Cardápio vegano para pacientes com câncer de mama
Entenda por que uma alimentação vegetariana pode ajudar no tratamento dos sintomas da doença e veja um menu completo para um dia inteiro sem carne, com as receitas
O câncer desenvolve-se quando os processos normais de controle do comportamento celular falham e uma célula mutante torna-se a progenitora de um grupo de células que compartilham seus comportamentos ou capacidades anormais. Isso geralmente é resultado do acúmulo de dano genético nas células ao longo do tempo. O processo pelo qual as células normais transformam-se em células cancerígenas invasivas e progridem para uma doença clinicamente significativa costuma durar anos. Assim, a formação de um câncer é o resultado de uma complexa interação envolvendo dieta, nutrição, atividade física e outros fatores ambientais e de estilo de vida com fatores do hospedeiro, ou seja, fatores individuais de cada ser humano, que estão relacionados tanto à herança genética quanto às experiências anteriores. E como nossos hábitos alimentares influenciam?
Saiba escolher os alimentos ideias para as suas refeições veganas — Foto: Internet
– O aumento da ocorrência de câncer de mama cursa com a modificação do padrão alimentar no decorrer dos anos, e existe relação entre alimentos ou grupos alimentares com a elevação ou redução do risco para o câncer de mama. Por exemplo, a alta ingestão de alimentos ricos em açúcares, bebidas alcoólicas, carnes vermelhas, leite e derivados pode estar relacionado à elevação do risco da doença. Em contrapartida, o consumo adequado de vegetais, frutas e leguminosas possui efeito contrário – explica a nutricionista Luna Azevedo.
De acordo com a especialista, optar por uma alimentação vegetariana estrita ou vegana (que vai bem além da alimentação) é uma excelente opção para quem já está em tratamento de câncer de mama, pois esse estilo de vida está relacionado ao menor IMC, ao melhor estado antioxidante e inflamatório e ao nível menor de insulina, fatores extremamente importantes para que o corpo possa combater o câncer.
Dentre os benefícios nutricionais que as dietas vegetarianas proporcionam, a nutricionista aponta:
– Alta ingestão de fibras e carboidratos complexos, que auxiliam no equilíbrio da glicose sanguínea e levam a menor produção de agentes carcinogênicos, como o ácido biliar secundário,
– O consumo de ácidos graxos ômega 6, carotenóides, ácido fólico, magnésio, potássio, antioxidantes (como as vitaminas C e E) e fitoquímicos (advindos de vegetais da família Brassica, como brócolis, repolho, couve, couve-flor), que são que nutrientes demonstraram efeitos antitumorigênicos.
– O que acontece na prática é que o correto acompanhamento nutricional somado à retirada de produtos de origem animal leva o paciente a explorar mais os vegetais, e com isso o consumo de fibras, fitoquímicos, vitaminas e minerais aumenta consideravelmente. As fibras, por exemplo, além de outras coisas, ajudam no equilíbrio da microbiota intestinal, o que leva também à produção adequada de serotonina, produzida majoritariamente via intestinal, auxiliando na regulação do humor, apetite, sono, memória, além de mediar funções fisiológicas importantes, como os movimentos peristálticos, integridade cardiovascular e manutenção da circulação sanguínea. O que é excelente pensando em um indivíduo que está passando por sessões de quimioterapia – acrescenta Azevedo.
É importante que o paciente tenha aporte de todos os nutrientes necessários para o bom funcionamento do organismo. Para isso, a nutricionista listou alguns dos mais importantes:
– Ômega 3: os ácidos graxos poliinsaturados n-3 são convertidos em ácidos eicosapentaenóico (EPA) e docosahexaenóico (DHA), que são precursores dos mediadores químicos e importantes constituintes da membrana celular, que bloqueiam a reação da desaturase, que significa, em uma linguagem mais simples, que vai impedir a proliferação celular em linhagens de células cancerígenas do tecido mamário.
– Fitoquímicos: a quimioprevenção através dos fitoquímicos presentes na alimentação é bastante discutida, isso porque na soja, por exemplo, encontramos isoflavonas genisteína e daidzeína, que exercem um papel protetor no desenvolvimento de tumores mamários. Os mecanismos anticarcinogênicos vêm sendo investigados, como a inibição das topoisomerases, regulação da progressão, diferenciação e apoptose do ciclo celular, inibição da angiogênese e modulação do metabolismo, atuando como antioxidantes e inibidores do metabolismo de carcinógenos. Além disso, os isotiocianatos, encontrados nos vegetais crucíferos, são abordados por alguns estudos experimentais por sua ação quimiopreventiva do câncer, inclusive na carcinogênese mamária. De uma forma geral, esses compostos atuam inibindo o metabolismo oxidativo de vários carcinógenos, que levam a danos no DNA. Estudos também apontam que o indol-3-carbinol, presente no brócolis, por exemplo, pode alterar o metabolismo de estrogênio e a razão 2/16-hidroxiestrógeno, que é determinante do risco de câncer de mama.
– Vitaminas e minerais: Entre os micronutrientes mais investigados por sua atuação quimiopreventiva na carcinogênese mamária é importante ressaltar as vitaminas antioxidantes, ou seja, as vitaminas A, C e E, assim como o folato e o selênio. Uma das ações das vitaminas e minerais é a defesa contra as espécies reativas de oxigênio, que são responsáveis por danos ao DNA, regulação da diferenciação celular e, consequentemente, inibição do crescimento de células mamárias cancerígenas.
E o que deve ser evitado?
– Consumo de carnes processadas: O melhor é não consumir carnes processadas, como presunto, salsicha, mortadela, linguiça, salame, bacon, peito ou blanquet de peru, entre outras. Quanto maior o consumo, maior o risco. Se consumir, procure comer a menor quantidade possível.
– Consumo de alimentos ultraprocessados, bebidas açucaradas e fast food: Limitar a ingestão desses alimentos reduz o risco de ganho de peso, sobrepeso e obesidade, uma vez que a maior parte dos cânceres (incluindo o de mama) estão relacionados a uma maior gordura corporal.
– Consumo de bebidas alcoólicas: O consumo de bebida alcoólica pode aumentar a produção de metabólitos que são genotóxicos e carcinogênicos.
– Consumo de carne vermelha: O alto consumo de carne vermelha constitui-se um fator de risco para o câncer de mama, devido à grande quantidade de gorduras saturadas e agentes mutagênicos e/ou carcinogênicos presentes.
De acordo com a especialista, não é necessário fazer uso de suplementos alimentares para a prevenção do câncer de mama, já que uma alimentação saudável e balanceada fornece a quantidade adequada de nutrientes que nosso organismo requer. Contudo, no caso dos veganos, é necessário avaliação individualizada, principalmente com relação a vitamina B12, que é o único nutriente que realmente não é possível alcançar retirando todos os alimentos de origem animal. E ainda assim, outros suplementos podem ser necessários a depender das necessidades do indivíduo, sempre com o respaldo de um médico ou nutricionista, é claro.
– No caso do paciente com câncer de mama, a depender da estratégia utilizada pela equipe multiprofissional que acompanha o caso, alguns suplementos podem ser administrados para a melhora do quadro. Para dar um exemplo prático, a Coenzima Q10 (CoQ10 ou Ubiquinona) vem sendo administrada como suplemento dietético aliada a outros medicamentos em diferentes situações clínicas, sendo que dentro da prática clínica oncológica, tem sido muito investigada tendo em vista que as principais indicações do seu uso têm sido prevenção, melhora da eficácia da terapia e controle dos efeitos adversos das medicações – reforçou Luna.
A nutricionista preparou para o Eu Atleta uma dieta baseada no veganismo para pessoas em tratamento de câncer de mama:
Cardápio
Café da manhã:
Cuscuz com berinjela — Foto: Istock Getty Images
Cuscuz com berinjela
– Rendimento: 12 porções
2 xícaras de chá de cuscuz marroquino
1 xícara de chá de água morna
1 xícara de chá de azeite de oliva
2 colheres de chá rasas de sal
1 berinjela cortada em cubos pequenos
1 colher de sopa de manjericão picado
1 cenoura média cortada em cubos pequenos
½ xícara de chá de nozes picada
Preparação
1. Hidrate o cuscuz com a água morna, acrescente 1 colher de chá de azeite e o sal, misture bem e deixe hidratar por 30 minutos.
2. Em uma panela, refogue a berinjela com ¼ de xícara de chá de azeite deixando al dente, adicione o manjericão e misture. Coloque em um recipiente e reserve.
3. Adicione os legumes refogados ao cuscuz hidratado, as nozes e misture bem para incorporar todos os ingredientes e sirva.
Benefícios: O azeite de oliva é fonte de ômega-3, que como vimos, auxilia no impedimento da proliferação celular em linhagens de células cancerígenas do tecido mamário. Além disso, a berinjela é antioxidante, anti-inflamatória, rica em proteínas, cálcio, fósforo, ferro, potássio e vitaminas A, C e do complexo B, sendo importante aliada ao bom funcionamento das funções vitais, auxiliando principalmente na prevenção do câncer e estimulação do sistema imunológico.
Almoço:
Espaguete de pupunha com ervas
espaguete de pupunha — Foto: Mariana @cozinhaequilibrada
– Rendimento: 2 porções
Ingredientes
– 200 g de palmito pupunha fresco
– 4 tomates médios – 600g
– 2 colheres (sopa) de azeite de oliva espanhol – 20g
– ½ xícara (chá) de ervas frescas (salsinha, manjericão e cebolinha-verde) picadas – 20g
– 2 colheres (chá) de gengibre ralado – 4g
– 2 colheres (chá) de pimenta dedo-de-moça em pedaços bem pequenos
– 4g sal rosa e pimenta-do-reino moída na hora à gosto
Preparação
1. Lave o palmito pupunha, parta ao meio no sentido do comprimento e corte em fios finos como se fosse espaguete. Elimine os pedúnculos dos tomates, parta-os ao meio e descarte as sementes.
2. Pique a polpa em pedaços pequenos. Coloque em uma panela os tomates, a metade do azeite de oliva, as ervas, o sal e a pimenta-do-reino.
3. Leve ao fogo e refogue por 5 minutos. Retire do fogo e reserve.
4. Em uma panela com 1 litro de água fervente, adicione o palmito pupunha, o gengibre, a pimenta-dedo-de-moça e o sal. Deixe cozinhar por 3 minutos ou até ficar al dente.
5. Retire do fogo e escorra a água.
Montagem
– Arrume o palmito pupunha nos pratos, regue com o azeite de oliva restante e sirva com o molho de tomate. Decore com manjericão.
Benefícios: A cebolinha, por exemplo, possui dialilssufeto, um fitoquímico que demonstrou inibir significativamente vários tipos de câncer, dentre os quais está o mamário, através da excreção de produtos carcinogênicos. O tomate, por sua vez, possui licopeno, um pigmento carotenoide e fotoquímico com ação antioxidante potente, capaz de reduzir a lesão oxidativa do DNA. E com relação a capsaicina, princípio ativo mais importante da pimenta, possui atividade anti-inflamatória e analgésica, podendo ser utilizada para o tratamento de dores causadas por doenças reumáticas, sendo que composto também tem efeito antioxidante e protetor do sistema cardiovascular, ajudando na prevenção de diversos tipos de cânceres, pois reduz a proliferação e induz a apoptose em células cancerígenas.
Lanche da tarde:
Cracker de linhaça
Crackers biscoitos linhaça sementes — Foto: Istock Getty Images
Rendimento: 8 porções
– 200g de farinha de linhaça (pode ser dourada ou castanha)
– 100-150 ml de água
– 1/2 colher de chá de sal fino
– 1 colher de chá de ervas da provence
– 1 colher de chá de alho em pó
Preparação
1. Ligue o forno a 180ºC.
2. Numa tigela misture a farinha de linhaça com o sal e caso junte ervas, ou alho ou canela, junte também. Misture tudo.
3. Comece por juntar 100ml de água, mexa com a colher de pau e vá juntando mais água aos pouquinhos se achar necessário. A massa deve ficar fácil de estender, nem demasiado mole nem demasiado seca.
4. Deixe repousar 10 minutos.
5. Coloque a massa entre 2 folhas de papel vegetal grandes, e com o rolo da massa a estenda até estar bastante fininha, quanto mais fina, mais crocantes serão as crackers.
6. Retire com cuidado o papel de cima e coloque o de baixo (juntamente com a massa) num tabuleiro grande. Faça cortes na massa em forma de quadrado ou rectângulo.
7. Leve ao forno durante 30-40 minutos.
8. Naturalmente as crackers das pontas ficarão prontas mais rapidamente, retire-as e leve de novo o tabuleiro ao forno até as do centro estarem estaladiças.
9. Deixe arrefecer e guarde num recipiente bem fechado caso sobre alguma.
Benefícios: A linhaça possui lignanas, compostos macromoleculares que atuam na redução da ação proliferativa de linhagens de células mamárias cancerígenas sensíveis ao estrogênio e desempenham papel antioxidante, atuando na proliferação da vascularização de células endoteliais e na angiogênese. O alho também se mostra eficaz contra o cancro de mama, especialmente devido a um composto denominado sulfureto de dialilo (DADS).
Jantar:
Sopa de ervilha com brócolis
– Rendimento: 2 porções
Ingredientes
– 2 conchas M de ervilha cozida = 300g
– 4 xícaras cogumelos refogados =400g (adicionar depois de pronto)
– 1 ½ xíc. brócolis cozido = 150g
– 2 dentes de alho
– cebola à gosto
– alecrim a gosto
– Sal
– Pimenta
Preparação
– Bata todos os ingredientes no liquidificador. Dica: reserve ½ xícara de brócolis para colocar após bater os ingredientes, assim, é possível aproveitar melhor os nutrientes deste vegetal!
Benefícios: O brócolis é considerado um alimento quimiopreventivo pois é rico em glicosinolatos, que após a ingestão, se transformam em sulforafano,um dos agentes quimiopreventivos mais potentes que agem dentro das células, e em Indol-3-Carbinol, fitonutriente que funciona como antitumoral, anti-inflamatório, antineoplásica e antioxidante, que pode alterar o metabolismo de estrogênio, e aumentar a razão 2/16-hidroxiestrógeno, determinante do risco de câncer de mama, uma vez que maiores concentrações de 2-hidroxiestrona são encontradas em mulheres com consumo abundante destes vegetais, enquanto portadoras de câncer de mama têm elevadas concentrações de 16-a-hidroxiestrona. Já o alho e a cebola são alimentos muito utilizados diariamente, e auxiliam na eliminação de toxinas que favorecem o desenvolvimento de doenças degenerativas, como o câncer.
– O cuidado com a quantidade de comida é essencial mesmo para aqueles que não estão em tratamento de câncer ou de algum outro tipo de doença. Isso porque as necessidades são sempre individuais, e como vimos, é de suma importância fornecemos ao nosso corpo todos os nutrientes nas quantidades adequadas para que tenhamos condições de evitar os danos celulares advindos do envelhecimento ou de processos que estimulam a formação de células cancerígenas – destacou a especialista.
Além disso, para os pacientes em tratamento, a nutricionista lembra que a manutenção do peso é de suma importância. Ou seja, o acompanhamento com um nutricionista é indispensável para que ele consiga continuar se alimentando da forma mais prazerosa possível, de acordo também com sua condição socioeconômica, gostos e preferências, adequando o plano alimentar de acordo com o momento e a sua aceitação pelos alimentos.
Por: Rebeca Letieri
Fonte: Luna Azevedo, nutricionista
Transcrito: https://ge.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/cardapio-vegano-para-pacientes-com-cancer-de-mama.ghtml