Diabete não exige só evitar doce, mas sim cuidar da alimentação
Entenda como o que se come influencia o controle da doença e veja opções de alimentos saudáveis para a dieta
Quando pensamos em diabetes, a primeira recomendação que vem à cabeça é evitar doces. Ainda que isso seja importante, não se trata do único cuidado necessário na alimentação. Controlar a diabetes vai além de só cortar açúcares e exige uma dieta equilibrada, pois toda refeição pode impactar os níveis de glicose no sangue.
A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) estima que cerca de 20 milhões de pessoas convivem com a doença no país.
A maioria (90%) é de diabetes tipo 2, que está diretamente relacionada a sobrepeso, sedentarismo, triglicerídeos elevados, hipertensão e hábitos alimentares inadequados. Já a diabetes tipo 1 (de 5% a 10% do total) é uma doença crônica, ou seja, acomete pessoas com predisposição genética.
Existem ainda outras duas categorias de diabetes: a gestacional e a pré-diabetes. A primeira ocorre durante a gravidez devido às mudanças no organismo da mulher, e o diagnóstico pode ser transitório ou não. Já a segunda é quando os níveis de glicose no sangue estão altos, mas ainda não o suficiente para caracterizar diabetes tipo 2.
Diabetes é uma doença que pode ser controlada com ajuda de uma alimentação saudável – Foto: (Reprodução/Internet)
Diabetes podem ser causadas por diferentes fatores, o que exige estratégias individuais de tratamento. Portanto, simplesmente parar de comer doces não é suficiente para o controle, já que alimentação, genética, estilo de vida e outras condições de saúde também têm papel na ocorrência da doença.
Por que doce é associado a diabetes?
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), o médico nutrólogo Durval Ribas Filho, a relação entre doce e diabetes é uma questão de cultura popular. Essa ideia surgiu a partir da observação de que, geralmente, pessoas com diabetes apresentam níveis elevados de glicose no sangue. Bolos, doces, biscoitos, balas e refrigerantes são exemplos de carboidratos simples absorvidos rapidamente e que provocam picos de glicose.
Embora esses alimentos possam contribuir para o desenvolvimento da diabetes, não são os únicos responsáveis pela condição. O que deve ser levado em conta é o excesso, seja de doces ou não.
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Quais alimentos contribuem para diabetes
O consumo exacerbado de gorduras, alimentos industrializados e outros tipos de carboidratos simples pode aumentar o risco de desenvolver a síndrome metabólica.
Uma pesquisa publicada no Diabetology & Metabolic Syndrome Journal (DMS), em 2023, associa o consumo de refeições ultraprocessadas à maior incidência de diabetes tipo 2 em adultos brasileiros. Carnes processadas e bebidas adoçadas foram os principais fatores que contribuíram para o aumento do risco da condição na amostra analisada.
Os doces contêm açúcares simples, que são rapidamente absorvidos pelo organismo e exigem uma resposta imediata, dificultando o controle da diabetes.
Já os alimentos ricos em carboidratos complexos, como grãos integrais, são digeridos mais lentamente, o que pode ajudar a manter os níveis de açúcar no sangue mais estáveis.
Os cuidados com a alimentação são importantes tanto para pessoas com diabetes ou pré-diabéticas quanto para quem não quer desenvolver a doença, embora outros fatores tenham influência nisso.
Para o consultor da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), o nutricionista Dennys Esper, a pessoa com diabetes precisa tomar cuidado para não agravar ainda mais a condição.
— Depois do diagnóstico, o objetivo é não deixar que a doença avance. Por isso, é necessário ter um controle para além do doce. Nada é proibido, mas tudo é controlado, principalmente gorduras e óleos. Esse controle não tem que ser punitivo, nem de sacrifício. Uma estratégia mais interessante do que só parar de comer os alimentos é fazer a devida substituição, com opções mais adequadas e personalizadas a cada indivíduo aconselha o especialista.
Como a alimentação influencia na diabetes
Diabetes está associada à insulina e ao índice glicêmico. Insulina é o hormônio que regula os níveis de açúcar no sangue, ajudando as células a absorver a glicose para obter energia. Índice glicêmico é uma medida que avalia a rapidez com que certo alimento eleva os níveis de glicose no sangue.
Carboidratos, proteínas e gorduras têm índice glicêmico diferentes, conforme a coordenadora do Departamento de Nutrição da SBD, Marlice Marques.
— O carboidrato é o nutriente que tem maior efeito sobre a glicemia, já que 100% do que é ingerido transforma-se em glicose (entre 15 minutos e 2 horas). Por outro lado, em relação à proteína, entre 35% e 60% podem influenciar na glicose (entre 3 e 4 horas) e a gordura, somente 10% (em torno de 5 horas) exemplifica a profissional.
O consumo de alimentos com alto índice glicêmico eleva rapidamente os níveis de glicose no sangue, forçando o pâncreas a produzir mais insulina para controlar esse aumento. Em pessoas com diabetes tipo 2, em que a produção ou a eficácia da insulina já está comprometida, esse esforço adicional do pâncreas pode ser insuficiente para manter os níveis de glicose estáveis.
— Uma dieta com 2 mil calorias pode ser distribuída em seis refeições ou, como ocorre com muita gente por causa da correria da vida, duas refeições: almoço e janta. Ao distribuir matematicamente, seriam 1 mil no almoço e 1 mil no jantar. A concentração de açúcar que chega na circulação, num único momento, é muito maior, o que provoca o pico de insulina. Ou seja, muita insulina precisa ser produzida e liberada para dar conta de todo esse açúcar entrar no organismo — alerta o nutricionista.
Portadores de diabetes tipo 1 também precisam ter cuidado com a alimentação. Nesse caso, o sistema imunológico do corpo ataca e destrói as células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina.
Alimentos de baixo índice glicêmico são indicados tanto para os portadores da doença, como também para aqueles que querem manter uma dieta equilibrada. Opções integrais e ricas em fibras são digeridas mais lentamente e, com isso, há aumento gradual dos níveis de glicose no sangue. Essa estratégia ajuda a evitar picos rápidos de insulina.
Como não há produção suficiente desse hormônio, torna-se necessário injetar insulina para o controle dos níveis de glicose no sangue. A dose aplicada varia conforme alguns fatores, incluindo a quantidade de carboidratos, proteínas e gorduras consumidos na refeição, o tipo de insulina utilizada (de ação rápida, intermediária ou prolongada) e outras condições individuais de saúde.
Cuidados na alimentação e na rotina
É consenso entre os profissionais que a dieta deve ser individualizada, considerando o ambiente, a idade, a rotina, as necessidades nutricionais, as comorbidades, as preferências alimentares, entre outros fatores.
Entretanto, o mais importante é fazer uma alimentação leve, saudável e equilibrada, sem carboidratos simples, ultraprocessados e açucarados, dando preferência a alimentos integrais, frescos e minimamente processados, bem como a proteínas magras, boas gorduras, verduras e legumes.
Alimentos ricos em fibras, como integrais, vegetais e frutas, são muito importantes, pois as fibras controlam a absorção da glicose, tornando-a mais lenta e evitando pico de insulina no sangue.
Uma recomendação que costuma aparecer entre os profissionais é iniciar as refeições pelos vegetais, de modo que o organismo se prepare para o restante dos alimentos.
A SBD oferece gratuitamente o Manual de Contagem de Carboidratos, guia público com informações detalhadas sobre controle e monitoramento de diabetes.
Outra possibilidade é a fragmentação da dieta, que consiste em consumir pequenas porções ao longo do dia para evitar aumentos súbitos nos níveis de açúcar no sangue.
Exercícios físicos também devem fazer parte da rotina de pessoas com diabetes, desde que acompanhadas por profissional especializado.
Um estudo realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e publicado no International Journal of Molecular Sciences, em 2022, aponta que o treino de resistência, como musculação ou treinamento funcional, melhora a secreção de insulina e pode beneficiar pacientes com diabetes.
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Alimentos mais saudáveis
– Leguminosas: quinoa, feijão, grão de bico, ervilha, lentilha e soja;
– Peixes: atum, sardinha e salmão;
-Cereais: arroz, farinha, macarrão e pão (todos integrais), combinados com proteínas e fibras, o que contribui para maior tempo para digestão e absorção, favorecendo o controle da glicemia;
– Laticínios: iogurte natural desnatado, leite desnatado, cottage e queijos magros;
Verduras e legumes.
Alimentos que devem ser evitados
– Ricos em açúcar: bolos, balas, chocolates, doces industrializados, doces caseiros, mel e caldo de cana;
– Bebidas açucaradas: refrigerantes, achocolatados e sucos industrializados;
– Cereais: carboidratos refinados, como arroz e farinhas.
– Ultraprocessados: biscoitos, sorvetes, cereais matinais, barras de cereais; sopas,
macarrão e temperos instantâneos”, salgadinhos de pacote, achocolatados, iogurtes e bebidas lácteas adoçadas, bebidas energéticas, caldos com sabor carne, frango ou de legumes, maionese e outros molhos prontos; produtos congelados e prontos para consumo (massas, pizzas, hambúrgueres, nuggets, salsichas, etc), pães de forma, pães doces e produtos de panificação que possuem substâncias como gordura vegetal hidrogenada, açúcar e outros aditivos químicos.
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Por: Bruna Lima, para o EU Atleta — Rio de Janeiro
Fonte: Dennys Esper Corrêa Cintra é consultor da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), doutor e pós-doutor em Clínica Médica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coordenador do Centro de Estudos em Lipídios e Nutrigenômica (CELN), da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, e pesquisador associado ao Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades, da Fundação Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fafesp).
Durval Ribas Filho é médico nutrólogo, fellow da The Obesity Society e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran)
Marlice Marques é nutricionista, pós-graduada em Nutrição Clínica, mestre em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (FM-UFG), analista em saúde na Secretaria de Estado da Saúde de Goiás; educadora em diabetes e coordenadora do Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).
Transcrito: https://ge.globo.com/eu-atleta/nutricao/reportagem/2024/10/25/c-diabete-nao-exige-so-evitar-doce-mas-sim-cuidar-da-alimentacao.ghtml