Detoxificação do organismo: questão não é só o que comer, mas o que evitar
É comum nos depararmos em sites e nas redes sociais com dietas, protocolos, sucos, receitas e shots matinais que prometem fazer um “detox” no organismo. A ideia de “limpar o organismo” parece encantadora, principalmente para quem tem o hábito de consumir comidas industrializadas, doces, fast-food, frituras e bebidas alcoólicas. Mas será que a detoxificação alimentar funciona mesmo e vale a pena?
O conceito de detoxificação se aplica a várias áreas da saúde e na nutrição sua proposta é oferecer ao organismo alimentos que tenham nutrientes com o propósito de favorecer a eliminação de toxinas —que podem ser externas (agentes presentes nos alimentos como fungicidas, metais pesados, agrotóxicos, xenobióticos) ou internas/endógenas (produzidas durante o metabolismo normal, mas precisam ser eliminadas ou neutralizadas, inclusive os radicais livres)
É importante saber que para todos estes processos já temos um grande “detoxificador” no corpo, que é o fígado! O órgão é essencial para o nosso organismo, pois grande parte das substâncias e nutrientes ingeridos passam por ele para serem ativados, modificados ou até reciclados.
O fígado monitora toxinas e subprodutos das reações corporais e é responsável também por converter esse material em um produto que não cause danos ao organismo, contando com a ajuda dos rins e intestinos para isolar e eliminar o que não fará bem à nossa saúde. Ou seja, ela faz todo o detox.
O que você deve evitar
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Quando pensamos em detoxificar o nosso corpo, precisamos inicialmente ter o cuidado para preservar e evitar dar “trabalho extra” para o fígado, já que as enzimas e reações que desempenham esta função lá estão. Algumas dicas que podem ajudar o órgão:
– Evite se automedicar Os ativos presentes em remédios, em sua grande parte, passam pelo fígado para desempenharem a sua função ou para serem reciclados, portanto, se você toma remédios sem prescrição médica e de forma desnecessária, vai sobrecarregar o seu fígado.
– Maneire nos suplementos alimentares O raciocínio é igual ao dos medicamentos. Utilize suplementos apenas quando tiver indicação e de forma monitorada, não esquecendo que na maior parte das vezes, tudo aquilo que precisamos está nos alimentos, basta variar e comer com equilíbrio.
– Não abuse na bebida alcoólica Ela é metabolizada no fígado e muitas vezes interfere de forma negativa em outros nutrientes, sem contar a sobrecarga hepática.
– Atenção aos alimentos muito gordurosos Reduz o consumo principalmente da gordura hidrogenada, presente nos industrializados, e a gordura saturada e o colesterol, presentes nos alimentos de origem animal.
– Modere o consumo de açúcar e carboidratos refinados Toda a glicose em excesso é convertida em gordura pelo fígado. E parte dessa gordura tende a se acumular no órgão, o que provoca uma doença chamada de esteatose hepática (fígado gorduroso).
– Controle o seu peso O sobrepeso e obesidade são fatores de risco para o acúmulo de gordura no fígado (o que pode gerar a esteatose hepática e até câncer)
– Evite o consumo de alimentos transgênicos e ricos em agrotóxicos Substâncias presentes neles são metabolizadas no órgão e vão exigir mais dele.
Além desses cuidados, você pode também adicionar alimentos que sejam ricos em nutrientes e fitoquímicos protetores. Dessa forma, conseguiremos preservar e nutrir o fígado.
– Consuma frutas, verduras e legumes frescos e de época (sazonais), pela riqueza nutricional e pelo acesso financeiro, pois são mais baratos;
– Gengibre é um potente anti-inflamatório e pode fazer parte de sua alimentação diária em sucos, molhos e carnes;
– Chá verde conta com ativos que desempenham função antioxidante, anti-inflamatória, anti-hipertensiva, antidiabética, antimutagênica e hepatoprotetora.
– Gorduras “boas”, como azeite, oleaginosas (castanha, nozes, avelã), semente de linhaça;
– Cúrcuma pela presença do ativo curcumina e a sua ação antioxidante e regeneradora;
– Selênio —encontrado na castanha-do-pará, cogumelos, alfafa, frutos do mar, fígado, rins, cereais e crucíferas (mostarda, repolho, brócolis e couve-flor)— faz parte de uma enzima fundamental no combate aos radicais livres, a glutationa peroxidase. Esta enzima trabalha no fígado e é uma importante aliada da saúde hepática.
Estas são algumas dicas que irão te ajudar a “limpar” o seu organismo, pensando inicialmente em preservar o órgão responsável por todo o processo. Feito isto, atitudes alimentares certamente somarão, mas de nada adianta optar pelos alimentos mencionados acima se a base da sua alimentação não está voltada para proteger o seu fígado.
Colaboração da nutricionista comportamental Samantha Rhein (Unifesp).
Referências:
COLLI, Célia. Biodisponibilidade de nutrientes. Rev. Bras. Cienc. Farm., São Paulo, v. 41, n. 1, p. 120, Mar. 2005.
DeAnn J. Liska. The Detoxification Enzyme Systems. Alternative Medicine Review, Volume 3, Number 3, 1998.
Chen, Yemiao, Xiao, Jingfang, Zhang, Xinli, Bian, Xiuwu, MicroRNAs as key mediators of hepatic detoxification.Toxicology http://dx.doi.org/10.1016/j.tox.2016.08.005.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do saudevitalidade.com
por: Paola Machado Colunista do Viva Bem
Fonte: Paola Machado é formada em educação física, mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutora em ciências da saúde (foco em fisiopatologia da obesidade e fisiologia da nutrição) pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre exercícios, nutrição e saúde. CREF: 080213-G | SP
Transcrito: https://www.uol.com.br/vivabem/colunas/paola-machado/2021/03/05/figado-e-sua-importancia.htm