, que terá uma recompensa emocional mais forte. E é isso que se deve evitar.
Por: Rebeca Letieri, para o Eu Atleta — Rio de Janeiro
Fonte: Antonio Herbert Lancha Junior, Professor titular de nutrição da USP e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição
Leonardo Paiva, nutrólogo
Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/nutricao/noticia/entenda-a-ligacao-entre-a-dopamina-e-maus-habitos-alimentares.ghtml