Composição corporal influencia risco de doenças cardiovasculares
Como avaliar e qual a diferença para o IMC? Médico endocrinologista Guilherme Renke explica
Atualmente, sabe-se que olhar somente o peso na balança, ignorando a composição corporal mais detalhada, pode nos fornecer informações incompletas. Assim, podemos ter uma compreensão também incompleta dos reais riscos no desenvolvimento de doenças e maior mortalidade através do peso corporal. Muitos estudos avaliam o sobrepeso/obesidade como fator de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas utilizando o Índice de Massa Corporal (IMC) como medida de adiposidade geral. Uma limitação metodológica importante, mas pouco explorada na pesquisa da obesidade, é que o IMC é uma medida imperfeita da adiposidade. Embora o IMC indique o peso em relação à altura, ele não discrimina entre a massa gorda e a massa corporal magra. A composição corporal é altamente variável entre indivíduos com o mesmo IMC. Isso é particularmente importante porque a massa gorda e a massa corporal magra podem atuar de forma diferente nos resultados de saúde, incluindo mortalidade.
O excesso de massa gorda tem se mostrado prejudicial à saúde, enquanto evidências crescentes sugerem que o músculo esquelético, que responde pela maior parte da massa corporal magra, pode ser benéfico para a saúde. Portanto, compreender as diferentes contribuições da massa corporal magra e da massa gorda para o IMC pode fornecer novos insights sobre o paradoxo da obesidade e entregar mensagens clínicas e de saúde pública importantes sobre a composição corporal saudável além do IMC.
O que é composição corporal?
A composição corporal se refere a tudo em seu corpo, dividido em diferentes compartimentos. Ele é composto de água, proteínas, minerais e gordura. Um modelo de dois componentes da composição corporal divide o corpo em um componente de gordura e um componente sem gordura.
A massa gorda refere-se a todo o tecido adiposo do corpo. A massa corporal magra é predominantemente o músculo esquelético, mas também representa o peso de seus ossos, ligamentos, tendões e órgãos internos. Se ambos mudarem ao mesmo tempo, você não pode não ver nenhuma mudança no peso corporal.
Por exemplo, se você começar a se exercitar, poderá ganhar um quilo de músculo no primeiro mês. Ao mesmo tempo, você pode perder um quilo de gordura devido à queima de mais calorias, seja por meio de exercícios e/ou mudanças na dieta. O seu peso seguirá o mesmo, mas a composição corporal, não.
Composição corporal e mortalidade cardiovascular
Um novo estudo publicado no Jornal da American Heart Association (JAHA) investigou a relação entre os componentes da composição corporal e a mortalidade por doenças cardiovasculares em homens e mulheres saudáveis. Foram 11.463 indivíduos avaliados de 1999 até 2014.
O estudo investigou principalmente a relação entre alta ou baixa massa muscular com alta ou baixa massa de gordura e a taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares (DCV). Um ponto positivo do estudo é que foi analisada essa relação tanto em homens como em mulheres, obtendo resultados diferentes entre os sexos. Isso mostra a importância de diferenciar os fatores de risco e proteção entre os sexos, pois cada um possui proporções adequadas diferentes na composição corporal.
– Nos homens, evidenciou-se que alta massa muscular junto a um baixo teor de gordura (o melhor cenário) esteve associado a um risco menor de mortalidade por doenças cardiovasculares; porém, surpreendentemente, a alta massa muscular, mesmo associada a um alto teor de gordura, também esteve associada a um menor risco.
– Nas mulheres, os resultados foram ainda mais surpreendentes. O cenário de alta massa muscular com alta massa de gordura foi o que melhor esteve associado a um menor risco de mortalidade por DCV.
Estes achados destacam a importância da massa muscular em homens e mulheres saudáveis para a prevenção do risco de doenças cardiovasculares.
Fatores importantes
Nutricionista avalia a composição corporal de paciente: IMC, gordura abdominal e outros parâmetros devem avaliar massa gorda e massa muscular — Foto: Internet
Para atingir uma boa composição corporal, é necessário aumentar a massa magra, e para isso, alguns fatores do seu estilo de vida são essenciais para alcançar seus objetivos.
Nutrição
Não há como fugir das calorias. Em excesso, elas podem levar ao ganho de gordura; em deficiência, podem levar à perda de massa magra. Contabilizar e distribuir corretamente os macronutrientes, como carboidrato, gordura e proteína, é fundamental para manter uma boa composição corporal.
– O consumo de proteína adequado é um fator muito importante para o crescimento e manutenção do músculo esquelético.
– Indivíduos que realizam exercícios de resistência podem exigir doses maiores de proteína para maximizar os efeitos anabólicos da proteína;
– A combinação de ingestão suficiente de proteína e exercícios regulares de resistência deve formar a base de dieta para emagrecer;
– Outra boa estratégia seria a ingestão de proteínas como última refeição do dia, a fim de evitar o catabolismo muscular (perda de massa magra) no período do jejum noturno.
Exercícios aeróbicos ou de resistência?
Exercícios aeróbicos ou exercícios de resistência? Essa é uma dúvida comum. Os exercícios aeróbicos (envolvem exercícios de resistência cardiorrespiratória, como corrida, caminhada, dança aeróbica, corrida em esteira, ciclismo) demonstraram melhorar a aptidão cardiovascular. Ao mesmo tempo, o treinamento de resistência (exercício de um músculo ou grupo de músculos contra resistência externa, como a musculação e pilates) é principalmente orientado para a aptidão muscular, melhorando diretamente as capacidades de força e potência muscular.
Ambos são muito importantes para alcançar uma boa composição corporal e diminuição do desenvolvimento de doenças crônicas. Podemos dizer que são tipos de exercícios complementares.
Qualidade do sono
Há algumas evidências de que as pessoas que têm uma qualidade de sono ruim têm uma composição corporal pior do que aquelas com uma boa qualidade de sono.
As evidências aumentaram na última década, apoiando um papel para a curta duração do sono como um novo fator de risco para ganho de peso e obesidade. Uma série de caminhos causais ligando sono reduzido com obesidade foram postulados com base em estudos experimentais de privação de sono. A privação parcial de sono crônica causa sensação de fadiga que pode levar à redução da atividade física e também pode ter efeitos neuro-hormonais que aumentam a ingestão calórica.
Concluindo
Percebe-se que manter a composição corporal em níveis adequados de massa muscular e gordura é mais importante do que analisar unicamente o peso corporal total. O ganho e manutenção de massa magra possui diversos fatores, os quais podem influenciar fortemente, como a nutrição, prática de exercícios físicos e qualidade do sono. É necessária uma abordagem multidisciplinar, com médico, nutricionista e educador físico, a fim de alcançar bons resultados de composição corporal.
Referências:
Patel, S. R., & Hu, F. B. (2008). Short sleep duration and weight gain: a systematic review. Obesity (Silver Spring, Md.), 16(3), 643–653.
Stokes, T., Hector, A. J., Morton, R. W., McGlory, C., & Phillips, S. M. (2018). Recent Perspectives Regarding the Role of Dietary Protein for the Promotion of Muscle Hypertrophy with Resistance Exercise Training. Nutrients, 10(2), 180.
Por: Guilherme Renke
Fonte: Guilherme Renke, Médico endocrinologista
Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/post/2021/03/18/composicao-corporal-o-que-e-e-como-influencia-o-risco-cardiovascular.ghtml