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Dores e lesões de quadril entre ciclistas: causas e dicas de exercícios para fortalecimento

Esforço repetitivo das pedaladas pode gerar inflamações ou ajudar a descobrir lesões preexistentes. Prevenção passa pela consulta a médico, bike fit e treino de força e mobilidade

Ciclista que sente dor no quadril não deve subestimá-la. Quem usa a bike por esporte, mesmo que de forma amadora, ou para se locomover na cidade deve consultar um médico ortopedista se começar a notar incômodos nessa parte do corpo passados alguns dias das pedaladas. As dores podem esconder uma lesão preexistente ou uma inflamação gerada pelo esforço repetitivo do exercício. Não dá para tratar como um problema passageiro e deixar de buscar assistência para tratamento adequado. Dependendo da gravidade do quadro, as causas por trás das dores no quadril podem até afastar o ciclista temporária ou indefinidamente da bicicleta.

Presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot), o médico Moisés Cohen explica que o esforço repetitivo realizado por ciclistas pode desencadear inflamações na região do quadril. O posicionamento sobre a bicicleta, os movimentos continuados e a força empregada no pedal são fatores que influenciam nesses quadros. No entanto, segundo o ortopedista, quando ciclistas sentem dores no quadril, em geral, a causa mais comum não é decorrente do exercício. Nos casos mais frequentes, o esforço repetitivo da pedalada apenas contribui para descobrir um problema pré-existente.

– Se há uma degeneração como uma artrose, que deixa o movimento mais limitado, quando o ciclista pedalar e tiver uma sobrecarga, sentirá dor. Mas não é culpa da bicicleta. O ciclista também pode ter sofrido uma lesão muscular jogando futebol, por exemplo, e, ao pedalar, pode ter dor. Nesse caso, é uma lesão mal recuperada que a bike ajudou a descobrir – exemplifica.

De acordo com o médico ortopedista, as principais causas de dores no quadril entre ciclistas são:

1.Lesões preexistentes, que dão sinal com o movimento repetitivo realizado durante o exercício. É o caso de artrose nessa parte do corpo ou de problemas prévios no labrum, estrutura cartilaginosa que envolve o quadril, por exemplo;

2.Tendinites. As dores podem ser resultado de inflamação em tendões na região do quadril, especialmente aqueles do glúteo e do adutor. O atrito entre a cabeça do fêmur e a fáscia lata, tendão anterolateral que se estende do quadril até a tíbia, também pode causar inflamações e dores.

Diretor do Laboratório de Alta Performance do Centro de Estudos de Fisiologia do Exercício e Treinamento (Cefit LAP), o profissional de Educação Física Mario Pozzi afirma que o ciclista consegue notar diferença entre fadiga ou estresse muscular e as dores decorrentes de lesões. Segundo ele, se a dor persiste após uma semana, é sinal de que não se trata de um incômodo pós-treino. Por isso, nesses casos, é preciso consultar um médico.

– É normal sentir fadiga e estresse muscular. Mas quando um atleta relata dor, é algo que preocupa. Se a pessoa treina em uma semana e, na outra, ao pedalar, sente dor, deve procurar um médico. Depois que a dor vira crônica, ele sentirá constantemente, seja para dormir ou enquanto estiver acordado – alerta Pozzi, acrescentando que, embora os incômodos no quadril não sejam comumente causados pelas pedaladas, não respeitar o problema e não tratá-lo adequadamente pode comprometer a permanência do ciclista no esporte.

Sinais de que as dores merecem atenção

.Quando o incômodo permanece por mais de três dias após as pedaladas;

.Se há dor ao usar a bike mesmo após uma semana sem realizar o exercício;

.Caso a dor apareça após a combinação das pedaladas com outra atividade física, como futebol ou corrida. Pode ser que o problema tenha sido causado por outro esporte e o esforço na bicicleta apenas ajudou a detectá-lo;

.Quando o incômodo torna-se constante no dia a dia. A pessoa sente dor ao fazer os movimentos mais corriqueiros, de subir e descer escadas a sentar-se e levantar-se;

.Se o ciclista já teve lesão diagnosticada na região do quadril. O problema pode causar dores futuras, caso não seja devidamente solucionado.

Como prevenir

Independentemente da causa, dores no quadril podem ser prevenidas. O ortopedista explica que o ideal seria que toda pessoa realizasse uma avaliação clínica com médico do esporte antes de se iniciar em alguma modalidade, inclusive as variedades de ciclismo. Esse especialista é capaz de identificar problemas prévios e realizar encaminhamentos conforme a necessidade do indivíduo. Por exemplo, em alguns casos, pode ser indicado consultar médico cardiologista, em outros, um ortopedista. Sem contar o educador físico, que é sempre recomendado para orientar a prática de atividades físicas.

– Consultar um médico do esporte antes é o correto. Uma avaliação para a atividade esportiva é muito bem-vinda para detectar situações que podem ser prevenidas. De repente, a pessoa tem alguma limitação, como um encurtamento da musculatura adutora ou uma fraqueza de quadril. Com fortalecimento e alongamento para esses grupos musculares, é possível prevenir que essas dores apareçam – ensina Cohen.

Portanto, ciclistas devem contar com o apoio de educador físico não apenas para melhorar o desempenho nas pedaladas, mas também para promover uma organização muscular para o exercício e evitar lesões. O diretor do Cefit LAP explica que, com o encaminhamento do médico, o profissional poderá indicar um treino que envolva força, exercícios funcionais e movimentos que aumentem a mobilidade e a flexibilidade. Assim, é possível prevenir lesões no quadril e melhorar o quadro desses problemas, quando detectados no início.

– Antigamente, se pensava em desenvolvimento esportivo. Mas hoje o processo é outro. Há uma rotina de preparação, além da bike. Mesmo o atleta amador previne lesões com treino de mobilidade, força e exercícios funcionais – afirma Pozzi.

Para evitar lesões e tendinites na região do quadril, ou mesmo prevenir agravo de problemas pré-existentes, siga as recomendações que preparamos com o apoio do ortopedista e do profissional de Educação Física:

.Consulte um médico do esporte para uma avaliação clínica, especialmente se ainda não se iniciou no ciclismo mas pretende ingressar em alguma modalidade, seja mountain bike ou ciclismo de estrada, ou quer começar a usar a bicicleta para locomoção;

.Faça o bike fit. Esse cuidado é essencial para ajustar a bicicleta a você, permitindo ficar ergonomicamente posicionado e evitar erros posturais que poderão afetar essa e outras partes do seu corpo. Ao realizar o bike fit com profissionais qualificados para o serviço, o ciclista também se beneficia com a melhora do desempenho nas pedaladas;

.Conte com orientação de um educador físico para realizar um treino que preveja não apenas a evolução na bicicleta, como também:

1.Fortalecimento da região do quadril, com a realização de exercícios de força e funcionais;

2.Treinamento de mobilidade. São realizados movimentos mais dinâmicos com foco em alongamento e ganho de flexibilidade. O ciclista precisa ter mobilidade de quadril, músculos isquiotibiais e coluna para se manter na atividade e prevenir lesões;

.Redobre a atenção quando se lesionar em outras atividades que pratique, como futebol ou corrida. Consulte um ortopedista para a prescrição do tratamento e siga as orientações do médico para uma boa recuperação;

.Realize descanso compatível com o esforço realizado. O profissional de Educação Física também poderá ajudar nessa orientação;

.Tenha cuidado se passa muito tempo sentado no trabalho ou em casa. O treino com o educador físico ajudará a melhorar a musculatura, mas é preciso evitar ficar muitas horas nessa posição. Esse é um hábito muito prejudicial para o corpo, podendo comprometer não apenas o quadril, como também a lombar e os joelhos.

Pozzi enfatiza a importância de contar com orientação de profissional de Educação Física para indicação do treino. No entanto, ele comenta que, independente do caso, os ciclistas precisam realizar os seguintes exercícios para fortalecerem a musculatura do quadril, bem como outros grupamentos importantes para as pedaladas:

Leg press;

Agachamento;

Afundo;

Pranchas em movimento, seja com cruzamento de perna ou laterais.

Não ignore a dor!

Se mesmo tomando esses cuidados as dores aparecerem, consulte um médico ortopedista. Não corra o risco de precisar se afastar do ciclismo, que é uma atividade que pode oferecer muitos benefícios quando praticada com segurança e orientação. Cohen comenta que o caso precisará ser avaliado e diagnosticado pelo médico para tratamento individualizado, que pode envolver uso de anti-inflamatório e fisioterapia.

– No início, a dor começa após o esforço da pedalada. Depois, a pessoa começa a sentir durante a pedalada. Quando o processo está avançado, há uma progressão e dor até ao sentar e ao levantar. A pessoa também pode sentir dor por sobrecarga de outros esportes. Não é para culpar a bike por isso. Se persiste por até dois dias após o exercício, é uma dor tardia aceitável. Mas se dura mais do que isso é preciso assistência médica – conclui o ortopedista.

Por: Gabriela BIttencourt, para o EU Atleta — Aberystwyth, País de Gales

Fonte: Moisés Cohen , médico Presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot),

Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/noticia/dores-e-lesoes-de-quadril-entre-ciclistas-causas-e-dicas-de-exercicios-para-fortalecimento.ghtml

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