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Dieta e exercícios na gravidez melhoram saúde cardiovascular de filhos

Estudo britânico de 2020 com gestantes obesas que mudaram o estilo de vida durante a gestação demonstrou que, três anos após o nascimento, crianças reduziram frequência cardíaca em repouso, que está associada à hipertensão. Entenda e veja 10 dicas

Como se já não faltassem incentivos para as gestantes cuidarem da alimentação e ficarem mais ativas fisicamente, estudo desenvolvido no King’s College, em Londres, e apoiado pela British Heart Foundation traz mais um reforço ao demonstrar que esses hábitos podem afetar positivamente a saúde cardiovascular dos filhos. Os pesquisadores examinaram como a adoção de dieta e as atividades físicas no pré-natal de grávidas com obesidade influenciam na saúde da mulher e da criança. As participantes adotaram uma alimentação com índice glicêmico e gordura saturada reduzidos e praticaram exercícios diariamente. Dentre os resultados destacados em artigo sobre o estudo, os pesquisadores chamam a atenção para a redução da frequência cardíaca em repouso nos filhos dessas mulheres. Três anos após o nascimento, essas crianças tiveram uma diminuição de 5bpm (batimentos por minuto), quando comparadas aos filhos das mulheres do grupo de controle, que não mudaram seu estilo de vida. Além disso, as próprias mães tiveram menor ganho de peso gestacional e também melhoraram o perfil metabólico, principalmente glicêmico.

Para a cardiologista Ana Luísa Guerra, essa evidência de que os impactos das mudanças no estilo de vida das gestantes obesas são extensivos também à saúde cardiovascular dos filhos dessas mulheres é muito importante. Afinal, uma redução de 5bpm em repouso em uma criança de três anos é um valor significativo. Por isso, considera que esse resultado pode ser um fator a mais para incentivar a prática de exercícios, principalmente agora, durante a pandemia de Covid-19.

Aos três anos, filhos das mulheres que se exercitaram na gravidez tiveram redução de 5bpm na frequência cardíaca — Foto: Internet

– A gente vive uma piora da saúde, com as pessoas mais em casa com medo de se exercitar. Muitas gestantes também têm esse medo. Esse é um momento para falar sobre isso. A própria obesidade é um risco para essa mulher, que precisa fazer exercícios pelos benefícios para ela e também para o seu filho – alerta a cardiologista.

Embora os resultados sobre a frequência cardíaca dos filhos tenham ficado em evidência no estudo, Guerra comenta que a mulher obesa que faz exercícios na gravidez também experimenta muitos impactos positivos. Ela sente menos dor, dado que a prática tem efeito analgésico; melhora a qualidade do sono, pelo menos nos trimestres iniciais, quando ainda dá para encontrar uma boa posição para dormir; e também se sente mais disposta, incluindo no pós-parto. Isso sem contar que também pode melhorar a sua frequência cardíaca e ajudar na prevenção da hipertensão.

O profissional de Educação Física Eduardo Netto lembra que a redução da frequência cardíaca em repouso é uma das principais mudanças decorrentes do ganho de condicionamento físico. Um dos objetivos dos exercícios físicos é diminuir a frequência cardíaca basal, segundo reitera Netto, que é mestre em motricidade humana e pós-graduado em fisiologia do exercício. Dessa maneira, ao tomar a decisão de cuidar da alimentação e da parte física, como fizeram as participantes do estudo, as gestantes obesas também melhoram sua saúde cardiovascular. Para ilustrar os benefícios da diminuição dos batimentos por minuto, Netto faz uma conta bem simples.

– Ao reduzir a frequência cardíaca em 10bpm e multiplicar essa redução por hora de vida, é possível reconhecer a diminuição da sobrecarga no coração. Quando bate mais, está mais sobrecarregado. Quando está mais forte, o coração consegue mandar mais sangue para o corpo batendo menos – explica Eduardo Netto.

Exercícios ajudam a reduzir frequência cardíaca basal, diminuindo os riscos de problemas cardiovasculares, como hipertensão — Foto: Internet

A ginecologista Fernanda Garanhani de Surita considera que o estudo britânico, cuja proposta inicial era identificar se é possível prevenir o diabetes gestacional em mulheres com obesidade, traz muitos resultados positivos. Presidente da Comissão Nacional Especializada em Assistência Pré-Natal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a médica pontua que, nos adultos, faixa em que há mais evidências, a redução dos batimentos cardíacos está associada à diminuição dos riscos de hipertensão e de problemas cardiovasculares em geral. Essa diminuição nas crianças é de fato mais um aspecto positivo, na opinião da ginecologista.

Para a médica, a grande mensagem do estudo é que obesidade é um fator que pode trazer complicações para a gestação, os filhos e para essas mulheres na gravidez e no longo prazo, porém é modificável. A médica reconhece que a gestante, inclusive aquela que está obesa, fica mais propícia a adotar hábitos mais saudáveis na gravidez, porque pensa muito no bebê. No entanto, ela também tem muito a ganhar. E vale frisar que não se trata de uma questão estética, mas de impactos positivos para a sua saúde.

– Se elas mantivessem a dieta que tinham, teriam um aumento de peso excessivo. O ganho de peso ideal para essa gestante é diferente daquele para aquela que é eutrófica ou tem baixo peso. Esse menor ganho de peso da gestante obesa reduz o risco de diabetes gestacional, síndromes hipertensivas na gestação e de retenção de peso no pós-parto, além das chances de terem bebês muito grandes, o que dificulta o parto – enumera a ginecologista.

10 dicas para as gestantes Com o apoio das médicas e do profissional de Educação Física, listamos algumas recomendações que ajudarão gestantes a adotarem comportamentos que afetarão positivamente sua saúde e bem-estar – e dos seus filhos! – durante e após a gestação.

Exercício físico é essencial para a saúde e o bem-estar da gestante, mas também é fundamental que a atividade seja prazerosa — Internet

1. Primeiramente, converse com o seu ginecologista e obstetra. Além disso, consulte um profissional de Educação Física, que poderá prescrever os exercícios físicos mais indicados para você conforme as recomendações do seu médico;

2. enha em mente que sempre será possível encontrar uma atividade para ser praticada durante a gestação. De uma maneira geral, durante a gravidez é preciso apenas evitar exercícios que tenham impacto ou risco de queda, além de preferir não realizá-los em locais muito quentes ou muito frios. Dá até para a gestante fazer musculação, se ela gostar dessa atividade, que será adaptada à sua condição. É claro que há casos que inspiram atenção, como o risco de descolamento de placenta, que, na verdade, requer que a mulher repouse. E com o avançar da gestação, pode ficar difícil para realizar alguns movimentos e se exercitar. No entanto, na maioria dos casos, é possível incluir essa prática no dia a dia até o fim da gravidez. Com a orientação médica e de profissional de Educação Física será possível ajustar os exercícios e até identificar as melhores modalidades para você;

3. Considere sempre o seu gosto ao escolher a atividade a ser realizada. O exercício físico não deve ser algo que você realiza por obrigação, é fundamental que proporcione prazer. Caso contrário, você não terá o empenho necessário para se exercitar. E vale de tudo, até dançar;

4. Pense na possibilidade de realizar atividades na água. Natação, hidroginástica, hidroterapia e até caminhadas na piscina são ótimas opções para mulheres grávidas. Algumas gestantes podem não se sentir confortáveis com a ideia de usar roupa de banho em público. Mas, quando se tem acesso a uma piscina, vale considerar os benefícios dessas atividades. Afinal, na água, o peso corporal e a sobrecarga são reduzidos, favorecendo a realização dos movimentos, o que é ótimo para a mulher grávida;

5. Se não tem acesso a uma piscina, academia ou outro espaço próprio para a prática de exercícios, não há problema. Caminhar também é uma boa atividade. Basta colocar um calçado apropriado, vestir uma roupa confortável e dar voltas no quarteirão mesmo;

6. Hidrate-se durante o exercício;

7. Preste atenção à sua frequência cardíaca, pois o seu limiar ficará mais baixo durante o exercício;

8. Não se esqueça de movimentar-se nos demais momentos do dia e evitar comportamentos sedentários. Não fique muito tempo sentada. Ande ou faça alguma atividade laboral que não seja extenuante. Essa movimentação impacta na qualidade de vida, evitando dores e desconfortos, inclusive, e favorece o gasto de energia diário. Além disso, mulheres grávidas podem apresentar condições pró-trombóticas e mexer-se mais é essencial para evitar esse risco;

9. Em relação à alimentação, lembre-se daquela conhecida recomendação: descasque mais e desembale menos. Ou seja, reduza o consumo de industrializados e ultraprocessados e consuma mais alimentos in natura ou preparados em casa;

10. Por fim, não procure ter hábitos saudáveis por culpa, medo ou pressão das pessoas que fazem parte do seu convívio. Pense, claro, nos benefícios que hábitos saudáveis terão para o seu bebê. Mas não se esqueça de que você tem muito a ganhar com uma dieta balanceada, exercícios e atividades físicas durante e após a gestação e o parto. Mais do que isso, os benefícios em termos de bem-estar e saúde serão percebidos se adotar essas práticas por toda a sua vida.

Um detalhe adicional: em tempos de pandemia de Covid-19, manter o distanciamento social e o uso de máscaras é muito importante.

Benefícios no longo prazo

Os pesquisadores do King’s College consideram que a gravidez é uma oportunidade para promover mudanças de estilo de vida e saúde que favorecem mãe e filho. Eles revelam ainda que as mulheres do grupo de intervenção mantiveram uma dieta saudável três anos após o parto. As mulheres que participaram dessa nova etapa da pesquisa reportaram, por exemplo, uma redução da carga glicêmica e da ingestão de ácidos graxos saturados e um maior consumo de proteína. Os autores do estudo preveem observar as crianças novamente quando tiverem entre 8 e 10 anos para checar se essas melhorias na função cardiovascular foram mantidas ao longo da infância.

Para a ginecologista, os resultados dessa nova verificação pelos pesquisadores tendem a ser ainda melhores. Fernanda Garanhani de Surita ressalta que, após três anos, as evidências do estudo foram clínicas, e não genéticas, o que impede de afirmar seguramente. Contudo, sabe-se que, ainda que por pressão ou mesmo por sentimentos de culpa e medo de causar algum mal para o seu filho, as mulheres obesas tendem a mudar comportamentos durante a gravidez, momento que ainda contam com mais suporte médico e especializado para tanto.

– Essas mães mantiveram a dieta e as atividades depois de três anos e há chance de que, quando as crianças tiverem com 8 a 10 anos, pelo menos a alimentação estará adequada. Quando entrar na parte das atividades físicas entre as crianças, que quase não há quando elas têm três anos, será possível ter uma ideia melhor do que vai acontecer no longo prazo, quando forem pré-adolescentes, adolescentes e adultos – analisa a ginecologista.

A cardiologista considera que dá para extrapolar e prever que os impactos para mãe e filho serão ainda melhores nessa nova avaliação dos pesquisadores. A não ser que, segundo Ana Luísa Guerra, elas voltem à estaca zero, o que, na opinião dela, é difícil de acontecer, uma vez que essas mulheres experimentaram os benefícios das mudanças no estilo de vida. Porém, Guerra comenta que essa adesão no longo prazo depende não apenas da mãe, mas de toda a família. Afinal, conforme comenta a cardiologista, as crianças observam o comportamento dos pais e tendem a reproduzi-los. Portanto, é essencial que tenham bons exemplos.

– Se os pais não fazem exercício, o filho vê e acha que isso é o certo. Eles imitam os pais e repetirão o padrão de comportamento que têm em casa – afirma Guerra.

O profissional de Educação Física reforça que os exercícios físicos não oferecem uma proteção permanente, como uma vacina. Para ter benefícios para a saúde até o final da vida, é preciso incorporá-los ao dia a dia de forma definitiva. Por isso, o profissional de Educação Física, incentiva essa prática, por se tratar de um remédio barato, sem efeito colateral, custos e que ainda proporciona bem-estar.

– Qualquer mãe, além da preocupação com ela mesma, pensa no seu filho. Há muitas evidências científicas sustentando que, a partir momento em que ela muda o estilo vida e a alimentação, terá benefícios para a criança. Não consigo imaginar uma mãe que não esteja preocupada com isso. E essas mudanças ainda proporcionam muitos benefícios para ela – completa Eduardo Netto.

Por: Gabriela Bittencourt, para o EU Atleta — Rio de Janeiro

Fonte: Ana Luísa Guerra, cardiologista

Eduardo Netto, profissional de Educação Física

Fernanda Garanhani de Surita,ginecologista

Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/dieta-e-exercicios-na-gravidez-melhoram-saude-cardiovascular-de-filhos.ghtml

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