Dietas low carb ou cetogênica servem para todos? Uma análise da era das restrições alimentares
Promoção excessiva de uma dieta e a exclusão de todas as outras podem levar a quadros de transtornos alimentares
Os médicos têm recomendado dietas de baixo consumo de carboidratos aos pacientes desde de 1860, quando o Dr. William Harvey encorajou o agente funerário da família real britânica, William Banting, a adotá-la. Ele, por sua vez, escreveu o primeiro livro sobre dietas de grande sucesso do mundo, chamado “Letter on Corpulence, Addressed to The Public”.
Historicamente muitos médicos consideram as dietas baixas em carboidratos, as chamadas low carb, como uma das muitas opções razoáveis para seus pacientes. Mas, infelizmente, a comunidade médica parece ter maiores dificuldades para levá-las a sério. Por exemplo, a American Diabetes Association levou até 2019 para incluir dietas pobres em carboidratos como uma opção terapêutica em seu relatório de consenso sobre terapia nutricional.
Fato é que devemos reconhecer que cada paciente responde de maneira individualizada aos diferentes tratamentos nutricionais. As dietas baixas em carboidratos são tão boas quanto outras dietas quando se trata de controle de peso, conforme publicado no NEJM, maior revista médica do mundo, ainda em 2009. Pelo menos aqueles que se adaptam podem manter grandes perdas clinicamente significativas e também podem ver outros benefícios, incluindo melhor controle glicêmico em pacientes com diabetes tipo 2. Mas as demais estratégias nutricionais são igualmente eficazes se houver aderência do paciente, conforme mostram inúmeras evidências.
Devemos ter muito cuidado com a promoção excessiva de uma dieta ou a exclusão de todas as outras, algo que muitas comunidades, como a “low carb”, defendem de forma exagerada. Afirmar, por exemplo, que as frutas devem ser tratadas como veneno ou afirmar que o açúcar é oito vezes mais viciante que a cocaína é um exagero tremendo que pode levar indivíduos saudáveis a quadros de transtornos alimentares e ortorexia, a fixação em alimentação.
Devemos portanto, médicos e nutricionistas, utilizar as dietas com pouco carboidrato apenas uma das muitas opções para quem nos procura mudar sua composição corporal, ser mais saudável ou para trazer outros benefícios para a saúde. Mas lembrando sempre que elas não são a única opção e que outros padrões alimentares podem trazer resultados quando bem aceitos pelo paciente, em especial: as dietas baseadas em plantas; as com baixo consumo de alimentos processados; o jejum intermitente; a periodização nutricional; e a própria dieta cetogênica.
A melhor alimentação que uma pessoa pode ter é aquela feita com acompanhamento periódico do nutricionista e baseada nas suas preferências, nas suas características biológicas e que possam melhorar efetivamente a sua saúde.
Referências:
1. Diabetes Care. Nutrition Therapy for Adults With Diabetes or Prediabetes: A Consensus Report. https://doi.org/10.2337/dci19-0014
2. The Ketogenic Diet for Obesity and Diabetes—Enthusiasm Outpaces Evidence Shivam Joshi, MD1,2; Robert J. Ostfeld, MD, MSc3; Michelle McMacken, MD1,2. Author Affiliations. JAMA Intern Med. Published online July 15, 2019. doi:10.1001/jamainternmed.2019.2633
Por: Guilherme Renke — Rio de Janeiro
Fonte: Médico Endocrinologista Titular da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e Médico do Esporte Titular da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBMEE). — Foto: Eu Atleta
Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/nutricao/post/2019/08/15/dietas-low-carb-ou-cetogenica-servem-para-todos-uma-analise-da-era-das-restricoes-alimentares.ghtml