Alzheimer: atividade física é importante fator de proteção para demência
Novo estudo apresentado este mês na reunião anual da American Psychological Association encontrou menos marcas associadas ao Alzheimer nos cérebros de idosos que fazem exercícios
O Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença de Alzheimer, celebrado neste sábado (21/09), é uma data voltada para a divulgação em relação à doença neurodegenerativa. Estima-se que, no mundo, haja mais de 47 milhões de pessoas sofrendo com demência, e que mais de 50% delas tenham Alzheimer. Com o envelhecimento da população, a tendência é que esses números aumentem nos próximos anos. A doença é alvo de pesquisas em todo o mundo. Um novo estudo apresentado este mês na reunião anual da American Psychological Association reforçou o que trabalhos anteriores já têm ressaltado: que o exercício físico é um importante fator de proteção para a demência e, especialmente, para o Alzheimer.
O novo estudo encontrou menos marcas associadas ao Alzheimer nos cérebros de idosos que praticam atividades físicas. Isso porque a proteína beta-amilóide, encontrada na membrana gordurosa que envolve as células nervosas, costuma formar placas ao redor dos neurônios de pacientes que sofrem com a doença, numa relação que ainda está sendo estudada. O que a pesquisa revela é que o exercício físico previne a formação dessas placas.
– Segundo a teoria do depósito de beta-amilóide nos neurônios, ele seria um dos responsáveis pelo Alzheimer. A proteína se depositaria no cérebro e levaria à morte das células cerebrais. As pesquisas estão sendo feitas, mas não há ainda certeza de nada. O que a gente sabe é que as pessoas que fazem atividades físicas estão mais protegidas do que as sedentárias. Isso não significa que quem faz exercícios não vai ter Alzheimer, mas sim que ele melhora suas chances de não ter – explica a psiquiatra Rita Cecília Ferreira, do Programa de Terceira Idade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Rita destaca que a atividade física atua ainda no controle de problemas que afetam a saúde e, consequentemente, podem agravar os quadros de demência, como pressão arterial, colesterol, triglicerídeos e glicemia. O controle da pressão arterial é, inclusive, fundamental para retardar o surgimento da doença, segundo estudo do Instituto Nacional do Envelhecimento (National Institute on Aging), em Bethesda, Estados Unidos. Além disso, praticar exercícios é decisivo para amenizar sintomas típicos do Alzheimer, como depressão e ansiedade.
– A atividade física ajuda muito porque controla tanto os fatores de risco quanto alguns dos sintomas neuropsiquiátricos. A depressão e a ansiedade são sintomas que já costumam aparecer no início da doença – comenta a psiquiatra. – O exercício também melhora o metabolismo e as funções cardiovasculares, o que aumenta a oxigenação cerebral. A gente indica a atividade física porque os benefícios são tanto para a saúde emocional quanto a física.
A neuropsicóloga Elaine Di Sarno, especializada em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica e Terapia Cognitivo Comportamental, explica que a atividade física acelera também a produção do hormônio irisina, que teria a função de proteger o cérebro do comprometimento cognitivo.
– Mas é importante respeitar os limites do corpo do idoso e encontrar uma atividade que lhe dê prazer. Geralmente as caminhadas são muito indicadas – diz Elaine, que é pesquisadora e colaboradora do PROJESQ (Projeto Esquizofrenia) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Para Rita Cecília, é ainda difícil apontar apenas a irisina como a substância produzida pelo corpo que pode proteger o cérebro do Alzheimer. No entanto, o exercício libera, além da irisina, neurotransmissores como a serotonina, a dopamina e a endorfina, que afetam o humor e o bem-estar mental.
– A atividade física mobiliza uma série de hormônios e substâncias que, em conjunto, têm uma ação protetora. Mas a gente ainda sabe muito pouco sobre o papel desses hormônios em relação à demência – afirma Rita.
Benefícios do exercício sobre o Alzheimer:
1 .Função protetora dos neurônios: estudos indicam que quem faz atividade física previne o depósito da proteína beta-amilóide em torno das células nervosas;
2 .Libera hormônios e substâncias como irisina, dopamina, endorfina e serotonina, que em conjunto protegem o cérebro e agem sobre a saúde mental;
3.Tem efeito benéfico contra sintomas da demência, como depressão e ansiedade;
4.Controla fatores de risco, como pressão arterial, glicemia, colesterol e triglicerídeos;
5.Melhora o metabolismo e as funções cardiovasculares, o que aumenta a oxigenação cerebral.
Exercícios indicados
Caminhar cinco vezes por semana por meia hora é uma atividade altamente recomendada para qualquer pessoa, mas especialmente para idosos. Hidroginástica, natação, dança, musculação, corrida e outras atividades também são recomendadas.
– O importante é achar um exercício de que a pessoa goste, senão vira castigo – comenta Elaine. – O ideal é traçar estratégias individuais, de acordo com os interesse de cada um.
.Caminhada
.Corrida leve
.Musculação
.Hidroginástica
.Natação
.Dança
Para isso, Elaine recomenda que se faça um teste com um neuropsicólogo, que vai indicar que terapias e exercícios são indicados em cada caso. Nesse teste, avalia-se que questões estão mais comprometidas no paciente com Alzheimer. Entre as possibilidades, destacam-se sintomas como:
.Concentração;
.Atenção;
.Raciocínio;
.Memória, especialmente a de curto prazo;
.Tomada de decisão;
.Flexibilidade mental;
.Autocontrole.
– Além da atividade física, é importante que haja atividades de estimulação cognitiva. Tenho uma paciente que sempre foi muito ligada à música, à arte e à filosofia. Então o tratamento dela inclui tocar piano uma hora por dia, ouvir seus músicos favoritos, conversar sobre pintores e quadros. Ela tem 75 anos e anda esquecendo os nomes dos filhos e outras coisas. Então conversamos sobre isso e espalhamos post-its pela casa, com esses nomes e outras informações de que ela precisa. Além disso, ela faz caminhadas. Quando você caminha, você toma sol, que é importante para a vitamina D – exemplifica Elaine, que acredita em um trabalho conjunto que inclua psiquiatra, psicólogo, nutricionista, educador físico e terapeuta ocupacional.
A conjunção de atividades artísticas, físicas e intelectuais também é defendida por Rita Cecília. A psiquiatra lembra que quando se faz uma caminhada ou corrida, por exemplo, muda-se de ambiente e coloca-se o cérebro, mais que as pernas, em movimento.
– O ideal é a união de um tratamento não farmacológico, que inclui alimentação balanceada, exercícios e terapias que estimulem a cognição, com o tratamento farmacológico, com medicação para reduzir ou estabilizar, ao menos por um tempo, a progressão da doença – avalia a psiquiatra.
Por: Flávia Ribeiro — Rio de Janeiro
Fonte: Rita Cecília Ferreira,psiquiatra do Programa de Terceira Idade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Elaine Di Sarno,neuropsicóloga especializada em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica e Terapia Cognitivo Comportamental
Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/dia-mundial-do-alzheimer-atividade-fisica-e-fator-de-protecao-para-demencia.ghtml