Beber durante as refeições faz mal? Compare efeitos de cada bebida
Uma dúvida bastante frequente para quem busca ter hábitos saudáveis é se ingerir líquidos durante as refeições pode fazer mal. Não existem evidências científicas que relatem se esse hábito realmente causa algum dano à saúde. Mas, o tipo de bebida e a quantidade ingerida desses líquidos podem atrapalhar a digestão e a sensação de saciedade, aumentando o consumo de alimentos.
“O líquido dilui os sucos gástricos e enzimas responsáveis pela digestão correta dos alimentos. Portanto, sintomas como indigestão, distensão abdominal e queimação podem ocorrer quando optamos por beber durante as refeições”, afirma Ariane Gabriel, nutricionista da Santa Casa de São José dos Campos (SP).
O excesso de líquido no estômago, junto com o alimento mal digerido, também causa um retardo na passagem do alimento do estômago para o intestino, o que dá a sensação de estômago cheio, além de arrotos e flatulência.
Outro problema relatado pelos especialistas consultados pelo VivaBem é que esse costume atrapalha a percepção de fome e saciedade. Além disso, é bastante frequente a escolha de bebidas com calorias vazias e ricas em açúcar e até bebidas gaseificadas. O consumo desses tipos de líquidos eleva o aporte calórico das refeições, o que acaba sendo prejudicial à saúde, uma vez que favorece o desenvolvimento da obesidade e doenças como diabetes.
Por fim, ainda há uma possibilidade de a digestão dos nutrientes não ser completa. Afinal, ao ingerir mais do que um copo médio de 200 ml, o líquido torna o alimento em uma pasta inteira que é empurrada para o estômago, e o ideal é que os itens fossem triturados em partículas menores pelos dentes. Isso aumenta o trabalho gástrico e prejudica a capacidade de absorver vitaminas e minerais.
Por isso, o ideal é ingerir os líquidos entre os intervalos das refeições. Mas, se você é o tipo de pessoa que não dispensa beber durante o almoço ou jantar, limite o consumo de líquidos a 200 ml e evite esse hábito sempre que possível. A seguir, compare algumas bebidas que costumam acompanhar as refeições antes de fazer a sua escolha.
Água
Algumas pessoas, principalmente quem apresenta pouca salivação, relatam dificuldade em fazer as refeições sem um pouco de líquido. Nesses casos, consumir uma quantidade pequena de água pode fazer bem. Mas, em excesso, a água promove a diluição dos sucos gástricos e enzimas responsáveis pela digestão correta dos alimentos. Por isso, beba pouca água durante a refeição e mastigue mais os alimentos, pois isso ajuda a aumentar a salivação.
Sucos naturais
É possível também optar por sucos naturais sem adição de açúcar. Vale escolher opções digestivas e ricas em vitamina C como de abacaxi com hortelã, laranja com gengibre e acerola com maracujá. Sucos de frutas ricas em água como melão, melancia e mexerica também são indicados.
Para quem não tiver muito tempo, a dica é investir em polpas de frutas congeladas. Isso porque elas são compostas apenas pela fruta e água e isentas de açúcar e conservantes. O ideal é optar pela bebida zero ou com a adição de adoçantes naturais.
“Vale lembrar que ao prepararmos um suco utilizamos grande quantidade de frutas, aumentando assim seu valor calórico e impactando a glicemia. E durante esse processo também se perde parte das fibras”, explica Thais Sarian, nutricionista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Sucos de caixinha
Apesar de práticos, a maioria dos sucos industrializados presentes no mercado possuem em sua composição uma quantidade elevada de açúcar e aditivos químicos, responsáveis pela sua conservação. Além disso, alguns possuem quase nada de fruta.
“Além da alta concentração de açúcar ser prejudicial à saúde, sabe-se que os aditivos são, muitas vezes, associados com alergias alimentares e processos inflamatórios. Por isso, é desaconselhável o consumo frequente desses sucos”, relata Gabriel.
Mas, se for comprar esse item, não se esqueça de olhar o rótulo, verificando qual é a porcentagem de suco (polpa da fruta). Fique longe daqueles onde o açúcar está no topo da lista dos ingredientes.
Refrigerantes.
O ideal é evitar o consumo de refrigerantes em qualquer momento do dia. Isso porque essas bebidas possuem alta concentração de açúcar. E por terem valor calórico elevado não trazem benefícios à saúde, prejudicam a digestão e o apetite, além de aumentar o aparecimento de sintomas como refluxo, azia, úlceras e distensão abdominal. Além disso, promove aumento de peso e riscos de doenças como diabetes.
E não adianta substituir a versão comum pela light ou zero. Os refrigerantes possuem corantes, conservantes e outros aditivos que fazem mal para a saúde. Podem causar problemas de hipertensão, prejudicar o fígado, desregular o apetite e até mesmo causar câncer a longo prazo.
“O gás contido nos refrigerantes causa a sensação de desconforto e estufamento. Portanto, o consumo de refrigerantes durante ou entre as refeições não é recomendado para ninguém, principalmente para as crianças. O seu consumo deve ser esporádico”, afirma Thelma Fernandes Feltrin, nutricionista e professora do curso de nutrição da Uninove.
Chás e infusões.
Beber chás durante as refeições pode ser uma boa opção, já que são mais naturais e ainda auxiliam no processo de digestão dos alimentos. Eles podem ser consumidos como bebida gelada ou quente durante as refeições.
Como opções de chá gelado, opte pelos batidos com frutas sem adição de açúcar, como hortelã com abacaxi, capim-cidreira com laranja, mate com limão e erva-doce com acerola. Já opções quentes e que ajudam no processo de digestão temos chá branco, erva-doce e alecrim, por exemplo.
Alguns chás prontos, comercializados na forma líquida, também possuem conservantes, corantes e açúcar na composição. Mas, se a infusão for preparada em casa, utilizando uma erva (flores, frutos, folhas) desidratada, há maior garantia do que está sendo ingerido.
“Há chás com propriedades digestivas, com flavonoides e outras substâncias com ação específica na digestão. Já os chás termogênicos com cafeína (como o chá verde e mate), por exemplo, podem atrapalhar a digestão e o esvaziamento gástrico”, destaca Marcelo Cássio de Souza, nutrólogo do Hospital Moriah.
Sucos em pó
De acordo com os especialistas, o melhor é passar bem longe desse tipo de bebida. Os sucos em pó são alimentos processados e contêm uma quantidade de aproximadamente 1% de suco, além de uma mistura de açúcar com corantes e conservantes.
A quantidade elevada de aditivos químicos adicionados a esses tipos de produtos é bastante nociva para a saúde, já que muitos deles não podem ser metabolizados pelo corpo, aumentando riscos de doenças alérgicas, por exemplo. Sem contar que a presença de açúcar em excesso, misturas de adoçantes artificiais e sódio podem representar um risco para quem é hipertenso ou tem diabetes. Sendo assim, devem ser evitados, pois o consumo regular não traz benefícios.
Água de coco
Esse tipo de bebida é uma boa opção, se for natural, extraída do coco e consumida no mesmo dia. O melhor é comprar o coco verde e extrair a água. Já as versões industrializadas possuem conservantes, além de muito açúcar. A água de coco é uma boa opção de hidratação, porém, em grandes quantidades pode interferir na glicemia.
Leite
O leite é um alimento importante para o fornecimento de cálcio na nossa alimentação. Apesar de menos comum, algumas pessoas podem beber leite durante as refeições, mas a prática nao é recomendada. Isso porque essa combinação pode atrapalhar a absorção de vitaminas e minerais.
“O leite pode retardar o esvaziamento gástrico pela presença de proteínas, gorduras e lactose, agravando sintomas de pacientes com esofagite e gastrite. E o cálcio presente no leite pode prejudicar a absorção do ferro presente em vegetais, leguminosas e carnes. Sendo assim, o organismo não tem absorção integral dos nutrientes ingeridos”, afirma Renata Bortoluzzo, nutricionista do Núcleo Paulista de Obesidade e mestre em Saúde Pública.
Por isso, o leite deve ser consumido em refeições mais leves, como café da manhã ou lanche da tarde.
Bebidas alcoólicas
As bebidas alcoólicas sempre devem ser consumidas com moderação. Quanto maior o teor alcoólico, menor deve ser a dose ingerida. Lembrando que o álcool em si, possui mais calorias que o açúcar e contém “calorias vazias”, ou seja, sem valor nutricional. Por isso, quem consome as bebidas alcoólicas juntamente com as refeições pode contribuir com o ganho de peso. E quem está alcoolizado pode perder a noção de quanto comeu, o que aumenta a quantidade de alimento ingerida.
Além disso, a alta ingestão de álcool também pode sobrecarregar o fígado, diminuindo sua capacidade de filtrar toxinas prejudiciais ao organismo. Algumas pessoas sentem que o consumo de álcool nas refeições diminui a salivação, dificultando a digestão dos alimentos.
Esse hábito pode engordar?
Quem toma muito líquido durante as refeições pode aumentar o peso ao consumir bebidas açucaradas. Além disso, esses líquidos atrapalham o mecanismo de saciedade e o controle da fome. Isso ocorre porque as bebidas causam uma distensão abdominal no estômago, o que dá a impressão de que cabem mais alimentos.
Por isso, a recomendação é, sempre que possível, beber líquidos antes ou depois das refeições. Essa é a melhor forma de ter mais saciedade e evitar comer em excesso. “Em síntese, não é proibido ingerir líquidos durante as refeições. Mas devemos evitar refrigerantes, sucos em pó ou artificiais. Se necessário, prefira um copo pequeno de água para acompanhar o almoço e o jantar”, completa Feltrin.
Revisão técnica: Thelma Fernandes Feltrin
Por: Samantha Cerquetani
Colaboração para o VivaBem
Fonte: Thais Sarian, nutricionista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
Ariane Gabriel, nutricionista da Santa Casa de São José dos Campos (SP)
Thelma Fernandes Feltrin, nutricionista e professora do curso de nutrição da Uninove
Marcelo Cássio de Souza, nutrólogo do Hospital Moriah
Renata Bortoluzzo, nutricionista do Núcleo Paulista de Obesidade e mestre em Saúde Pública
Transcrito: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/03/09/beber-durante-as-refeicoes-faz-mal-compare-riscos-de-cada-bebida.htm