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Dicas de alimentação para combater a obesidade infantil apostando em comida de verdade

Pequenas mudanças no dia a dia, como substituição de ingredientes e exemplo dos pais, podem ter um grande efeito na saúde das crianças e adolescentes

Má alimentação e falta de exercícios físicos estão entre as principais causas de uma epidemia mundial de obesidade infantil, como alertam especialistas. O Brasil apresenta um dado alarmante: o número de crianças e adolescentes de até 17 anos com sobrepeso aumentou dez vezes nas últimas quatro décadas. Segundo o Ministério da Saúde, a obesidade atinge 13% dos meninos e 10% das meninas nesta faixa etária. O país está entre os 10 no ranking de obesidade no mundo, onde há cerca de 40 milhões de crianças de até 5 anos com sobrepeso.

A endocrinologista pediátrica Fernanda André lembra que a obesidade infantil pode acarretar diversos problemas de saúde, como hipertensão arterial e alterações metabólicas, aumento dos triglicerídeos e de “colesterol ruim” (LDL), alteração dos níveis de glicose no sangue, resistência a insulina e diabetes. Além disso, pode aumentar o risco de esteatose hepática (fígado gorduroso), colecistite, câncer (de mama, endométrio e intestino) e doenças cardiovasculares como infarto e derrame cerebral. A médica sugere que pais e mães procurem ajuda de um nutricionista com experiência em crianças e adolescentes, caso estejam com dificuldade em formular um cardápio saudável para o filho.

– Os primeiros mil dias do bebê são decisivos para evitar obesidade infantil. Sendo assim, os cuidados devem começar com a alimentação adequada da mãe durante a gestação. O aleitamento materno reduz em 20% a 25% o risco de obesidade – explica Fernanda André, referindo-se ao período que engloba os 270 dias da gestação e os 730 dias referentes aos primeiros dois anos de vida.

Para os maiores, substituir ingredientes industrializados por outros mais naturais e apostar na boa e velha comida caseira faz toda a diferença. São pequenas mudanças no dia a dia que podem ter um grande efeito na saúde das crianças e adolescentes. É o poder da chamada comida de verdade.

Orientações para um cardápio mais saudável

. Substitua refrigerante e suco de caixinha por suco natural de frutas;

. Troque biscoitos industrializados por biscoitos caseiros feitos com menos açúcar. Por exemplo, aveia com banana, cacau, castanhas;

. Substitua o bolinho pronto por bolo caseiro, que pode ser feito só com ovo, frutas e farinha de amêndoas;

. Troque o achocolatado por vitamina de frutas, com ou sem cacau em pó, escolhendo um leite pasteurizado com menos conservantes;

. Nada de miojo e nuggets prontos. Prefira massa fresca e nuggets caseiros feitos com peito de frango moído ou peixe e farinha de aveia;

. Consuma alimentos in natura como legumes, verduras e frutas, além de alimentos naturais cozidos, como batata, mandioca e outras raízes;

. Abuse da velha e boa dupla: arroz e feijão (arroz branco, integral ou parboilizado, a granel ou embalado, e feijão de todas as cores, lentilhas, grão de bico), uma combinação saudável e nutritiva;

. Aposte em um dos favoritos da criançada: cereais;

. Iogurte natural, sem adição de açúcar, é uma boa pedida;

. Beba muita água.

. Observação da nutricionista: faça receitas em forminhas de bichinhos, arrume o prato de forma lúdica e o enfeite com bastante colorido dos legumes e frutas.

O exemplo dos pais

A médica lembra que a obesidade é uma doença crônica e de causa multifatorial, envolvendo questões genéticas (metabólicas e hormonais) e ambientais, como estilo de vida, comportamento e nível socioeconômico.

– Se um dos pais for obeso, o risco da criança ter obesidade é de 50% – alerta Fernanda.

Para a nutricionista Ethel Souza, especialista em nutrição infantil, é fundamental que as refeições sejam as mesmas para toda a família. Nada de comida saudável para a criança e ultraprocessada para os adultos: os filhos veem o que os pais comem e se orientam pelo exemplo. Cozinhar junto com os filhos também pode ajudar, pois a criança se interessa por comer aquilo que ajudou a fazer.

– Todos da casa devem ter uma alimentação saudável e equilibrada, pois isso estimula e incentiva aos pequenos a comerem bem. A dica é buscar receitas que substituam ingredientes menos saudáveis pelos mais saudáveis – ensina Ethel.

De acordo com o Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional, a cada ano o número de pessoas obesas cresce em 3,6 milhões, se tornando a maior ameaça nutricional na América Latina e no Caribe. Isso foi tema de debate no II Encontro Regional sobre Ações de Prevenção da Obesidade Infantil no âmbito da Década de Ação das Nações Unidas para Nutrição, que teve início no início do mês de junho. Participaram da discussão representantes dos governos de Argentina, Belize, Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Granada, México, Panamá, Peru e Uruguai, membros da academia e da sociedade civil. Na ocasião, a gerente do Centro de Qualidade de Vida da Clinipam, Cintia Dilay, afirmou que nos últimos 20 anos, o Brasil obteve um crescimento de 289% de obesidade infantil.

– Isto se deve a hábitos alimentares ricos em gordura saturada, presente em maior quantidade em alimentos de origem animal, e gordura trans, presente em alimentos industrializados, como biscoitos recheados, além de excesso de açúcares como a sacarose, encontrada em doces e produtos industrializados – explica Ethel Souza.

A nutricionista Laís Gouveia destaca que o excesso de peso na infância pode levar mais facilmente a um excesso de peso na vida adulta.

– Nessa fase, as células de gordura sofrem replicação em número e em tamanho – diz, explicando que o nosso paladar é adaptável; ou seja, quanto mais consumirmos produtos com açúcar e sal, mais vamos sentir falta desses sabores. – É importante lembrar que crianças não nascem sabendo os gostos, então se elas forem acostumadas a comer alimentos com pouco sal e açúcar, não vão sentir falta.

Sedentarismo

A má alimentação contribui para este quadro, mas existem outros fatores que levam ao aumento da obesidade infantil. Na era da internet, é cada vez mais comum ver crianças e adolescentes agarradas a todo tipo de eletrônico em vez de estar se exercitando na rua, brincando. A falta de atividades físicas faz com que as calorias se acumulem no corpo.

– Crianças muito conectadas com os meios tecnológicos precisam ver o que acontece fora das telas. A Sociedade Brasileira de Pediatria orienta que o tempo máximo das crianças em frente às telas seja de duas horas. É preciso incentivar a criança a andar de bicicleta, correr, nadar e fazer atividades para movimentar o corpo – recomenda a endocrinologista pediátrica Fernanda André.

De acordo com a Federação Mundial da Obesidade, é importante encorajar os jovens a praticarem exercícios físicos, uma vez que atualmente cerca de 80% deles não atingem os níveis recomendados. O ideal é que as crianças façam pelo menos uma hora de atividade física de intensidade moderada a intensa uma vez por dia.

– O exemplo começa pelos pais, que são os grandes responsáveis no processo de mudança e são a grande inspiração de que as crianças precisam, tanto para começar a se mexer quanto para experimentar novos sabores – afirma Fernanda.

Por: Rebeca Letieri, para o Eu Atleta — Rio de Janeiro

Fonte: Fernanda André, endocrinologista pediátrica

Ministério da Saúde

Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/noticia/dicas-de-alimentacao-para-combater-a-obesidade-infantil-apostando-em-comida-de-verdade.ghtml

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