Como dividir os cuidados do idoso com a família de forma leve e sem brigas
Cuidar do idoso não deve ser uma tarefa desagradável, de um só da família e de exclusividade feminina. Esse cuidado ainda não cabe apenas aos idosos que são dependentes. Devido às limitações naturais da idade, até os super independentes devem ser acompanhados de perto.
“O idoso, mesmo que consiga fazer tudo sozinho, precisa manter um contato social. Nesse sentido, a família, por gentileza, vínculo, responsabilidade, eventualmente deve oferecer para ele alguma ajuda, seja para algum deslocamento, alguma tarefa, alguma situação penosa”, explica Natan Chehter, geriatra da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia)
A seguir, mostramos algumas coisas que você e sua família podem fazer no dia a dia para que essa doação de tempo e carinho seja leve e renda bons e agradáveis momentos para todos.
Vale o princípio usado com crianças
Se o idoso não tem autonomia, os familiares precisam conversar e distribuir os cuidados entre si. Não quer dizer, porém, que todos precisam desempenhar exatamente as mesmas tarefas. Ricardo Nishimori, médico da família na Clínica Personal, da Central Nacional Unimed, e mestre em ciências nutricionais pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), explica.
“É o mesmo princípio usado com crianças. Enquanto um adulto se dedica em cuidar, outro se responsabiliza pelos afazeres domésticos. Com o idoso oriento a manter essa divisão e, quando possível, a inclusão de um familiar responsável ainda pelos cuidados médicos e financeiros”
Envolva os jovens nessa dinâmica. Um neto pode fica encarregado de fazer as compras do mês, outro, levar os avós nas consultas, fazer reparos na casa deles. Ou então ensiná-los a usar aparelhos. Se o idoso durante a semana é cuidado por um profissional e de sábado e domingo depende dos filhos, eles podem estabelecer um rodízio para desempenhar essa assistência.
Os pequenos não ficam de fora
As crianças não precisam ficar de fora dos cuidados. Pelo contrário, quando maiores fazem companhia ao idoso e ajudam principalmente a incentivar suas habilidades e a exercitar seu cérebro. Desenho, artesanato, cantigas, historinhas, são muitas as opções de passatempos que criam para interagir com os mais velhos e ainda aprendem a compreender sobre esse cuidado.
“A sensação de inutilidade é muito comum para os idosos e, por isso, temos que tentar mostrar a eles o quanto são importantes e podem fazer a diferença em nossas vidas”, observa Christiane Valle, psicóloga pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e coordenadora de telepsicologia da clínica online Docpass.
E quanto a quem não pode?
Quem mora longe, ou não tem tempo para se dedicar ao idoso, ajuda de outras formas. Não tem desculpa. Mas não adianta a família obrigar e forçar, pois só piora a situação. Além da possibilidade de contribuir financeiramente com as despesas, pode fazer compras online e oferecer ajuda para esclarecer dúvidas e pesquisar informações e produtos na internet.
“Ele também pode buscar um cuidador formal para auxiliar nas atividades do idoso, da casa, e instrumentais, relacionadas ao meio externo”, complementa a geriatra Alessandra Fiuza, da BP – A Beneficência Portuguesa, de São Paulo.
A médica diz que estabelecer um momento do dia para ligar para os avós também é fundamental, mesmo que por alguns minutos e principalmente por vídeo. A questão visual, mesmo por tela, é muito forte para eles, garante.
À distância, também dá para ajudar na administração do dinheiro, verificar se as contas estão sendo pagas antes do vencimento e se o idoso não tem dívidas. Essas dicas mais práticas também servem bem para aqueles familiares que não são tão apegados emocionalmente.
Lembre-se que a família também precisa levar isso em consideração, a empatia, a afinidade entre o idoso e o possível cuidador, porque cuidar e dar atenção envolve doação de afeto.
“Pensar na divisão de cuidados somente por disponibilidade não é uma fórmula de sucesso a longo prazo. Com o avançar do envelhecimento, as demandas do idoso mudam, podendo até aumentar”, afirma Vanessa Karam, psicóloga da BP – A Beneficência Portuguesa, de São Paulo.
Idosos cuidam um do outro
Quando os filhos já passaram dos 60 anos, eles também são idosos e merecem atenção. Mas, em plena forma física e mental, podem continuar a cuidar dos pais. Claro que vão precisar de uma rede de apoio, porque o pique não é mais o mesmo, afinal essa fase é marcada por um declínio que esbarra em todas as esferas do indivíduo: econômica, funcional, cognitiva e social.
Porém, tem também suas vantagens. Se na juventude não foi possível desfrutar tanto dos pais, agora aposentado pode ser que seja. Se for o seu caso, aproveite a companhia dos seus para depois que a pandemia passar reverem juntos velhos amigos e familiares, criarem novos vínculos sociais, participarem de grupos de viagem e investirem em cursos e esportes coletivos (ou até mesmo individuais, como corrida e ciclismo, mas que se praticam em grupos)
Como mobilizar a família sem brigas?
Por partes e com muita conversa, educação e paciência. Primeiro, explicar a situação do idoso (expor o que tem acontecido com ele, seus problemas de saúde, suas limitações, exames) e, na sequência, pedir ajuda para buscar soluções conjuntas.
Nesse momento, é preciso agir sem imposição, pressão ou julgamentos. Busque entender o que é possível cada membro realizar e aproveite para dizer aos jovens e crianças a importância de sua participação nesse momento.
Se tem dificuldade com alguns familiares, leve para a abordagem uma equipe multidisciplinar. Psicólogo, assistente social, médico e enfermeira conseguem juntos minimizar os conflitos e fortalecer os argumentos e cuidados necessários.
As orientações não devem ser focadas somente no idoso, mas no princípio de que o cuidado é familiar, de que todos necessitam aprender sobre esse cuidado, da mesma forma que nos preparamos para cuidar de um bebê.
A etapa seguinte é a construção de um plano de cuidados. Se o idoso está incapaz, mas a família não consegue se organizar sozinha para supervisioná-lo, ele precisa de um cuidador ou de encaminhamento para uma instituição de longa permanência. São decisões difíceis, mas de dever da família e importantes para assegurar sua segurança e uma qualidade de vida melhor.
“Para a situação não sair do controle, essa conversa sobre cuidados do idoso precisa ser feita logo no início e por mais que dependa da aceitação da família e exija um trabalho lento de convencimento, todo mundo precisa se envolver e ajudar, mesmo não presencialmente”, recomenda o geriatra Natan Chehter.
Por: Marcelo Testoni
Colaboração para VivaBem
Fonte: Natan Chehter, geriatra da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia)
Ricardo Nishimori, médico da família na Clínica Personal, da Central Nacional Unimed, e mestre em ciências nutricionais pela Unesp (Universidade Estadual Paulista)
Christiane Valle, psicóloga pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e coordenadora de telepsicologia da clínica online Docpass
Alessandra Fiuza, geriatra da BP – A Beneficência Portuguesa, de São Paulo
Vanessa Karam, psicóloga da BP – A Beneficência Portuguesa, de São Paulo
Transcrito: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2021/03/05/como-dividir-os-cuidados-do-idoso-com-a-familia-de-forma-leve-e-sem-brigas.htm