Coronavírus: como se prevenir na academia
Veja dicas e cuidados que ajudam a se proteger do Covid-19 em ambientes fechados, sem precisar abrir mão dos exercícios físicos
Ambientes fechados como academias de ginástica são um prato cheio para a disseminação de vírus como o Covid-19, popularmente conhecido como novo coronavírus. Mas é necessário se afastar dos treinos? Ou há cuidados que podem ser tomados para proteção? Conforme informações do Ministério da Saúde, neste dia 11 de março já havia 34 casos do Covid-19 confirmados no Brasil, incluindo por transmissão local, além de 893 suspeitos. No mundo, mais de 110 mil casos, com mais de 4 mil mortes. Por ora, segundo o órgão, deve-se ponderar, individualmente, sobre necessidade de viagens internacionais. Mas os números e o cenário da doença no país, ainda sob controle, não são motivo para afastar as pessoas de suas rotinas diárias, incluindo de exercícios físicos. Até porque a prática de atividades moderadas é uma das medidas para ajudar a fortalecer o sistema imunológico.
No entanto, academias são ambientes fechados e há compartilhamento de equipamentos, como os de musculação, das aulas ou até mesmo esteiras e bicicletas ergométricas ou de spinning. Por isso, é essencial que as pessoas adotem cuidados, válidos para qualquer vírus, na verdade, como o da gripe. Vale, inclusive, avaliar e reduzir o volume dos exercícios durante a semana, ou alternar com alguns ao ar livre. Porém, a interrupção das atividades deve acontecer apenas se houver sintomas.
Cuidados para adotar na academia
Recomendação é pausar atividades quando há sintomas, evitando agravar quadro e transmitir o vírus para outros frequentadores da academia – Foto Internet
Tudo bem que quem não apresenta sintomas não precisa interromper a prática de atividades físicas. Mas os cuidados com a higiene pessoal para evitar o Covid-19 e outros vírus valem em todos os lugares, incluindo academias. Para realizar os seus exercícios com mais segurança para você e os demais frequentadores da academia, confira as recomendações dos médicos Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Fátima Rodrigues Fernandes, diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), e Ricardo Munir Nahas, vice-presidente da Confederação Sul-Americana de Medicina do Esporte (Cosumed). São dicas que te protegerão ainda do contato com outros vírus, bactérias e fungos, que não são incomuns nesses locais.
Dicas gerais:
1. Observe como está a limpeza da academia nas áreas dedicadas às atividades, mas também em espaços como banheiros e vestiários. Atente ainda para a ventilação. Caso o ambiente seja completamente fechado, verifique as condições dos aparelhos de ar condicionado, converse com o responsável pela academia. Da mesma forma que você adota cuidados com a limpeza do seu lar, o estabelecimento também precisa garantir que a higienização é adequada;
2. Use álcool gel e lenços de papel para limpar os aparelhos compartilháveis. A lógica é sempre higienizá-los antes e depois de usá-los, mesmo que a academia conte com profissionais para tanto. Esse cuidado é fundamental não só para quem faz musculação, mas também para alunos de ginástica, dança, yoga, pilates ou de spinning, por exemplo;
3. Ao escolher o álcool gel, opte por aqueles com concentração de 70%, que têm ação antimicrobiana contra vírus, bactérias e fungos, incluindo o Covid-19, comprovada cientificamente e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Não acredite em fake news que indicam que o produto não é eficaz, porque ele é, ou que afirmam que o vinagre funciona, pois não funciona;
4. Caso não tenha álcool gel e lenço de papel para higienizar os aparelhos, evite tocar o rosto, especialmente mucosas de boca, nariz e olhos, e recorra à água e sabão para manter as mãos limpas sempre que possível. Cuidado apenas para não criar o pânico de querer lavá-las a todo momento;
5. Mesmo que use álcool gel 70% ou água e sabão, procure não tocar o rosto durante a prática de exercícios, para evitar transmissão do vírus pelas mucosas. Às vezes, esse gesto é quase involuntário, mas é importante se policiar;
6. Não compartilhe objetos para uso pessoal. Além de jamais compartilhar itens como garrafas de água, não se deve partilhar, por exemplo, toalhinhas para o rosto;
7. Mantenha-se hidratado. As células e órgãos linfoides, envolvidos na defesa do organismo, se fortalecem se a pessoa faz uma ingestão adequada de líquidos, além de uma dieta equilibrada;
8. Lembre-se de que máscaras são indicadas apenas para pessoas que apresentam sintomas como tosse por medida de precaução. Ao usá-las, indivíduos não infectados não se protegem do contato com o vírus;
9. Não se preocupe em usar luvas de musculação com os dedos fechados para evitar tocar nas superfícies dos aparelhos. Esses artigos evitam apenas lesões na pele, sem proteger do contato com o vírus;
10. Jamais se esqueça da etiqueta respiratória ao tossir ou espirrar: cubra sempre com o braço ou um lenço de papel, que deve ser descartado depois de utilizado. Nessas horas, não use as mãos, pois terão contato com aparelhos e outras superfícies, ajudando na disseminação de vírus;
11. Embora não haja a recomendação de parar de frequentar a academia, avalie seu estado de saúde. Se apresenta alguma doença crônica, converse com o seu médico para esclarecer dúvidas e ter orientações mais segmentadas para o seu caso.
12. Caso apresente sintomas, não vá à academia.
Dicas especiais:
> Atividades na piscina: não há o risco de transmissão do vírus pela água. Mas, assim como nas demais instalações da academia, observe se a piscina está bem limpa e evite ficar tocando na borda. Além disso, ainda que a sua academia disponibilize toalhas, vale sempre levar uma de casa, para se certificar de que está devidamente limpa. Use ainda sua própria prancha;
> Lutas: se a modalidade que você pratica requer o uso de luvas, lembre-se da recomendação geral de não compartilhar objetos de uso pessoal. Caso ainda não tenha as suas próprias luvas, invista nesse acessório. E os higienize com sempre após o uso, já que eles encostam em sacos de boxe comuns a todos, por exemplo;
> Atividades com contato: é importante lembrar que, mesmo no período assintomático, o indivíduo com o Covid-19 ou outras infecções pode transmitir o vírus. Por isso, pondere se vale dar uma pausa em algumas modalidades de luta, esportes coletivos e dança de salão.
Palavra dos especialistas
Consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o médico Leonardo Weissmann confirma que não há recomendação para suspender as atividades em academias diante do atual cenário do Covid-19. Deve-se interromper essa prática quando há a confirmação da infecção por vias respiratórias, seja o Covid-19 ou mesmo uma gripe. No mais, não existe nenhuma contraindicação relacionada ao novo coronavírus e à prática de exercícios nesses ambientes. Segundo o infectologista, o ideal é que a academia seja o mais ventilada e limpa possível, mas o indivíduo também deve adotar algumas medidas para se proteger. Ao menos enquanto não há uma mudança de cenário: em casos de países com alta transmissibilidade, como China, Itália, Irã e França, o ideal é evitar ambientes fechados como academias. Em casos como o Brasil, controlados, não.
– Não dá para saber ao certo qual produto a academia usa para limpar e se vai realmente desinfetar. A pessoa deve garantir a sua própria proteção. Depois que se infectou, não tem o que fazer, pois não há nenhum medicamento para tratar. É preciso evitar a disseminação do vírus. É por isso que enfatizamos tanto a importância da higienização das mãos com água e sabão ou álcool gel – observa Weissmann.
A médica imunologista Fátima Rodrigues Fernandes, diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), concorda que não há motivos para abandonar a prática de atividades físicas se não há um quadro de infecção viral ou mesmo bacteriana instalado. Nesses casos, o organismo e o sistema imune precisam da energia para combater o agente agressor e, se a pessoa faz exercícios, pode debilitar as suas defesas. Fernandes entende a preocupação com o novo coronavírus, considerando, por exemplo, a forma como o vírus começou e a velocidade de sua transmissão, embora não seja um subtipo tão agressivo quanto aqueles responsáveis pelos surtos de SARS e MERS. Todavia, abandonar as atividades físicas sem sintomas implica em se privar dos benefícios que elas proporcionam para o organismo.
– O que está acontecendo em muitos países é a limitação dos eventos esportivos e com grande número de pessoas. Mas cada um pode continuar a frequentar a sua academia. Esse não é um motivo para alterar a sua vida como um todo. Há muitas vantagens das atividades físicas para a vida das pessoas – afirma a imunologista, enfatizando que nesse momento é importante adotar hábitos saudáveis de vida e de higiene.
De acordo com o médico do esporte Ricardo Munir Nahas, as atividades físicas devem ser mantidas, porém é importante diminuir o volume total durante a semana. Se a pessoa está habituada a praticar os seus exercícios diariamente, pode passar alternar, realizando-os dia a sim, dia não. Vice-presidente da Confederação Sul-Americana de Medicina do Esporte (Cosumed), Nahas lembra que, em infecções virais, há um período assintomático. Da mesma maneira que não dá para o indivíduo saber se já contraiu o vírus, não é possível ter certeza de que outros frequentadores da academia sem sintomas não estão infectados.
– Preventivamente, a pessoa deve continuar na academia, mas diminuindo o volume. Assim, se tiver o vírus incubado, manterá o estímulo imunológico que a atividade física regular proporciona, mas não se expõe a excessos que facilitarão a apresentar sintomas graves e evoluir para uma pneumonia. É preciso lembrar que esses germes são oportunistas – discorre o médico do esporte, acrescentando que, se a pessoa apresenta diabetes ou outra doença, o excesso de exercício pode oferecer mais oportunidade para a instalação do vírus.
Quando interromper as atividades físicas
Ao notar os sinais do coronavírus, o médico do esporte alerta que é preciso suspender a prática de atividades físicas na academia ou ao ar livre. Conforme enfatiza o Nahas, não dá para negligenciar dores no corpo e febre, especialmente com um vírus desconhecido, para o qual não há vacina, se espalhando. As atividades físicas devem ser interrompidas até que se esclareçam as causas dos sintomas. A recuperação em casos de coronavírus, gripe ou resfriado requer repouso para que o corpo possa enfrentar a infecção e se restabelecer. Ademais, embora o Covid-19 ainda seja novo, a prática de exercícios só pode ser retomada após liberação médica, como em qualquer doença viral.
– Um quadro gripal ou febril consome energia. Quando associado a atividade física, você ficará debilitado e ainda mais exposto aos riscos dos germes oportunistas. Se tem alguma doença e febre, tem que parar até identificar o que é. Se for gripe, tem começo, meio e fim, não dá para diminuir esse tempo, a não ser os sintomas. Serão necessários alguns dias para se recuperar da doença, para depois voltar com a atividade, mas com volume e intensidade menores do que quando parou, subindo gradativamente até chegar ao nível que se tinha antes de ficar doente – orienta Nahas.
Por: Gabriela Bittencourt, para o EU Atleta — Aberystwyth, País de Gales
Fonte: Organização Mundial da Saúde (OMS)
Ministério da Saúde
Leonardo Weissmann,médico consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI)
Fátima Rodrigues Fernandes, diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai)
médico do esporte Ricardo Munir Nahas,Vice-presidente da Confederação Sul-Americana de Medicina do Esporte (Cosumed),
Ricardo Munir Nahas, vice-presidente da Confederação Sul-Americana de Medicina do Esporte (Cosumed).
Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/coronavirus-como-se-prevenir-na-academia.ghtml