Cada cigarro diário aumenta em até 33% o risco de contrair doenças
No Dia Nacional do Combate ao Fumo, médicos pneumologistas explicam novo estudo internacional e dão dicas para largar o tabagismo: atividade física é uma das aliadas na luta para parar de fumar
Quem já tentou, com sucesso ou não, sabe a dificuldade que é parar de fumar e como é importante encontrar ferramentas e mecanismos que ajudem nessa árdua tarefa. Praticar atividades físicas é uma dessas ferramentas, e das mais efetivas na luta contra o vício em cigarros. Que é uma questão de saúde pública: segundo estudo internacional comandado por pesquisadores da University of South Australia e publicado no fim de julho, a cada cigarro fumado por dia, aumenta-se em de 5% a 33% o risco de se contrair doenças como enfisema pulmonar e doenças cardíacas. Outro estudo, de maio, da Universidade da Califórnia de São Francisco, fez uma análise com 11.590 pacientes com Covid-19: 29,8% dos fumantes do grupo ficaram em estado grave, enquanto apenas 17,6% dos não fumantes chegaram a esse ponto, demonstrando que o tabagismo é fator de risco para agravamento do coronavírus. Por isso, o EU Atleta traz dicas de especialistas para os primeiros passos na hora de largar o fumo. E o primeiro deles, de acordo com o médico pneumologista Rodrigo Santiago, tem de ser dado pelo próprio indivíduo.
– O primeiro passo para a pessoa parar de fumar é ela querer parar de fumar. A atividade física pode auxiliar porque ela libera mediadores hormonais que dão a sensação de saciedade e felicidade. Ao tentar sair da ação da nicotina, a gente pode melhorar nossos receptores cerebrais por meio da atividade física, mas o passo inicial tem de ser dado pela própria pessoa – insiste o médico, especialista pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
Não é fácil. O tabaco é uma substância psicoativa que atua no sistema nervoso central, e sua ausência pode causar desconforto físico e mental. Para piorar, a nicotina, um de seus principais componentes, leva de sete a 19 segundos para chegar ao cérebro, atuando de forma rápida no organismo e levando à síndrome de abstinência.
É verdade que ano após ano, o número de fumantes no Brasil vem diminuindo, como apontam os dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde. Em 2019, 9,8% dos brasileiros afirmaram ter o hábito de fumar, bem menos que os 15,6% de 2006, ano da primeira edição da pesquisa. No entanto, os números de mortes e doenças relacionadas ao fumo aqui no Brasil continuam em alta, sendo quase 200 mil óbitos por ano, e o tabagismo ainda é a principal causa de câncer de pulmão.
O primeiro passo para a pessoa parar de fumar é ela querer parar de fumar — Foto: Internet
Dicas para quem deseja largar o cigarro:
1. Pratique atividade física. O exercício libera endorfina, noradrenalina e cortisol, que aumentam a sensação de prazer e podem ajudar a reduzir o desejo por nicotina, melhorando os sintomas de abstinência, como inquietação, fome e ganho de peso. Mas é importante procurar um médico antes, para exames clínicos e laboratoriais que apontem a melhor modalidade e a intensidade correta, pra não haver risco para a saúde.
2. Evite o consumo de bebidas alcoólicas e contato com outros fumantes no primeiro mês; você estará mais propenso a fumar neste período.
3. Peça aos amigos fumantes para não te oferecerem cigarro e não deixe cigarros ao seu alcance em casa;
4. Avise a familiares e amigos que é possível que você esteja mais irritado nesse primeiro mês;
5. Procure escovar os dentes logo após as refeições, driblando a vontade de fumar;
6. Procure ocupar a cabeça com outras ações nos momentos de crise de abstinência ao tabaco; palavras cruzadas, passear com o cachorro, comer uma fruta e telefonar para alguém são boas alternativas.
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Atividade física
Para quem decide parar de fumar, a primeira pergunta que vem à mente é se deve largar aos poucos ou de uma vez? Se você decide usar a atividade física como aliada nesse processo, é preciso analisar quais são as consequências para a saúde quando se une o tabagismo e a prática física. De acordo com André Moro, o principal risco é o infarto, já que a capacidade pulmonar e cardiovascular é comprometida e a pessoa pode sofrer doenças coronarianas durante a prática. Portanto, torna-se essencial uma avaliação médica antes iniciar qualquer tipo de atividade física neste estágio.
– Caminhar, correr ou qualquer outro exercício físico libera uma substância chamada endorfina, que nos dá a sensação de prazer e faz com que a dependência diminua. Além disso, combate a ansiedade e o mau humor associados à abstinência, e pode ser uma ”distração” eficaz contra o desejo de fumar. É possível conciliar o tabagismo com uma vida ativa fisicamente; porém, é muito importante salientar que, previamente à realização de uma rotina de exercícios, seja feita uma avaliação das condições cardíacas e respiratórias do indivíduo, a fim de se evitar fadiga, dores no peito e até desencadeamento de crises de falta de ar que podem ocorrer devido ao exercício – comenta o cardiologista e médico do esporte.
Outro problema é a fumaça após a atividade física. Por ser inspirada fortemente devido a necessidade de reposição do oxigênio após os exercícios, ainda mais substâncias são levadas ao pulmão. Há uma série de riscos menores, mas todos apontam para um denominador comum: quando se é fumante, é preciso fazer um check-up com o médico para ver se a pessoa está apta a praticar exercícios físicos.
Para tabagistas que não vão largar o vício e querem fazer alguma prática do gênero, é recomendado não fumar ao menos duas horas antes e duas horas depois dos exercícios. Isso aumenta a capacidade pulmonar e diminui os riscos citados acima, mas ainda não é o ideal: a melhor solução continua sendo largar o fumo. Apenas ao parar é que o rendimento será alto, além de baixar muito a possibilidade de sofrer com problemas durante a prática.
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Na luta contra o vício, é preciso entender também o papel da dependência física: enquanto a nicotina sai em 48 horas do organismo; a vontade de acender um cigarro continua. André Moro, apesar de não acreditar na existência de um padrão na luta contra a dependência do fumo, mas num tratamento personalizado, pontua que um dos melhores objetivos é priorizar a substituição de hábitos, como fumar ao acordar, após o almoço ou com uma bebida alcoólica, por outros que controlem a ansiedade.
– Não há um método ‘’perfeito’’, ou ‘’melhor’’ método. O pilar principal do tratamento deve ser a abordagem comportamental, devendo o paciente ser atendido como um todo. Também deve ser avaliado o grau de dependência do cigarro. A terapia com medicamentos pode incluir os chicletes ou adesivos de nicotina e, em alguns casos, os antidepressivos. O fumante precisa aprender a viver sem ter que usar o cigarro, e estar motivado para abandonar o hábito. O apoio da família, de amigos e, na maioria das vezes, de um psicólogo é fundamental. Devemos sempre motivar o paciente encontrar outras formas de prazer, incluindo a atividade física, seja ela qual – afirma o cardiologista e médico do esporte.
De acordo com o pneumologista Rodrigo Santiago, reconhecer o próprio vício é tarefa fundamental no processo e, por isso, realizar o Teste de Fagerström, que mede o grau de dependência à nicotina, é uma boa primeira etapa.
– Para reconhecer o próprio vício, é preciso atenção: quando você não consegue deixar de fumar antes ou após realizar tarefas ou atividades no dia a dia como, por exemplo, logo após acordar ou almoçar, antes ou após situações estressantes, quando decide apenas ‘relaxar’, enfim, quando começa existir ligação de momentos da sua vida com o ato de fumar, é preciso ter em mente que talvez você já esteja dependente – destaca o pneumologista.
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Teste de Fagerström — Foto: Reprodrução/Instagram
O estudo australiano
Para chegar aos resultados do estudo, os pesquisadores australianos analisaram dados hospitalares e estatísticas de mortalidade de 152.483 fumantes e 185.002 não fumantes no Biobanco do Reino Unido, verificando como o tabagismo mais intenso afeta essa relação. Ao associar o tabagismo com 28 problemas de saúde selecionados, foi possível observar um aumento de 17 vezes nos casos de enfisema pulmonar, de 8 vezes na aterosclerose (artérias obstruídas) e de 6,5 na incidência de câncer de pulmão, sendo que o risco de doenças respiratórias, cânceres e doenças cardiovasculares aumentava a cada cigarro fumado por dia. O cardiologista e médico do esporte André Moro explica por que os produtos derivados do tabaco prejudicam não só o sistema respiratório, mas também o sistema cardiovascular, além de apontar os problemas comuns no cotidiano decorrentes do fumo excessivo.
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não só o cigarro, mas também qualquer derivado do tabaco (charuto, cachimbo, narguilé etc), são grandes inimigos do coração e dos pulmões, por agredir a camada interna dos vasos, chamada endotélio, causando uma doença conhecida como aterosclerose, que provoca o infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral, conhecido como ‘’derrame’’. Além disso, interfere na produção de uma substância protetora das artérias chamada óxido nítrico, tornando-as mais propensas ao acúmulo de gorduras. Os impactos no dia a dia são inúmeros, como cansaço, dificuldade respiratória, fadiga, indisposição, além de sintomas como tosse crônica, dores no peito e palpitações. Não existe quantidade ‘’segura’’ para uso do tabaco: mesmo o usuário ocasional pode ter inúmeros problemas. Não posso deixar de relatar os inúmeros tipos de câncer causados pelo cigarro, como de pulmão, boca, faringe, esôfago, fígado, bexiga, leucemias, entre outros – pontua o cardiologista e médico do esporte.
De acordo ainda com a pesquisa da University of South Australia, além da alta relação entre tabagismo pesado e enfisema, doenças cardíacas, pneumonia e câncer respiratório, os pesquisadores também encontraram associações com outras doenças respiratórias, insuficiência renal, septicemia, doenças oculares e complicações de cirurgia ou procedimentos médicos. Segundo a pesquisadora-chefe, professora Elina Hypponen, o tabagismo é a principal causa evitável de morte em todo o mundo, e os fumantes normalmente morrem 10 a 20 anos mais cedo do que os não fumantes, indo ao encontro do que é apontado também pela OMS (Organização Mundial da Saúde). A dificuldade em largar o fumo está intimamente ligada à nicotina, responsável pela dependência e por ter um caráter psicoativo, isto é, dá a sensação de prazer rapidamente, levando ao aumento do uso e à dependência. Essa sensação instantânea de prazer que a nicotina oferece se deve à liberação de neurotransmissores que, para continuarem a serem liberados, necessitam de doses cada vez maiores, como explica o pneumologista Rodrigo Santiago.
– O grande problema do fumo do ponto de vista da dependência se chama nicotina. Ela tem efeitos cardiovasculares conhecidos, mas sua principal ação é ocasionar a dependência química. Como ela é responsável pelo vício, a pessoa que faz uso do cigarro, uma droga lícita e aceitável socialmente, acaba perdendo o controle do consumo, além de atuar como um “alívio” em situações de ansiedade e estresse – afirma Rodrigo, algo que cresceu durante a pandemia.
Fumantes passivos
Segundo dados do Ministério da Saúde, no ano de 2019, 17.972 brasileiros morreram em decorrência do fumo passivo. Além disso, os “fumantes passivos” apresentam 30% maior risco para câncer de pulmão e 24% para infarto em comparação aos não fumantes. Isso acontece porque a fumaça do tabaco contém mais de 7.000 compostos e substâncias químicas, e pelo menos 69 destes compostos e substâncias podem provocar câncer. A fumaça é uma mistura de milhares de substâncias tóxicas diferentes que se constituem de duas fases fundamentais: a particulada e a gasosa. A fase gasosa é composta, entre outros, por monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído, acetaldeído, acroleína. A fase particulada contém nicotina e alcatrão. Assim, o fumante deve ter conhecimento de que a fumaça do seu cigarro ou de outro produto derivado do tabaco pode causar doenças nas pessoas com quem convive em casa, no trabalho e em demais espaços coletivos, como ressalta o cardiologista André Moro.
– Não há nível seguro de exposição à fumaça do cigarro, portanto, o fumante passivo também sofre por inalá-la. Problemas como asma, rinite, bronquite, além de infecções respiratórias em crianças de várias idades são muito comuns. Existem algumas evidências que mostram que o fumante passivo tem duas vezes mais riscos para vários tipos de câncer e doenças cardiovasculares – afirma André.
O pneumologista Rodrigo Santiago destaca que o cuidado deve ser redobrado em casos onde crianças inalam a fumaça.
– É preciso destacar também que o fumo passivo por crianças pode ser ainda mais prejudicial. Os bebês expostos à fumaça do cigarro, por exemplo, têm de cinco a seis vezes mais riscos para síndrome de morte súbita infantil, sendo que as crianças cronicamente expostas têm muito mais chances de infecção de ouvido (otite), redução do crescimento e problemas das funções pulmonares, podendo levar até mesmo ao desenvolvimento da asma – conta Rodrigo.
Outra forma do consumo se dá por meio de produtos de tabaco que não produzem fumaça, como o tabaco mascado. Eles também estão associados ou constituem fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de cabeça, pescoço, esôfago e pâncreas, assim como para muitas patologias buco-dentais, como aponta André Moro.
– Não há evidência científica que mostre que o consumo do tabaco sem o fumo, apesar de agredir menos o sistema respiratório, não prejudique o organismo. A queima do tabaco produz muitas substâncias cancerígenas, como o monóxido de carbono, por exemplo. Mesmo não queimando, o tabaco possui substâncias como nitrosaminas e hidrocarbonetos aromáticos, além de metais tóxicos como arsênio, chumbo, níquel e mercúrio, que causam câncer de cavidade oral, esôfago e pâncreas. Não podemos esquecer das graves lesões na boca e o risco aumentado de ataques cardíacos que essas pessoas têm – pontua o cardiologista e médico do esporte.
Por: Luís Ricardo, Para o Eu Atleta — Bauru, SP
Fonte: Rodrigo Santiago, pneumologista médico, especialista pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT)
André Moro, cardiologista e médico do esporte
André Moro, cardiologista
OMS (Organização Mundial da Saúde)
Ministério da Saúde
Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/cada-cigarro-diario-aumenta-em-ate-33percent-o-risco-de-contrair-doencas.ghtml