Dieta pobre em carboidratos pode prejudicar até o cérebro; entenda
O nosso cérebro é mesmo incrível e possui a capacidade de regular inúmeros processos metabólicos, um deles é a nossa utilização corporal de glicose.
Em situações de estresse mental, este órgão chega a aumentar em 12% a sua utilização deste tipo de carboidrato para manter-se ativo, condição essencial para preservarmos o desenvolvimento e/ou regeneração de neurônios, a cognição, a regulação do nosso sistema de atenção e o humor. A integridade cerebral é essencial para grande parte das nossas reações e processos orgânicos, uma vez que este é um dos principais gestores do nosso metabolismo.
Mas imagine o que fazer, se além de aumentarmos a nossa demanda mental por glicose, precisarmos ainda disponibilizar este nutriente para os vários tecidos e órgãos do nosso corpo? O cérebro entra em ação ativando um sistema de regulação chamado sistema nervoso simpático e o sistema hipotálamo hipófise adrenal, reduzindo a captação de glicose em tecidos periféricos, com o objetivo de se restabelecer.
A partir desta lógica, pergunto para você: será que estes ajustes são fisiológicos ou será que estamos forçando algo que não combina com a nossa natureza? Saiba que escolhas alimentares equivocadas podem intensificar este quadro caracterizado pelo desgaste e utilização de reservas energéticas.
Curiosamente, o estado de privação de glicose cerebral citado anteriormente, e conhecido como neuroglicopenia, pode ser retomado em parte por uma dieta hipercalórica. A neuroglicopenia pode ser explicada pela queda nos níveis de glicose disponíveis para o cérebro, o que pode acontecer em todo o nosso corpo por situações relativamente frequentes como, por exemplo, dietas muito restritivas, principalmente em calorias e/ou carboidratos, jejuns prolongados, desnutrição, diabetes e doenças de alto impacto energético como câncer.
Mas será que aquela dieta tão “tranquila” que faço há muito tempo deixando de comer carboidratos diariamente ou ainda protocolos de jejum prolongado associado a exercícios físicos também ocasionam estas consequências?
A resposta é sim! Tudo é uma questão de frequência, intensidade e de sua condição de saúde e nutricional.
Vamos recordar quando você fez aquela dieta com nenhum ou pouco carboidrato, como se sentia física e mentalmente e o quanto produzia cognitivamente? Por acaso ficou mais irritado ou apresentando oscilação de humor? Saiba que mesmo de maneira sutil, isto pode ser consequência da “falta” de glicose.
Para que você compreenda melhor, temos um “estoque” de glicose corporal chamado glicogênio, localizado nos músculos e no fígado, é a partir destes componentes que conseguimos manter os nossos níveis de glicose adequados durante a noite de sono, mas estarão praticamente esgotados ao acordarmos, precisando ser repostos no café da manhã.
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Quando resolvemos prolongar esta condição e a reposição não acontece deveríamos utilizar esta reserva, que certamente não estará lá, pois não foi reabastecida. Pense na despensa de sua casa.
Este tipo de atitude provoca um estresse metabólico desnecessário e que quando associados a outras situações desgastantes como o estresse mental (muito presente nos dias de hoje), tendem a nos predispor ao ganho de peso, insônia, cefaleia, falta de energia. Porém, se você está pensando que a solução é sair por aí comendo muitos pães, bolos, açúcar e similares também está equivocado.
Veja algumas atitudes que podem contribuir com a manutenção do peso corporal, da saúde mental e física, além de prevenir doenças:
> Não se alimente por impulso! Saiba reconhecer o momento correto identificando os sinais que o seu organismo lhe transmite. Atente-se a um certo grau de ansiedade, inquietude e agitação durante o dia, muitas vezes acompanhado por aquela vontade de visitar a cozinha só para dar uma espiada.
> Escolha sempre os alimentos que são boas fontes de carboidratos como frutas, verduras, legumes, cereais integrais e farelos.
> Mantenha-se ativo e não pratique atividade física em jejum.
> Planeje a sua alimentação diária, escolhendo cuidadosamente os alimentos que compõem a sua refeição.
Retire de seu pensamento a ideia equivocada de que para emagrecer ou tornar-se saudável é preciso fazer restrições, estratégias malucas ou pouco sustentáveis.
Se formos nos atentar às pesquisas e estudos científicos confiáveis, não temos protocolos e procedimentos que atestem a efetividade destes métodos. Logo, não atue como se estivesse participando de um experimento, testando novas estratégias no escuro, e quando alguém disser o quanto é bom caminhar por este trajeto, observe atentamente e tenha criticidade sobre os argumentos utilizados.
Não se deixe iludir. Deposite a sua confiança apenas no profissional capacitado e que tenha avaliado em detalhes a sua condição.
Nada é mais sábio do que ter consciência e controle sobre as suas escolhas alimentares, não se rendendo aos milagres e caminhos rápidos que muitos prometem, mas poucos ou quase ninguém consegue.
*Colaboração da nutricionista comportamental e clínica na clínica 12 semanas Dra. Samantha Rhein (Unifesp)
Referências: – Lehninger, Nelson e Cox. Princípios da Bioquímica. Ed Sarvier. – Peters, A; Langemann, D. Stress and eating behavior. Biology Reports 2010, 2:13.
Por: Paola Machado
Fonte: Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias – Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP
Transcrito: https://paolamachado.blogosfera.uol.com.br/2020/04/09/dieta-pobre-em-carboidratos-pode-prejudicar-ate-o-cerebro-entenda/