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Celulite tem jeito? O desafio de tratar, eliminar e disfarçar os furinhos do bumbum e das pernas

Fator genético é importante, mas alimentação, sedentarismo e cigarro têm influência no quadro. Conheça causas e veja dicas de exercícios, tratamentos estéticos e orientações nutricionais

Não importa se a mulher está acima do peso ou se é magra, as celulites são sempre uma preocupação. O problema, que causa ondulações e furinhos na pele de bumbum, coxas e quadris, é responsável pela baixa na autoestima de muita gente, mas é extremamente comum. De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), as celulites afetam cerca de 95% das mulheres após a puberdade, quando começa a ocorrer a influência do estrogênio, o hormônio sexual feminino produzido pelos ovários, no corpo. O fator genético é decisivo. Porém, maus hábitos alimentares, como dieta rica em gordura, açúcar e sódio, e estilo de vida, incluindo sedentarismo e o hábito de fumar, contribuem para aumentar a quantidade e piorar o aspecto. Por isso, a prevenção e o tratamento das celulites envolvem necessariamente:

Alimentação saudável e balanceada;

Realização de exercícios físicos aeróbicos e anaeróbicos, que aumentam a vascularização local e a resistência muscular, respectivamente, contribuindo para diminuir depósito de gordura;

Manutenção do peso ideal;

Sono regular e de qualidade;

Redução de estresse, que também está associado a ganho de peso;

Abandono do vício do cigarro;

Redução do consumo de álcool e café.

Não é mágica, as celulites não vão sumir. Nem se deve esperar ficar com as pernas de modelos de revistas, algumas privilegiadas pela genética, muitas corrigidas pelo photoshop nas imagens. Mas as celulites podem sim ser minimizadas e ganhar um aspecto melhor. Há também tratamentos estéticos que podem ser prescritos pela dermatologista e ajudam a melhorar o quadro. No entanto, além de terem custo elevado, esses procedimentos não surtirão efeito se a alimentação e o estilo de vida não sofrerem alterações. A médica dermatologista Ligia Kogos comenta que, em geral, essa jornada para combate às celulites começa com as mudanças nos hábitos e manutenção do peso ideal.

– Caso as mudanças de hábitos não sejam suficientes, inicia-se um tratamento de acordo com o grau da celulite e a disponibilidade e necessidade da paciente, levando-se em conta seu estilo de vida, idade, classe econômica, urgência de melhora e grau de exigência dela mesma, por exemplo. Não há motivo para desanimar ou se desesperar frente a um quadro de qualquer grau de celulite. As alternativas são muitas e as principais não dependem de gasto financeiro, só de força de vontade – encoraja Ligia.

Causas

Assessora do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Patricia Ormiga explica que a lipodistrofia ginoide, conhecida popularmente como celulite, tem um quadro clínico bem definido. Ao entrar na puberdade e passar a produzir estrogênio, mulheres passam a conviver com a possibilidade de depósito da gordura sob a pele, especialmente de glúteos e partes superiores de coxa. Com a aderência entre a epiderme e o músculo, a gordura fica comprimida, causando o aspecto
ondulado na pele.

– Conforme o tecido adiposo vai acumulando entre a pele e o músculo, a celulite se agrava. A circulação fica mais prejudicada, a drenagem dos vasos linfáticos diminui, as células ficam cada vez mais comprimidas e o edema [inchaço] aumenta – ensina Patricia.

De acordo com as médicas dermatologistas, as principais causas das celulites são:

Predisposições genéticas e até étnicas: mulheres brancas tendem a sofrer mais com o problema;

Uma questão de gênero: homens têm muito menos tendência ao desenvolvimento de celulites, por questões hormonais. Eles também produzem estrogênio, mas em menor quantidade;

Alterações hormonais. Níveis muito altos de estrogênio podem agravar ou desencadear as celulites, tanto que o problema começa na puberdade e sofre influência com o uso de anticoncepcionais e terapias de reposição hormonal;

Problemas circulatórios, que podem prejudicar a drenagem de toxinas;

Sedentarismo;

Flacidez, inclusive após a menopausa, quando há diminuição de colágeno;

Tabagismo. Esse hábito piora a circulação nos vasos capilares e linfáticos, favorece a redução de colágeno na pele e promove o acúmulo de radicais livres, fazendo com que o caso se agrave permanentemente;

Ingestão de álcool, que aumenta a desidratação e o acúmulo de gordura;

Alimentação rica em gordura, açúcar, sódio e conservantes;

Baixa ingestão de líquidos;

Doenças metabólicas.

Exercícios físicos x celulites

O membro do Conselho Federal de Educação Física (Confef) Eduardo Netto enfatiza que evidências científicas permitem afirmar que o tratamento e a prevenção da celulite passam pela melhora do condicionamento físico associada a uma dieta que diminua a gordura corporal. Segundo ele, um processo que promova o emagrecimento, portanto, será decisivo para a obtenção de resultados satisfatórios.

– Emagrecer, sem dúvida, ajuda. Quando a gordura diminui, automaticamente aumenta o aporte sanguíneo, melhorando o quadro inflamatório da celulite. As mulheres que perdem peso também têm menos aparência de celulite. Estudos da estrutura microscópica de tecidos têm demonstrado que as células de gordura se retraem ligeiramente da derme quando ocorre uma perda de peso. Assim, um programa que abranja uma dieta com restrição calórica e atividades físicas, tanto exercícios aeróbicos quanto treinamento de resistência, é a melhor indicação para tratar as celulites – explica.

Netto recomenda buscar a orientação de um educador físico para incorporar atividades físicas que auxiliem no tratamento e prevenção das celulites. Esse profissional será capaz de prescrever um treino individualizado levando em consideração seus objetivos e suas características individuais. Contudo, Netto, que é sócio-diretor técnico da Rede de Academias Bodytech, faz recomendações gerais sobre a prática de atividades físicas que se aplicam a todas as mulheres que querem melhorar e evitar as celulites.

Tenha sempre em mente: fazer qualquer exercício é melhor do que não fazer nenhum. Por isso, além de realizar aqueles indicados pelo educador físico para ter resultados no tratamento das celulites, procure alguma atividade que consiga manter de forma contínua. Um dos pontos importantes nessa adesão é a percepção de prazer com a prática;

Concilie exercícios aeróbicos, como corrida, caminhada e ciclismo, com a musculação. Essa dobradinha garante sempre bons resultados. As atividades aeróbicas auxiliam na queima de gordura, enquanto a musculação, além de também proporcionar um gasto calórico, aumenta o volume e a tonicidade muscular, ajudando na estética corporal;

Lembre-se de que a melhora das funções cardiorrespiratórias e musculares demanda pelo menos 150 minutos semanais de atividades físicas aeróbicas de intensidade moderada ou pelo menos 75 minutos daquelas mais vigorosas. No entanto, combinar esses estímulos três vezes na semana a treinamento de musculação duas ou três vezes semanais pode ser uma estratégia interessante para quem já tem condicionamento. Entre pessoas mais sedentárias, essa frequência e intensidade podem e devem ser inferiores.

Promova um processo de emagrecimento que concilie dieta e atividades físicas.

Realize trabalhos de contra-resistência, com o uso de pesos, por exemplo, nas regiões do corpo que costumam ser mais atingidas pela celulite, como pernas, glúteo e quadris, para melhorar o tônus muscular. Os aparelhos de musculação são opções seguras e eficientes. Nesse contexto, o profissional de Educação Física pode prescrever:

1 Agachamentos;

2 Leg press, que trabalha glúteo, quadríceps, posterior de coxa e panturrilha;

3 Cadeira abdutora, voltada para a musculatura externa da coxa e glúteo;

4 Cadeira adutora, que atua na parte interna da coxa;

5 Máquina de glúteo, que trabalha ainda quadris e posterior de coxa;

6 Cadeira extensora, voltada para quadríceps e parte anterior da coxa.

Alimentação

A nutricionista clínica funcional e cirúrgica Fernanda Mululo comenta que a celulite, como o próprio nome indica, é caracterizada por uma inflamação no tecido celular, causada pelo acúmulo de gordura e má circulação local. Segundo ela, o consumo de alimentos que favorecem um processo inflamatório, associado aos demais fatores de risco para a celulite, contribui
para o aparecimento desses furinhos que tanto preocupam as mulheres,

– A gente percebe esse quadro com uma alimentação com alto índice glicêmico. Pessoas que consomem grande quantidade de alimentos industrializados e farinhas brancas, por exemplo, têm uma tendência maior para a deposição de gordura e aumento de peso e, consequentemente, celulite – observa a nutricionista, que é pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional e Fitoterapia e também atua em clínica de estética.

Mululo reforça que a alimentação é uma aliada extremamente importante para a prevenção e a melhora do quadro da celulite, inclusive em casos graves. Mas é preciso evitar todos os fatores de risco, incluindo também o estresse, que provoca inchaço, retenção hídrica, aumento de gordura e ganho de peso. Além disso, não há um alimento que seja um super-herói ou que seja um grande vilão, mas conjuntos que podem favorecer ou evitar as celulites. A nutricionista aponta orientações sobre como deve ser a alimentação.

O que evitar na mesa:

Alimentos industrializados, embutidos e produtos prontos para o consumo, como biscoitos e lasanhas;

Refrigerantes e bebidas gaseificadas;

Fast food, que, assim como os produtos industrializados, parecem tornar a vida mais prática, mas agregam um excesso calórico, glicêmico e sódico;

Dieta rica em sódio. Vale frisar que, além dos alimentos listados, deve-se evitar o uso excessivo de sal na preparação da comida. O exagero na ingestão de sódio pode aumentar edemas e retenção de líquidos, além de dificultar a circulação;

Cafeína em excesso, que pode diminuir o retorno venoso e comprometer a circulação sanguínea;

Bebidas alcoólicas. Além de favorecerem o ganho de peso, também aumentam o edema.

O que consumir:

Vegetais, frutas, legumes e cereais integrais, que têm funções antioxidante e anti-inflamatória;

Alimentos fonte de ômega 3, como peixes, linhaça e chia, que vão manter tanto a saúde intestinal como diminuir o processo inflamatório das celulites;

Chás que reduzam a retenção líquida e melhorem o processo de drenagem linfática natural. É o caso dos de cavalinha, hibisco, centelha e chá verde;

Frutas ricas em resveratrol, como romã e uva. Esse antioxidante também melhora o retorno venoso, a drenagem linfática e a retenção hídrica;

Fibras, fundamentais para o bom funcionamento do intestino. Um intestino que não funciona adequadamente dificulta a perda de peso e promove um aumento da quantidade de toxinas absorvidas pelo corpo e, consequentemente, do processo inflamatório;

Água. A hidratação é extremamente importante no combate à celulite. O consumo adequado de água é essencial para a drenagem linfática natural nas regiões afetadas e para manter a saúde intestinal. A recomendação diária é individual e considera entre 30 a 35 ml por cada quilo da pessoa.

Tratamentos dermatológicos

A Sociedade Brasileira de Dermatologia considera uma escala reconhecida internacionalmente para definir os graus de celulite. Trata-se da “Cellulite Severity Scale”, ou escala de gravidade da celulite, em uma tradução livre, desenvolvida pelas dermatologistas brasileiras Doris Hexsel, Camile Hexsel e Taciana Dal Forno. O método adotado pela entidade utiliza um sistema de pontuação que classifica as celulites em leves, moderadas e graves, dependendo de suas características clínicas, como:

Número e profundidade de depressões;

Aspecto das áreas elevadas da celulite;

Presença de lesões elevadas;

Flacidez.

Cada caso precisa ser avaliado individualmente por dermatologista, para que o tratamento seja prescrito. Na maioria das vezes, será preciso combinar procedimentos para promover redução de gordura, drenagem de líquidos acumulados e dissolução de traves de tecido fibroso, que comprimem a gordura e os líquidos. De qualquer forma, é preciso sempre evitar os fatores de risco das celulites, se não quiser agravar o problema.

A médica Ormiga reforça que a prevenção é fundamental para todos os aspectos dermatológicos. Com as celulites, não é diferente.

– Jovens que têm predisposição para celulites podem se consultar com dermatologista logo depois da puberdade para receberem as primeiras orientações, introduzindo os tratamentos futuramente, no início da vida adulta, para impedir ou reduzir a progressão do quadro. Todos os problemas que vão piorando com o tempo demandam tratamentos mais invasivos. Dependendo do caso, será preciso fazer combinação de diferentes tratamentos para obter resultados – discorre.

Com o apoio das médicas dermatologistas, listamos a seguir os principais procedimentos, que são recomendados dependendo do grau da celulite, mas também da disponibilidade financeira da mulher, uma vez que alguns têm custo elevado.

Massagens, especialmente a drenagem linfática. São realizadas manobras que seguem o trajeto do sistema linfático para facilitar a drenagem de líquidos que ficam acumulados nos tecidos. A drenagem linfática ajuda muito em todos os casos de celulites, mesmos nos mais leves, pois evita que a gordura se acumule e cause edemas;

Radiação infravermelha, que proporciona benefícios como aumento da circulação sanguínea;

Radiofrequência. Nesse procedimento, são usados equipamentos que aquecem os tecidos subcutâneos de forma intensa, mas sem queimar a pele. O calor promove a quebra da gordura, a produção de colágeno e dissolve nódulos, homogeneizando as camadas de tecido. Esse tratamento também pode ser indicado em casos leves;

Ondas de choque ou acústicas, realizadas com aparelhos específicos e não invasivos;

Ultrassom focado, que emite ondas de baixa frequência sobre pele e gordura;

Preenchimento. Como nome sugere, promove o preenchimento da celulite, usando produtos como o ácido polilático. Realizado com o uso de agulhas, o procedimento estimula a formação de rede de colágeno e diminui os desníveis na região afetada;

Subcisão. Criado no Brasil, o método é usado para romper as traves de tecido conjuntivo que comprimem a gordura. Para isso, insere-se uma agulha grossa sob os furinhos. É preciso que a mulher esteja preparada para suportar o procedimento e os hematomas, que podem levar até 90 dias para desaparecer;

Cremes. O uso desses produtos divide opiniões. Todavia, a promessa é que podem ajudar no tratamento se contiverem ativos que atuem nas três frentes de combate à celulite, ou seja, redução de gordura, drenagem de líquidos e dissolução de traves de tecido fibroso.

Para além da estética

Embora seja considerado um problema estético, é importante ficar alerta quando o caso agrava e a quantidade de furinhos aumenta muito. Lembre-se de que celulite está relacionada a maus hábitos alimentares e de vida, além de problemas de saúde. Por isso, vale conferir alguns alertas dos especialistas que consultamos:

1 Atente para o seu corpo e faça uma autoavaliação do seu estilo de vida. A presença de celulites é normal, mas o excesso pode ser sinal de hábitos não ideais ou um indicativo de que o corpo não está saudável;

2 Procure um médico dermatologista para uma avaliação do seu quadro, se informar sobre as celulites e saber como tratar o problema;

3 Finalmente, não aposte todas as suas esperanças nos procedimentos estéticos disponíveis. Aproveite essa oportunidade para promover uma mudança no seu estilo de vida, melhorar a sua dieta e abandonar de vez o sedentarismo. Assim, você ainda beneficiará a sua saúde de uma forma geral.

Uma observação importante: não se deve confundir a celulite comum, um problema estético, com a infecciosa, um problema médico. Essa é uma doença causada por bactérias que penetram na pele através de um corte, ferida, úlcera, bolha ou até por uma micose nos pés. Causa dor, inchaço, vermelhidão, febre, vômitos, calafrios e mal-estar e deve ser tratada com antibióticos. Sem tratamento, pode avançar para um caso de trombose e septicemia e levar à morte. Em comum, as duas só têm o nome.

Por: Gabriela Bittencourt, para o EU Atleta — Aberystwyth, País de Gales

Fonte; Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD)

Ligia Kogos, médica dermatologista

Patricia Ormiga, Assessora do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia

Eduardo Netto, membro do Conselho Federal de Educação Física (Confef)

Fernanda Mululo, nutricionista clínica funcional e cirúrgica

Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/noticia/celulite-tem-jeito-o-desafio-de-tratar-eliminar-e-disfarcar-os-furinhos-do-bumbum-e-das-pernas.ghtml

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