Conhece as diferenças entre os tipos sanguíneos e a relação com doenças?
Conhece as diferenças entre os tipos sanguíneos e a relação com doenças?
São muitos os tipos sanguíneos e quem os descobriu foi o médico e cientista austríaco Karl Landsteiner. No início do século 20, ele teve a ideia de misturar gotas de seu sangue e de outros colegas em laboratório, notando que as combinações causavam, ou não, a aglutinação dos glóbulos vermelhos. A partir daí obteve o sistema “ABO” e o Nobel de Medicina em 1930.
“Os grupos sanguíneos são classificados através da existência de proteínas específicas nas membranas das hemácias e que se expressam como antígenos ou aglutinogênios”, explica Ariette Luize Pires, hematologista do Hospital Português, em Salvador.
“Quando existe a presença dos antígenos A na superfície das hemácias, o sangue é classificado como tipo A. Quando existe a presença dos antígenos B, o sangue é tipo B. Quando presentes os antígenos A e B, o sangue é tipo AB. Agora, quando não existe a presença nem do antígeno A nem do antígeno B na superfície das hemácias, o sangue é classificado como tipo O ou zero”
Por isso não se pode transfundir sangue em alguém sem saber seu tipo, as reações são graves. Para identificar é realizada uma tipagem sanguínea, processo de coleta e análise do sangue.
Sobre os sinais + ou – do tipo sanguíneo, a médica complementa que quando existe a presença de um outro antígeno no sangue, o D, esse é classificado como fator Rh positivo. Não estando presente, o sangue é fator Rh negativo. Rh vem de rhesus, macacos usados em testes iniciais.
Quem doa para e recebe de quem?
O sangue do tipo A é um dos mais comuns, sobretudo na Europa, onde está presente na maioria da população de países como Portugal, Suíça e Noruega, por exemplo. Sua maior frequência, porém, ocorre em algumas populações aborígenes da Austrália e de indígenas de Montana, nos Estados Unidos.
Se for A+ pode doar para AB+ e A+ e receber doação de A+, A-, O+ e O-. Já o tipo A- pode doar para A+, A-, AB+ e AB- e receber de A- e O-.
O segundo tipo de sangue, o B, ao contrário de A, é menos disseminado. “No Brasil é muito raro, não passa de 8% da população. No entanto, é mais comum na Ásia Central e em algumas regiões da Índia”, informa Fábio Pires dos Santos, hematologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, esclarecendo que os tipos sanguíneos são determinados pelos genes e sua disseminação ocorreu com as migrações humanas pelo mundo por milhares de anos.
Por conter anticorpos contra A, B só pode receber doação de sangue de pessoas do tipo B ou O. Assim, B+ recebe de B+, B-, O+ e O- e doa para B+ e AB+. Quanto a B-, recebe de B- e O- e doa para quem é B+, B-, AB+ e AB-.
Se B é um sangue raro, AB é mais raro ainda. Paquistão, Japão e as duas Coreias são os países que mais o concentram, mesmo assim fica em torno de 10% de suas respectivas populações. Como não possui anticorpos em seu plasma, é compatível com sangue de qualquer tipo, mas com algumas limitações.
AB+ só doa para AB+ e recebe de todos (A+, A-, B+, B-, AB+, AB-, O+, O-). No entanto, AB- pode doar para AB+ e AB-, mas só aceita receber se for A-, B-, O- e AB-.
Quanto ao tipo O, ele lidera em praticamente todo o mundo. Em Chile, Egito, Mongólia, Zimbábue ultrapassa 50% entre as populações. Não à toa também seja o doador universal. Porém, possui anticorpos anti-A e anti-B, só podendo receber sangue do mesmo tipo.
O+ doa para A+, B+, O+ e AB+ e recebe de O+ e O-. Já O- doa para A+, B+, O+, AB+, A-, B-, O- e AB- (todos) e recebe de volta apenas O-.
Maneiras de descobrir o seu
Os exames básicos para se descobrir o tipo sanguíneo (tipagem sanguínea ABO e Rh) são realizados pela maioria dos laboratórios de análises clínicas, utilizando produtos reagentes que identificam a presença dos antígenos que definem se os glóbulos vermelhos são A, B ou AB, incluindo fator Rh. E na ausência de antígenos A e B, conclui-se que as hemácias são do tipo O.
“Deve sempre ser feita a tipagem das grávidas e dos bebês quando nascem, pois embora hoje em dia tenhamos medicações para prevenir a incompatibilidade sanguínea entre mãe e feto, esse problema pode levar a graves consequências [como aborto], se não detectado”, ressalta Carolina Kassab Wroclawski, hematologista pelo Hospital Israelita Albert Einstein e da clínica de oncologia médica Clinonco (SP)
É o teste do pezinho o exame que identifica o tipo sanguíneo de um recém-nascido. Mas em qualquer idade pode ser realizada uma tipagem, seja para detectar alguma doença ou em um check-up, por exemplo.
Em todos os testes é realizada a contraprova. Já nos bancos de doação de sangue há recursos mais avançados, para definir outros sistemas de grupos sanguíneos e incluir testes adicionais que têm por implicação aumentar a segurança das transfusões.
Correlações com doenças
Por falar em segurança, atualmente muitos estudos também tentam compreender a relação entre os tipos sanguíneos e doenças. Principalmente após cientistas europeus publicarem em 2020, no periódico científico The New England Journal of Medicine, que o tipo sanguíneo A pode elevar o risco de sintomas graves e complicações da covid-19.
O problema em si não seria o sangue, mas, sim, alterações genéticas contidas nele relacionadas a uma resposta inflamatória do organismo.
Mas o tema é recente e por isso mais estudos estão e devem ser desenvolvidos a respeito. De acordo com André Marinato, hematologista pelo HCFMRP-USP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) e consultor da Central Nacional Unimed, também já foi relatado pela American Heart Association que em pessoas dos tipos A e B a frequência de tromboses e doenças cardiovasculares é maior quando comparada com o grupo sanguíneo O. Assim como também a probabilidade para ter câncer de estômago.
Em se tratando do grupo O, Ariette Pires complementa que, em escala populacional (quando se observa e compara entre milhares de pessoas) e em pequeno grau de magnitude, estaria relacionado a uma predisposição aumentada para úlceras gástricas, tumores gastrointestinais e risco acrescido a agentes infecciosos.
Em contrapartida, a proteção contra malária seria mais eficiente. Já no grupo B, câncer de ovário e pâncreas, assim como em AB, onde a propensão de se ter problemas de memória e AVC sugere também ser maior.
“No entanto, isso não comprova relação de causa e efeito, ou seja, não se pode afirmar que o tipo sanguíneo é protetor ou causador de doenças, apenas que existem correlações, e a origem delas ainda precisa ser descoberta”, aponta Marinato.
“Os grupos sanguíneos poderiam servir de triagem inicial para medidas personalizadas de promoção de saúde e prevenção de doenças. Porém, estamos no começo. Até lá, é importante ressaltar que controlar fatores de risco reduz a incidência de doenças, independente do tipo sanguíneo”, finaliza o hematologista do HC de Ribeirão Preto.
Doe sangue
A doação de sangue é um gesto solidário de doar uma pequena quantidade do próprio sangue para salvar a vida de pessoas que se submetem a tratamentos e intervenções médicas de grande porte e complexidade, como transfusões, transplantes, procedimentos oncológicos e cirurgias.
Além desses casos, o sangue também é indispensável para que pacientes com doenças crônicas graves —como doença falciforme e talassemia— possam viver por mais tempo e com mais qualidade, além de ser de vital importância para tratar feridos em situações de emergência ou calamidades.
Uma única doação pode salvar até quatro vidas. Faça sua parte, independentemente de parentesco entre o doador e quem receberá a doação.
Podem doar sangue pessoas entre 16 e 69 anos e que estejam pesando mais de 50 kg. Além disso, é preciso apresentar documento oficial com foto e menores de 18 anos só podem doar com consentimento formal dos responsáveis.
Pessoas com febre, gripe ou resfriado, diarreia recente, grávidas e mulheres no pós-parto não podem doar temporariamente. No caso de covid-19, o critério mundialmente aceito é 30 dias após a melhora dos sintomas.
O procedimento para doação de sangue é simples, rápido e totalmente seguro. Não há riscos para o doador, porque nenhum material usado na coleta do sangue é reutilizado, o que elimina qualquer possibilidade de contaminação.
Para doar sangue, basta procurar as unidades de coleta de sangue, como os Hemocentros da sua cidade, para checar se você atende aos requisitos necessários para a doação.
Existem impedimentos temporários e também impedimentos definitivos. No mais, basta estar imbuído pelo desejo de ajudar o próximo.
Com informações do Ministério da Saúde.
Por: Marcelo Testoni
Colaboração para VivaBem*
Fonte: Karl Landsteiner, cientista austríaco
Ariette Luize Pires, hematologista do Hospital Português, em Salvador
Carolina Kassab Wroclawski, hematologista pelo Hospital Israelita Albert Einstein e da clínica de oncologia médica Clinonco (SP)
André Marinato, hematologista pelo HCFMRP-USP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) e consultor da Central Nacional Unimed, também já foi relatado pela American Heart Association
Transcrito: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2021/07/05/conhece-as-diferencas-entre-os-tipos-sanguineos-e-a-relacao-com-doencas.htm