Câncer de mama: antioxidantes devem vir de alimentos ou suplementos?
Outubro Rosa: médico endocrinologista avalia estudos sobre o uso de suplementação dietética no tratamento da doença e explica por que a alimentação é o melhor caminho
Alguns estudos demonstram benefícios do estilo de vida saudável e da prática regular dos exercícios físicos na prevenção e no tratamento de pacientes com câncer de mama. No entanto, existe um grande questionamento sobre eficácia e segurança dos suplementos, principalmente os antioxidantes, que possam ajudar no tratamento dessas pacientes. De acordo com a nutricionista Nathalia Guimarães, “a primeira regra para obter vitaminas e minerais durante o tratamento do câncer é sempre garantir uma boa alimentação rica em macro e micronutrientes”. Infelizmente, no entanto, a conduta nutricional é negligenciada em pacientes que estão em tratamento do câncer.
Em 2008, foi observado em um estudo publicado no Jornal of Clinical Oncology que de 64% a 81% dos pacientes com câncer estavam usando um suplemento vitamínico ou mineral (detalhe que 14% a 32% começaram a tomar após o diagnóstico de câncer). Em análise de outros estudos, uma das principais razões pelas quais os oncologistas geralmente não recomendam suplementos vitamínicos e minerais ou fórmulas antioxidantes é porque eles podem neutralizar os efeitos da quimioterapia ou radioterapia. Essa teoria foi apoiada por um estudo publicado em janeiro de 2019 no The American Journal of Clinical Nutrition, que aponta que mulheres na pós-menopausa que suplementavam antioxidantes (selênio, zinco, vitamina C, vitamina E e vitamina A) durante a quimioterapia e radioterapia para câncer de mama tiveram pior sobrevida livre de recorrência e maior risco de mortalidade (64% a mais).
É possível que os alimentos não tenham o efeito adverso dos suplementos por possuírem fitoquímicos além dos antioxidantes, responsáveis pelas propriedades de prevenção do câncer — Foto: Eu Atleta | Arte | foto: Getty Image
Sempre existiram dúvidas se esses suplementos antioxidantes poderiam reduzir o efeito citotóxico da quimioterapia, uma vez que uma das consequências destas drogas é justamente a produção de radicais livres de oxigênio para destruir as células malignas. Vale lembrar que os radicais livres em nossos corpos podem danificar o DNA de nossas células (dano mutacional que pode levar ao câncer).
Outro detalhe é que antioxidantes produzidos naturalmente por nosso organismo e ingeridos em nossas dietas funcionam neutralizando essencialmente esses radicais livres e prevenindo danos oxidativos. Será que eles poderiam proteger as células cancerígenas contra possíveis danos causados pela quimioterapia?
Em outro estudo publicado em dezembro de 2019 no Journal of Clinical Oncology, pesquisadores de vários centros americanos (e do Canadá) conduziram a avaliação de diferentes esquemas de quimioterapia com ciclofosfamida, doxorrubicina e paclitaxel (drogas comumente utilizadas em câncer de mama) em um projeto chamado: Diet, Exercise, Lifestyle and Cancer Prognosis (DELCaP) study, e coletaram dados sobre o uso de suplementos e complexos vitamínicos no início e durante o tratamento de cerca de 1.134 pacientes.
Pesquisadores relataram evidências de que pacientes que fizeram o uso de qualquer suplemento com antioxidantes (vitaminas A, C, E, carotenoide e coenzima Q10) no início ou durante a quimioterapia tiveram um risco de recorrência 41% maior e ainda de 95% de morte; e ainda concluíram que precisa haver cautela no uso de suplementos durante a quimio, com exceção de multivitamínicos — já que as pacientes que receberam multivitamínicos não tiveram uma sobrevida global inferior.
Em geral, a regra para obter vitaminas e minerais durante o tratamento do câncer é, em primeiro lugar, o alimento. Teorias foram propostas para explicar isso, talvez existam fitoquímicos nos alimentos, além dos antioxidantes, responsáveis pelas propriedades de prevenção do câncer. Além disso, poderíamos sugerir que o recebimento de um antioxidante (suplemento) como suplemento poderia resultar na diminuição da ação de outro antioxidante importante produzido pelo organismo. Vale ressaltar que pacientes com câncer devem evitar autosuplementação e seguir dietas sem orientação do médico e do nutricionista.
Por: Guilherme Renke
Fonte: Guilherme Renke, Médico endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e Médico do Esporte Titular da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte
Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/post/2020/10/29/cancer-de-mama-antioxidantes-devem-vir-de-alimentos-ou-suplementos.ghtml