Como comer eticamente?
12 dicas para uma alimentação boa para você e para o planeta
“Para você, o que é comer eticamente?”
Com o passar dos anos, essa pergunta ganha cada vez mais importância com a crise ambiental e social que o mundo vem enfrentando. Movimentos como o veganismo se popularizaram, trazendo a realidade de se alimentar sem a morte de animais ou se aproveitando de seus derivados (como leite, ovos) como a maneira mais ética, politicamente e ambientalmente correta de comer. Mas será que apenas através do veganismo é possível conseguir isso?
Muito além de observar o tipo de alimento que você coloca no prato e sua origem, a maneira como se lida com a quantidade, onde você os compra e seu desperdício são grandes fatores a serem analisado quando abordamos o assunto. “Estamos em uma fase em que temos, infelizmente, muitas pessoas passando fome. O comer eticamente é o respeito pela comida, o respeito pelo próximo, o respeito por quem preparou aquela refeição, pelo fornecedor que plantou aquele legume, que nos forneceu”, comenta a nutricionista Angelica Grecco, do Instituto EndoVitta.
12 FORMAS DE COMER ETICAMENTE
Há diversas maneiras diferentes de falar sobre a ética da alimentação e muitas outras pelas quais você pode repensar a forma que consome os alimentos. Seja por uma razão moral, ambiental ou até mesmo pela saúde, separamos pequenas – mas impactantes – mudanças que você pode fazer para adotar um modo de vida, alimentação e consumo mais éticos.
COZINHE MAIS
Foto: Reprodução/Internet
1. Você realmente sabe de onde a sua comida está vindo ao fazer seu pedido em um restaurante? Apesar de ter diversos estabelecimentos que compram seus ingredientes de produtores locais e/ou que respeitam as leis trabalhistas e o solo onde o alimento é cultivado, redes de fast food ou grandes nomes de restaurantes possuem fontes questionáveis sobre a origem dos suprimentos.
Cozinhar suas próprias refeições em casa pode ser a melhor escolha para evitar financiar lugares hostis, uma vez que a produção do prato, desde onde os ingredientes são adquiridos e sua qualidade são acompanhados por você mesmo.
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SEMPRE LEIA O RÓTULO DOS ALIMENTOS
2. Apesar de parecer confuso ou complicado, ler o rótulo dos alimentos antes de comprá-los é a melhor maneira de evitar danos a sua saúde e ao meio ambiente, já que diversas marcas afirmam que seus produtos são mais saudáveis do que de fato são.
Produtos orgânicos ou que não possuem alimentos geneticamente modificados (AGM) têm rótulos específicos. Além disso, você pode conferir a lista de ingredientes para ter certeza de que alimentos naturais foram usados. Também pesquise marcas que possuem projetos para melhorar (ou diminuir o impacto) de sua produção no meio ambiente.
FIQUE LONGE DOS ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS
Foto: Reprodução/Internet
3. Alimentos ultraprocessados são extraídos de óleos, farinha, açúcar, amido e proteínas, passando por um processo de industrialização, produção e distribuição, até serem consumidos. Esses alimentos são obtidos através de produtos sintetizados, sendo utilizadas fontes orgânicas como o carvão e petróleo.
A gastroenterologista Leda Maria Delmondes Freitas Trindade conta que, em prol da saúde, esses alimentos devem ser evitados por possuírem baixa composição nutricional, baixo teor de vitaminas, minerais e serem ricos em calorias, conservantes, sódio, gorduras e açúcares. “Vários estudos associam o aumento da morbidade e mortalidade cardiovascular aos alimentos ultraprocessados. Eles também provocam maior efeito aterogênico, modificação da microbiota intestinal, doenças inflamatórias, obesidade, doença hepática gordurosa não alcoólica, aumento da à Insulina e Diabetes, hipertensão arterial sistêmica, doenças do coração e câncer, entre outras”, alertou.
Além disso, há um impacto ambiental em relação aos alimentos altamente processados: embalagens e operações com as quais você precisa se preocupar.
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COMA MENOS CARNE
4. Não precisa virar vegetariano mas aprender como substituir a carne no dia a dia, além de ajudar o meio ambiente, traz uma série de benefícios para o seu organismo, incluindo a redução do risco de câncer e doenças cardiovasculares.
De acordo com o GreenPeace, a produção de carne é responsável pela emissão de gases poluentes que aceleram o aquecimento global, além de exigir maiores recursos naturais (como água e terrenos que são desmatados para a criação de pastos ou soja para alimentá-los) causando grande impacto ambiental.
Além disso, documentários como “Cowspiracy: O Segredo da Sustentabilidade”, “Food, Inc.” denunciam a velocidade com que a agropecuária atua, levando animais para o abate de maneira intensa – o que os fazem injetar hormônios para um crescimento mais rápido para acompanhar a demanda de produção. O consumo excessivo é grande responsável por esse quadro. Como consumidores, compramos muita carne, e desperdiçamos muita carne. De fato, a sua demanda cresceu de forma insustentável, e a única maneira de diminui-la é consumir menos produto.
Mas não precisa cortar toda a carne da sua vida se não quiser, tá? “A carne vermelha no organismo, se for consumida com moderação, é muito importante para a construção dos músculos, massa magra,para o equilíbrio, evitando a anemia, para ter um bom aporte de ferro”, diz Angelica. Já, quando consumida em excesso, pode desenvolver doenças. “Pode proporcionar um aumento de colesterol e aumentar o risco de doenças cardiovasculares.”
Qualquer passo que você dê para diminuir o consumo de carne e aumentar o consumo de plantas é uma vitória para a alimentação ética. Adotar dietas ricas em vegetais ajudará a reduzir o sofrimento animal e os impactos ambientais negativos.
APOSTE NOS PRODUTOS ORGÂNICOS
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5. Seja alimento de origem animal ou vegetal, as opções orgânicas são a escolha mais ética possível. Eles não possuem hormônios (no caso das carnes) ou agrotóxicos (para frutas, legumes e vegetais).
Infelizmente, não é tão fácil como deveria ter acesso a produtos orgânicos. A melhor (e mais ética) maneira de se consumir alimentos orgânicos é pesquisando aqui feiras e pequenos produtores da sua região.
APROVEITE AS SOBRAS
6. A cada ano, cerca de 931 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçados no mundo inteiro, isso representa 17% de toda a produção global de comida para consumo humano. Esse volume seria mais do que suficiente para alimentar as 811 milhões de pessoas que ainda passam fome no mundo, de acordo com os dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Evitar o desperdício pode ser feito de diversas maneiras e um deles é aproveitando as sobras. De acordo com a consultora em nutrição da ABIMAPI, Bianca Naves, o aproveitamento integral dos alimentos pode começar com a elaboração de um cardápio com todo o planejamento alimentar da semana, considerando os alimentos que serão consumidos e os possíveis pratos para evitar o desperdício. “Utilizar partes de itens que seriam jogados fora, como sementes, folhas e cascas, eleva o valor nutritivo das refeições, contribui para o meio ambiente e ainda é benéfico para o bolso”, diz Bianca.
Congelar os alimentos em porções menores também pode ser uma boa opção para evitar o desperdício. Além disso as sobras, quando guardadas na geladeira, podem ser consumidas por até 48 a 72 horas em recipientes hermeticamente fechados.
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JÁ OUVIU FALAR EM FAIR TRADE?
7. Assuntos que envolvem os direitos dos trabalhadores são predominantes na Industria agrícola a nível mundial. Muitos alimentos são colhidos por trabalhadores escravos ou em situações análogas.
O sistema Fairtrade International é um guarda-chuvas internacional que junta organizações que se dedicam a promover as vendas de produtos das organizações certificadas, assim como sensibilizar os os consumidores e fazer incidência com os tomadores de decisões. No Brasil, atua a Coordenadora Latino-americana e do Caribe de Pequenos Produtores e Trabalhadores do Comércio Justo (CLAC), uma rede latino-americana de produtores coproprietária do sistema Fairtrade International.
Comprar alimentos com rótulos de comércio justo garante a proteção dos direitos dos trabalhadores, capacita os agricultores, apoia empresas responsáveis e protege o meio ambiente. Por isso, procure os selos Fair Trade Certified e Fairtrade International ao fazer compras.
COMA SEUS VEGETAIS CRUS
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8. Comer frutas e vegetais frescos sem cozinhar, congelar, secar ou qualquer outra preparação é a melhor maneira de obter o máximo benefício nutricional de sua comida. Além disso, elimina o consumo de energia proveniente de vários métodos de cozimento e o desperdício das cascas.
FIQUE LONGE DO ÓLEO DE PALMA
9. Você sabe o que é o óleo de palma? Conhecido também como azeite de dendê, é extraído do fruto do dendezeiro, palmeira originária da África que chegou ao Brasil em meados do século XVII e se adaptou ao litoral baiano por conta do clima.
A sua produção, atualmente, cresceu de maneira descontrolada sofrendo com a extração ilegal de madeira, prejudicando o habitat natural de orangotangos na Malásia e um vasto desmatamento de países tropicais, entrando no radar de grupos como Food Empowerment Project, que sugere evitar o consumo do óleo (e de diversos outros alimentos, que você pode conferir clicando aqui)
O óleo de palma é o segundo óleo mais usado no mundo depois da soja e é encontrado em alimentos como óleo de cozinha, gordura vegetal, margarina, molhos, sopas, bolachas e outros produtos de de panificação – até mesmo produtos veganos. Por isso, é importante ler o rótulo antes de comprar algum alimento.
INVISTA EM UM BOM FILTRO DE ÁGUA
10. Sabe aquela coleção de garrafas plásticas que você faz sempre que precisa comprar água na rua, ou no galão plástico de 20 litros? Para se hidratar de maneira ética, substitua-os por um bom filtro de água e garrafas de alumínio para carregar quando precisar sair de casa.
FAÇA UMA COMPOSTEIRA
11. Adotar a compostagem, que é a transformação das sobras orgânicas em adubo, como processo na rotina pode ser uma opção viável e cheia de benefícios que pode ser feita em casa ou comprada. É uma atitude importante e que diminui muito o impacto nos lixões e aterros do país, já que apenas 5% do lixo que produzimos é, de fato, reciclado. Além, claro, de gerar um adubo poderoso para as plantas.
APRENDA A PRESERVAR SEUS ALIMENTOS
12. Quantas vezes alguma comida na sua geladeira estragou? Saber como preservar alimentos frescos fará com que eles durem mais, evitando o desperdício – do alimento e de seu dinheiro. Técnicas como secagem/desidratação, enlatamento, congelamento, fermentação, decapagem e muito mais permitirão que você colha grandes quantidades de colheitas quando estiverem maduras e as retenha até poder consumi-las. Em seu canal no youtube, a cozinheira Paola Carosella dá dicas sobre como guardar suas compras.
Por: Amanda Ventorin
Fonte: Angelica Grecco, nutricionista do Instituto EndoVitta.
Leda Maria Delmondes Freitas Trindade, gastroenterologista
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Bianca Naves, consultora em nutrição da ABIMAPI
Transcrito: https://boaforma.abril.com.br/alimentacao/como-comer-eticamente/